Foto: Alan Santos/PR. Fonte: Fotos Públicas.
Tamara Siemann Lopes – para UàE* – 16/03/2020
A reação do governo brasileiro e as declarações de Bolsonaro e Paulo Guedes a respeito da COVID-19 prenunciam um futuro temerário a partir das próximas semanas. O Brasil já conta com 200** casos confirmados de COVID-19, mas a subnotificação é gigantesca, pois não possuímos capacidade de testar todos que suspeitarem de contágio, e a orientação é de que apenas deve-se procurar um hospital em caso de falta de ar. Já na nossa vizinha, a Argentina, com 56 casos confirmados e 2 mortes, o governo determinou o fechamento das fronteiras por 15 dias, a suspensão das aulas e recomendou que as pessoas acima de 65 anos devem ficar em casa. Alberto Fernandez em coletiva de imprensa alertou que os doentes que furarem a quarentena responderão penalmente. Ou seja, na Argentina, a atitude de Bolsonaro poderia render prisão. Ele revelou neste domingo (15/3) total desprezo pela saúde pública, quando rompeu a quarentena e incentivou manifestações, além de ter feito contato físico com dezenas de pessoas. Minimizou a pandemia, dizendo que todos irão se infectar. Se todos irão contrair esta doença altamente letal, e sendo que a taxa de mortalidade é de cerca de 10% para quem possui acima de 65 anos, estaria Guedes fazendo as contas do quanto a previdência vai economizar com a matança do corona vírus?
A continuidade de Bolsonaro na presidência é uma ameaça à saúde da população global, uma vez que sua intenção é de gerar imunidade de grupo, ou seja, infectar a maioria da população brasileira para que se desenvolva resistência ao vírus, ainda que não exista nem vacina e nem medicamento específico, muito menos capacidade do SUS de lidar com milhões de doentes graves simultaneamente. Esta estratégia fora iniciada na Inglaterra, mas após fortes críticas foram tomadas medidas no sentido contrário. Ao não delimitar áreas, manter a liberdade de fluxo e insistir em reformas liberais mesmo sabendo que o contágio do vírus é maior no Brasil do que em outros países, Guedes e Bolsonaro revelam-se verdadeiros sociopatas. O impeachment já é hipótese discutida nos jornais.
Economistas liberais demonstram forte preocupação com os impactos do vírus e soterram de uma vez por todas os dogmas da escola austríaca. Pedem estímulo fiscal, preocupados tanto em minimizar a depressão econômica quanto de garantir renda para os grupos sociais mais vulneráveis. Preveem que a atual crise deve impactar mais na economia mundial do que a crise de 2008/9. Assim, o desafio à esquerda e aos sindicatos parece se relacionar com duas questões, de ordem política e organizativa. Formular uma pauta de reivindicações que cobre do governo brasileiro medidas que garantam a vida da população e a proteção dos vulneráveis, voltando a economia para atender as necessidades da população e prevenir os riscos dos trabalhadores que permanecerão trabalhando para garantir a sobrevivência dos brasileiros enquanto a crise epidemiológica se prolongar. Por outro lado, o desafio também reside em conseguir organizar e agregar trabalhadores sem realizar reuniões presenciais de grandes grupos. A realização de greves espontâneas em fábricas já ocorre na Europa, como forma dos trabalhadores protegerem a si e a sua família do contágio. A ausência de respostas do governo brasileiro pode levar a uma escalada de eventos desta natureza.
*O texto é de responsabilidade da autora e pode não refletir a opinião do jornal.
Imagem: Sérgio Lima- Poder360
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** Dados atualizados (21:00): Já são 234 casos confirmados no Brasil.