Morre a cientista Vera Rubin

Dunkle Materie) no universo e enfrentou, durante toda a sua vida, as imposições patriarcais da presença de mulheres nas universidades americanas. Nascida em 1928, da Filadélfia, mudou-se para Washington aos dez anos, momento no qual começou a se interessar pela astronomia. Foi estimulada pelos pais a participar, desde a infância, das feiras amadoras de astronomia e construiu, com a ajuda de seu pai, seu próprio telescópio ainda quando criança. Rubin se graduou em astronomia no Vassar College e candidatou-se ao mestrado na Universidade de Princeton, porém, nunca recebeu a resposta de sua candidatura, pois essa universidade não aceitou o ingresso de mulheres nos programas de astronomia até 1975. Obteve, então, seu mestrado na Universidade de Cornell. Concluiu seu doutorado em meados de 1954, observando que as galáxias não estão distribuídas de maneira aleatória e que existem forças que as mantém unidas no universo, tese que só foi aceita duas décadas depois.

Rubin trabalhou no Montgomery County Community College e também na Universidade de Georgtown, como pesquisadora assistente. Em 1965, ela se tornou a primeira mulher autorizada a utilizar instrumentos do Observatório de Palomar, antes disso as mulheres não podiam ter acesso as unidades astronômicas. Finalmente, ingressou na Carnegie Institution of Washington, como pesquisadora sênior, onde estabeleceu uma longa relação de trabalho com Kent Ford, na análise da rotação de galáxias e em grandes corpos de massa. Na Carnegie Institution, Rubin começou a trabalhar no tema de sua tese, descrevendo as forças que operam no movimento das galáxias. Esse trabalho descreveu os movimentos da Via Láctea em relação a outras galáxias e constatou que a Via Láctea estava se movimentando diferentemente do que se acreditava, isso ficou conhecido como Efeito Rubin-Ford e é objeto de discussão desde então. Devido às enormes divergências surgidas nesse trabalho, Rubin teve que trocar de área de pesquisa, decidindo estudar o movimento das estrelas ao redor do centro orbital das galáxias. Esse trabalho pode ser considerado um dos mais importantes e pioneiros na astrofísica, no que diz respeito as energias que regem os movimentos de grandes corpos no universo. Em termos bastante simplificados, quando observamos o movimento dos astros ao redor de um grande corpo celeste, como o sol, consideramos que os planetas mais próximos (no caso, mercúrio) deveriam girar em torno da órbita solar a velocidade angular muito superior do que os planetas mais afastados. Assim, quanto mais próximo de um grande corpo de massa, maior deveria ser a velocidade de órbita. Na realidade, se a velocidade dos corpos mais afastados fosse igual ou superior àquela dos mais próximos, a gravidade não seria forte o bastante para manter esses corpos em órbita e eles seriam disparados para fora de órbita. Ao observar o movimento das estrelas nas galáxias vizinhas, em particular, da Galáxia de Andrômeda, Rubin percebeu que a velocidade das estrelas mais afastadas era superior àquelas localizadas mais ao centro. E essa constatação confrontava diretamente a cosmologia newtoniana. Ao compartilhar suas constatações, Rubin foi desacreditada e sua teoria considerada um devaneio feminino.

Rubin, passou então a observar o movimento de outras galáxias, seu estudo contemplou mais de 60 galáxias no entorno da via láctea com diferentes tipos de espirais. Seus dados deixaram evidentes aquilo que se conhece hoje como “Problema da rotação das galáxias”. Sua constatação foi a de que para que as estrelas situadas mais distantes ao núcleo das galáxias não fossem ejetadas, deveria haver uma força enorme envolvida, já que a gravidade sozinha não poderia sustentar essas estrelas em órbita com velocidades angulares tão elevadas. Mais ainda, pelos seus cálculos para que as órbitas fossem mantidas na rotação das galáxias, deveria haver dez vezes mais massa do que aquela visível nas estrelas. Para explicar essa massa “invisível” a teoria mais aceita tem sido a da existência de matéria escura. A tese de Rubin foi a primeira a evidenciar robustamente que a gravidade, tal como descrita por Newton, não poderia ser aplicada universalmente. Nas décadas seguintes, seus trabalhos vêm sendo confirmados por inúmeras pesquisas e seus dados são utilizados como fontes confiáveis para a descrição do movimento das galáxias e como evidência de que o universo permanece em expansão. Ao longo de toda a sua vida, Rubin militou para que as mulheres tivessem o direito de entrar nas universidades e participar das sociedades científicas. Organizou conferências, grupos de mulheres e protestos. Credita-se a ela a presença de mulheres hoje na Academia Nacional de Ciência.

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