Jussara Freire – 07/11/2022
Após a prisão de estudantes da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) membros de célula neonazista, diversas manifestações de apologia ao nazismo e ao fascismo começaram a aparecer em banheiros e paredes da universidade: no Centro de Ciências Jurídicas (CCJ), no Centro de Ciências da Saúde(CCS) e no Centro de Comunicação e Expressão (CCE).
O Centro Acadêmico XI de Fevereiro (CAXIF), do curso de Direito, convocou um ato dia 26 de outubro contra as manifestações neonazistas e misóginas no CCJ e no dia seguinte (27), foi encontrada uma carta repleta de expressões de ódio no Centro de Ensino, com ameaças, apoio ao presidente Jair Bolsonaro e assinatura da SS, sigla que faz referência à organização paramilitar do partido de Adolf Hitler, o Esquadrão de Proteção (Schutzstaffel).
A carta foi entregue à direção de Centro, que a entregou à Polícia Civil e não comunicou o restante do curso e as instâncias representativas acerca do aparecimento da mesma. Muitos souberam da existência da carta, incluso o CAXIF, após a divulgação na mídia hegemônica. O CAXIF se manifestou em nota acerca do ocorrido.
Estes casos se somam às manifestações de racismo que vinham ocorrendo nos banheiros do Centro de Ciências da Educação (CED) . Também na noite do dia 27 de outubro, mesmo dia do aparecimento da carta, houve a explosão de rojões no pátio da ocupação e moradia provisória estudantil indígena, a Maloca, que está situada no campus da Trindade, ao lado do restaurante universitário (RU).
Em nota, a reitoria da universidade afirma que está encaminhando para a Polícia Civil todos os casos de nazismo e racismo que estão ocorrendo nas dependências da instituição, que está colaborando com as investigações e que pretende se manifestar no momento em que houver divulgações pela própria Polícia. Foi publicado um vídeo nas redes sociais da UFSC em que o Reitor Irineu Manoel de Souza afirma que nenhuma forma de discriminação será tolerada pela universidade. A resposta prioritária da reitoria até o momento tem sido a construção de uma minuta de política institucional de enfrentamento ao racismo.
Diante das diversas manifestações encontradas pela universidade, o Centro Acadêmico Livre de Letras (CALL) convocou todos os CAs e o Diretório Central dos Estudantes (DCE) para uma reunião no feriado de 02 de novembro, na qual encaminhou-se a convocação de um ato de entrega de uma carta de cobrança de uma postura incisiva da reitoria sobre os estudantes neonazistas na UFSC. O ato ocorre em breve, às 10h30m na reitoria.
No dia 03 de novembro o Centro Acadêmico Livre de Enfermagem (Calenf) convocou os estudantes para a confecção de faixas para se manifestar contra as expressões nazistas que tem aparecido na UFSC. O DCE convocou um Conselho de Entidades de Base (CEB) * para a próxima quarta, ao meio-dia, que deve discutir sobre o Centro de Convivência e as manifestações nazistas.
Tais manifestações também têm se estendido para além da universidade. Um professor da rede estadual foi afastado por 60 dias após fazer apologia ao nazismo em grupos de WhatsApp. Em diversas regiões do país, como no Distrito Federal e em São Paulo, estão vindo à tona casos de estudantes de ensino médio da rede privada fazendo apologia ao nazismo e ao fascismo, muitas vezes junto de manifestações misóginas, racistas, xenofóbicas e de apoio a Bolsonaro e ao bolsonarismo. Em uma das manifestações golpistas realizadas na semana passada, no município de São Miguel do Oeste, interior de Santa Catarina, os participantes do ato fizeram saudações que remetem à saudação nazista de Adolf Hitler.
* O CEB é a instância que reúne todos os Centros Acadêmicos e Diretório Central dos Estudantes da UFSC, com o objetivo de debater e deliberar sobre as questões do movimento estudantil, Universidade e da sociedade como um todo. O CEB está abaixo, apenas, das Assembleias Estudantis, sendo superior à própria gestão do DCE.