Foto: UFSC à esquerda
Na sexta-feira passada, 09 de outubro, o UFSC à Esquerda (UàE) entrevistou o candidato às eleições para a reitoria da UFSC, Edson De Pieri. O vídeo da entrevista foi lançado hoje em nosso sítio e está disponível para toda a comunidade universitária. Edson Roberto De Pieri (CTC) e Carlos Alberto Marques (CED) encabeçam a Chapa 84, “UFSC +”, naquilo que consideram uma gestão acadêmica e em sintonia com a sociedade.
A entrevista, com aproximadamente uma hora e quinze minutos, abordou temas como a EBSERH, relação com os movimentos sindicais e estudantil, o processo de escolha para reitor, a crise orçamentária, a relação com a iniciativa privada, entre outros.
A análise do material de campanha e da entrevista mostram que, em uma possível gestão, Edson De Pieri não se diferenciaria das gestões anteriores, pois não há divergências radicais em disputa: as críticas são pontuais, ou seja, o modo de funcionamento se manteria intacto.
Parece-nos que, ao longo da entrevista, o candidato tentou apresentar-se como palatável a um público de esquerda, mostrando-se disposto a dialogar com os movimentos da universidade e realizando uma gestão crítica a possíveis imposições do governo federal. Porém, seu discurso se mostra bastante limitado quando são abordados temas como a EBSERH e a divisão de pesos para a eleição da reitoria. O candidato se diz a favor do Regime Jurídico Único (RJU) na contratação de servidores enquanto, em debates, é a favor das terceirizações. Em outro ponto, propõe uma gestão democrática enquanto, pessoalmente, é a favor do modelo 70/30 nas eleições para reitor.
Sobre a temática do peso dos votos para as eleições para a reitoria o candidato não assume uma postura firme e explícita. Quando questionado sobre sua posição em participar das eleições tendo assinado um documento redigido por professores ligados a APUFSC no qual defendiam o modelo dos 70/30 e afirmavam que não participariam da consulta se assim não o fosse, o candidato esquivou-se afirmando que aquela postura era apenas uma estratégia para barrar uma possível consulta por voto universal, ao qual é veementemente contrário. Ora, nos perguntamos se é possível confiar numa candidatura que assume uma posição ambivalente, que em determinado momento afirma e promete uma coisa, e no momento seguinte quando questionado se esquiva de suas próprias posições.
É interessante como, em diversos pontos da entrevista, De Pieri aponta problemas de gestões passadas tanto na reitoria da UFSC quanto no governo federal. Por exemplo, o candidato fala em entraves burocráticos, “grupos de interesse”, a tentativa de privatização da Universidade no governo FHC, a expansão precarizada do governo Lula e a autonomia entre aspas, entretanto, aponta uma gestão acadêmica interna pautada em eficiência como única saída. O UàE acredita que só através dos processos de luta é possível defender a universidade pública e construir uma universidade em sintonia com a sociedade.
Outras contradições são vistas quando a candidatura tenta entender a relação público x privado. Ao expressar sua opinião sobre a crise orçamentaria, o candidato afirma: “… as pessoas que lucram com a crise são as pessoas que também lucram fora da crise.”(56:47 min). Também, consegue observar os problemas em outros centros, como o CED (Ciências da Educação) e CCS (Ciências da Saúde), enquanto o CTC (Centro Tecnológico) passa por uma forte expansão, porém não compreende como o longo processo de mercantilização da educação e da saúde e, ainda, os interesses privados, estão imbricados e dirigindo tais processos no interior das universidades e nas políticas educacionais como um todo.
Ao mirar uma universidade no socialismo, isto é, uma universidade efetivamente comprometida com os grandes problemas de seu povo e que desde as contradições de uma sociedade capitalista, procura explicitá-las e superá-las, é impossível visualizar a Chapa 84 como um passo do caminho. O desafio de construir uma alternativa para educação, fora da lógica do capital, é inimaginável para uma candidatura que não consegue ver além do tempo atual. É necessário desvendar o véu da ideologia por trás das relações entre educação e capital. Como diz Mauro Iasi ao discutir o problema da emancipação humana, “Para aqueles que encontraram um ponto de inserção um pouco mais adequado à sua sobrevivência dentro da ordem do capital, esta é uma alternativa, para o resto da humanidade não”¹.
A entrevista pode ser assistida aqui: https://ufscaesquerda.com.br/entrevistas-com-reitoraveis-uae-entrevista-o-candidato-edson-de-pieri-da-chapa-84-ufsc-mais/ ou direto em nosso canal:
1 – Iasi, M.L. Ensaios sobre consciência e emancipação, 2ed, São Paulo, Expressão Popular, 2011.