[Editorial] Roselane e a porta dos fundos

Poucos atos poderiam ser tão representativos da verdadeira atitude da reitora Roselane Neckel que sua ausência hoje (19/5) na reunião do Conselho Universitário (CUn). Estudantes de  graduação e professores da pedagogia e pós graduandos em educação convocaram um ato silencioso na entrada do CUn, levando os conselheiros a passarem pela manifestação. A reitora permaneceu encastelada em seu gabinete. A vice-reitora, Lúcia Pacheco, presidiu a sessão do CUn, porém também se recusou a passar pelos manifestantes da pedagogia, preferindo utilizar a escada de acesso restrito que dá acesso do gabinete à sala dos conselhos.

Professores e estudantes da pedagogia estão sendo tratados com um desrespeito sem paralelos na história recente da universidade. A brutalidade simbólica na permanência de Roselane Neckel em sua sala, ao invés de descer e cumprimentar a manifestação, tornou-se escabrosa. E ainda mais, somente quando a manifestação se dissipou – como noticiamos no UàE, Roselane desceu e se dirigiu ao CUn. Escancara-se assim algo que é a marca dessa gestão: truculência e desrespeito quando se tratam de movimentos legitimamente constituídos pelas bases e toda reverência quando se tratam dos setores mais conservadores dessa universidade.

Roselane Neckel não esteve presente na mesa de negociações dessa segunda-feira, única até o momento. Segundo o professor Carlos Vieira, chefe de gabinete, ela não sentará na mesa de negociações, pois não entende que esse seria seu papel. O gabinete também não marcou outra reunião com a comissão de negociações, formada por estudantes e professores, e tudo indica que poderá não marcar, uma vez que poderá tentar acabar com a greve e a paralisação à golpes de marretadas – utilizando para isso as vias institucionais para forçar um acordo fora dos termos apresentados pela comissão. A comissão apresentou a seguinte pauta: a) garantias da reforma do Bloco A do CED e b) retorno das atividades normais no mais breve período, mas em condições dignas de trabalho e ensino, ou seja, com os reparos necessários nas salas de aulas ou, enquanto isso ocorre, o deslocamento do curso para outro Centro de Ensino. Ambos os movimentos, estudantil e docente, encararam a ausência da reitora como um sinal de desrespeito e de descompromisso da reitoria com a pauta apresentada e com aqueles que compõem a comunidade universitária.

Contudo, não foi somente as inúmeras ausências de Roselane que demarcam sua posição política com os movimentos. Segundo o UàE conseguiu apurar, na reunião da comissão de negociações dessa segunda-feira, ficou claro que tudo o que a reitoria havia prometido até aquele momento nunca poderia ter sido cumprido, uma vez que somente no dia 20 de maio sairá um decreto determinando o montante de recursos que poderão ser destinados para cada Ministério. Ao tentar enrolar o movimento grevista e paredista com promessas vazias, a reitoria acabou por colocar a corda no pescoço e agora foi desmascarada.

A dimensão de desrespeito é flagrante e certamente gerará repercussões políticas de longo prazo na história da UFSC. Roselane Neckel está afundando cada vez mais em descréditos e desconfianças, assim como todos os que permanecerem ligados à sua administração. Apesar disso, os movimentos da pedagogia seguem firmes e crescendo. Na última sexta-feira o calendário acadêmico foi paralisado no colegiado de curso, hoje os estudantes de pós-graduação em educação acrescentaram forças na construção do ato. Professores organizaram seu primeiro ato hoje, unificando ainda mais as lutas com o movimento estudantil. Logo, mais forças devem se somar, nesse que já é um movimento ímpar na história da UFSC: professores e estudantes unidos, nas pautas e nos atos públicos, cobrando por condições melhores de ensino e de trabalho. E aí, Roselane Neckel terá que se ver com as consequências políticas da direção que fez até hoje nessa reitoria.

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Um comentário

  1. Sinceramente, acho que vocês perdem o direito de falar em “brutalidade simbólica” da ausência da reitora na reunião quando vocês adotam também repetem essa “brutalidade simbólica” hasteando um boneco (que, segundo vocês, representa a Reitora) no mastro, como se fosse um corpo enforcado.

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