No dia 20 de Junho ocorreu um ato dos estudantes da Fonoaudiologia em frente a reitoria para denunciar a falta de professores no curso. O UFSC à Esquerda entrevistou, no dia 21, uma das estudantes sobre as mobilizações que vêm ocorrendo. Confira:
UàE: Desde quando vocês estão com falta de professores no curso?
Estudante: Então, o curso foi criado em 2009 e desde 2009 então falta professor, a gente vai completar 10 anos de curso e desde o início falta professor. Mas a gente tinha os professores substitutos antes, aí nos últimos dois anos foram cortados sete professores substitutos e a gente ficou só com dois. E isso tem prejudicado, porque o substituto fazia uma carga maior e conseguia suprir um pouco.
UàE: Como isso tem afetado a oferta de disciplinas?
Estudante: A gente vai ficar com algumas horas descobertas no próximo semestre porque os professores decidiram não aumentar mais a carga horária deles, porque até então os professores da fono vinham trabalhando até 24 horas semanais e um professor da UFSC geralmente trabalha de 8 a 12 horas [referentes às horas em sala de aula]. Então eles estavam com a carga horária aumentada para conseguir cobrir todas as disciplinas, para conseguir não deixar os estudantes sem aulas. Como as tentativas burocráticas para conseguir novos professores não foram aceitas e não deram certo, os professores decidiram voltam a trabalhar 12 horas semanais – a carga horária que seria normal -, por isso no semestre que vem nós iremos ficar com disciplinas sem professor, porque eles vão diminuir a carga horária e não teve mais abertura de vagas para contratação de professor. E aí a disciplina não fica afetada somente porque não está coberta, mas quando está, o professor está dando aula fora de sua especialidade, temos professores que têm uma formação voltada para áudio dando aula de linguagem, por exemplo, e isso acaba prejudicando o professor e o andamento da disciplina e, claro, o aluno também.
UàE: Já houveram reivindicações? Se sim, que respostas vocês obtiveram até o momento?
Estudante: As reivindicações que tinham sido feitas tinham sido todas no campo administrativo; o departamento tentou conversar com a direção de centro, para ver se a direção de centro conseguia apoiar de alguma forma, mas a direção fica em cima do muro. Enfim, estavam pedindo vaga de contratação de professor para a reitoria, mas pedindo sempre ofício, memorando, essa forma tradicional, mas não surtiu efeito.
UàE: Qual o posicionamento do departamento do curso?
Estudante: O departamento é favorável às manifestações, eles estão nos apoiando bastante no que a gente precisa, estão liberando de algumas aulas para que a gente consiga se organizar politicamente e fazer nossas assembleias estudantis para ver quais são as deliberações do corpo discente.
UàE: Como estão as mobilizações no centro?
Estudante: O departamento havia feito uma proposta para fazer entrada única no vestibular, uma entrada por ano só, e para diminuir algumas horas do curso e aí fazendo isso facilitaria na disposição de professor por turma. E esse pedido foi negado. Mas aí houve uma divergência, porque a gente sabe pelo menino que faz parte da representação discente na câmara de graduação que não passou por lá a votação, mas a gente recebeu a negativa porque houve um “canetaço” e era isso que a gente estava chamando de golpe, ainda estamos chamando de golpe na verdade. E agora a reitoria se posicionou dizendo que isso nunca foi discutido, mas assim, foi discutido e foi negado, só que não passou pelo órgão deliberativo para isso, que seria a câmara de graduação. Aí, a partir dessa negativa que a gente começou a fazer as mobilizações, porque a gente viu que além de eles não darem professor, não flexibilizaram isso também, então não teria condições mesmo de a gente conseguir manter o cronograma da oferta de disciplinas. E aí os estudantes fizeram uma assembleia na segunda-feira, e na assembleia decidimos fazer mobilização na terça-feira, fazer uma pressão na reitoria para ver se conseguiríamos obter uma resposta direta do reitor, pois o reitor estava indo para Brasília na terça para tentar ver com o MEC abertura de mais vagas para UFSC, então a gente foi fazer essa pressão na reitoria ontem. Também fizemos um ato em frente à Reitoria 2, que é onde funciona nossa clínica de fonoaudiologia e fizemos uma mobilização no CCS. Hoje (quarta-feira), estávamos esperando que saíssem algumas entrevistas que havíamos dado ontem para dar mais repercussão para o caso, mas acabou não indo para o ar, então por hoje ainda estamos em stand by porque estamos esperando uma reunião que iremos ter amanhã (quinta-feira) com a reitoria, direção de centro, colegiado e as entidades estudantis, para saber a resposta do reitor; para ver o que ele vai conseguir abrir de vaga ou não. Aí a partir do que for definido nesta reunião (quinta-feira) a gente vai fazer uma nova assembleia estudantil; no caso de uma negativa de abertura de vagas, vamos nos mobilizar, continuar fazendo atos e tentando pressionar de todas as formas e, bom, em caso positivo, é uma vitória.*
UàE: Como vocês entendem que o problema pode ser resolvido?
Estudante: É um problema que para ser resolvido só abrindo vagas para professores, não teria outra forma, porque a gente já fez a proposta da entrada única no vestibular e da diminuição de algumas horas e isso não seria suficiente, então teria que juntar as propostas para que elas ocorressem concomitantemente; tanto a abertura de vagas, quanto a diminuição de algumas horas e a entrada única no vestibular, essa é a única alternativa que a gente tem. Hoje a gente está com 276 alunos e 16 professores, então, é inviável, não há como funcionar, até porque temos a parte clínica também, que faz 6000 atendimentos por ano, então precisa ter aluno e professor lá acompanhando essas atividades e, também, temos os projetos de extensão que fazemos com a comunidade. Então, tudo isso fica inviabilizado, por isso percebemos que não é somente um problema da sucateamento da educação e da saúde, mas também como a universidade entende esse atendimento que a gente faz à comunidade, pois está sendo desconsiderado.
UàE: Vocês entendem que entrada única em vestibular é uma saída? Isso não corta vagas do vestibular?
Estudante: Na verdade a gente discutiu isso ano passado com os estudantes, mas como a gente precisava de uma solução imediata, não tinha muito o que fazer. Então isso foi uma questão que foi colocada pelos estudantes já no ano passado, a gente sabia que isso poderia dificultar um pouco o acesso. Mas, não estamos conseguindo fazer o ideal, então, a gente está tentando fazer o que é possível para manter o curso, porque, a gente não sabe até que ponto é intencional ou não, a sensação que temos é que a tentativa é de eliminar o curso; porque há precarização, retira professores, atrasa as formaturas e, ainda, há toda a questão social, de que se manter em Florianópolis é difícil, então a gente foi pelo que dava para fazer e, no momento, foi pedir a entrada única entendendo que seria a única coisa que resolveria a um curto prazo. Mas sim, entendemos.
* A entrevista foi realizada no dia 21 de junho. ]]>