Foto: Universidade Federal de Santa Catarina/Agecom
Allan Kenji Seki para UFSC à Esquerda*
A universidade foi abalada. A morte do Reitor Cancellier mudou dramaticamente os rumos dos acontecimentos em nossa universidade e abre o caminho para um profundo debate sobre o poder policial no Brasil e os rumos de nossa universidade.
A universidade brasileira e a polícia não combinam. Não há possibilidade de pensamento quando a instituição é tomada de assalto por brutamontes, independentemente da cor de suas fardas. Nenhuma polícia sabe entrar na universidade e todas as experiências recentes têm sido trágicas. Devemos nos lembrar do episódio do Levante do Bosque, em 2014, cujas cicatrizes seguem abertas. Estudantes, professores e TAEs foram incriminados arbitrariamente e segundo critérios até hoje desconhecidos. Agora, novo episódio, que começou com a prisão desnecessária e violenta do reitor e de outros professores, no início de uma investigação conduzida ao gosto da grande imprensa. O resultado não poderia ter sido pior.
Todos os encontros do poder policial com nossa instituição universitária têm resultado em consecutivas tragédias.
Daqui por diante esta lembrança deve permanecer viva, a universidade não pode mais dar de ombros. Os procedimentos frios, calculados, criados para ferir os corpos e as almas, aplicados todos os dias às grandes massas brasileiras gritou aos ouvidos da comunidade universitária. Que tempos são esses em que mesmo o óbvio soa como uma novidade inaceitável? É inadmissível que crimes não violentos, que não atentam contra a vida ou a segurança de si ou de outros sejam utilizados como a régua e o compasso do encarceramento em massa que alimenta o monstro terrível das facções criminosas.
Quantos não fizeram coro, alimentados pelo discurso e pelo ódio sobre o emblema esotérico da corrupção em seu sentido mais estreito e conservador? Espalhando boatos, babando veneno e rosnando contra tudo e contra todos?
Evidente que todo e qualquer crime deve ser apurado, investigado e resolvido. Evidente que os responsáveis devem ser obrigados à reparação e à justiça, mas a reparação e a justiça não significam sempre e todas as vezes o encarceramento do outro ou a sua destruição psíquica e moral. Evidente, ainda que infelizmente novidade para muitos, que essa polícia que está aí não é, e não será, o instrumento da verdadeira justiça.
Há aqueles que acreditam ou fingem acreditar que o escárnio público da classe política é capaz de passar a limpo a sociedade brasileira. Nada mais perigoso. Sob a sombra de um bastião de falsa moralidade na política, estamos eliminando a política e dando lugar à uma barbárie sórdida, bem lavada e bem togada. O escarcéu dessa gente cínica nasceu para instrumentalizar os ódios e as raivas do povo brasileiro contra tudo aquilo que essa direita covarde identifica como esquerda, socialismo ou comunismo. Em nome do poder a qualquer custo, fizeram até parecer que o PT era de esquerda e de lá para cá temos sofrido golpes antes de golpes.
Nós não podemos suportar mais essa direita raivosa e sedenta por carnificina. Essa direita que rasga o couro da sociedade brasileira desde os tempos da casa grande e da senzala. Essa direita cujas ideologias fazem mais e mais vítimas sem medir causas ou consequências. Esta direita que está aí, nas entranhas da universidade, consumindo até mesmo a juventude universitária. Essa direita está matando gente. Não podemos mais tolerá-los. Ou os combatemos ou tombamos.
*Os textos de opinião são de responsabilidade de seus autores, o UàE pode não concordar com todas as ideias expressas no texto publicado.