Ana Júlia – Redação UàE – 04/05/2020
Publicado originalmente em Universidade à Esquerda.
Ontem, no dia 3 de maio, Átila Iamarino, doutor em microbiologia e divulgador científico, anunciou que os números em relação aos contaminados e mortos por conta da pandemia de COVID-19 são extremamentes preocupantes[1]. Para o início do mês de maio, os dados informados pelo Ministério da Saúde apontam que há cerca 102 mil casos de coronavírus no Brasil e mais de 7 mil mortes, foram 4.588 novas infecções e 274 mortes nas últimas 24 horas.
Esses números informados diariamente podem ser muito maiores, tendo em vista a subnotificação no país, a não realização de testes em massa e um controle baixo sobre a disseminação. Até o dia 3 de maio, o Brasil realizou um total de 339.000 testes para COVID-19, porém, segundo Átila, para acompanhar a situação real dos casos, o país deveria estar fazendo até 300 mil testes por dia. Outra informação que coaduna com as subnotificações, é o aumento considerável de casos de internação por “síndromes respiratórias”, que não somam nos números oficiais.
O Brasil foi um dos países que tomou as medidas em hora certa, conseguindo, por um determinado período, diminuir a curva de contaminação. Porém, as últimas medidas tomadas pelo governo e pelos estados fez com que os casos voltassem a aumentar de maneira descontrolada. Segundo Átila, a curva de mortes indicada abaixo mostra como o começo da curva no Brasil (linha verde) esteve abaixo dos países onde houve maior número de mortos e, logo após iniciar sua descida, a curva passa a subir novamente.
O microbiologista indica que, caso o Brasil continuasse com as medidas de contenção, a curva seguiria como a de outros países em declínio, porém, com a flexibilização das medidas de isolamento, em duas semanas iremos presenciar um cenário drástico para a saúde no país, como indica o gráfico a seguir.
A predição do Imperial College, universidade de Londres que vem apresentando pesquisas importantes sobre o COVID-19 no mundo, estimou que o Brasil é o país com o pior crescimento de casos no mundo. Nos países onde a contenção está controlada, como Coreia do Sul e Alemanha, uma pessoa infectada contamina mais uma, enquanto no Brasil cada pessoa doente infecta entre duas a três pessoas, sendo a média 2,8[2]. Esses dados conferem também com as pesquisas da Fiocruz, a qual indica que o Brasil voltou a duplicar seus casos a cada 5 dias[3]. Essa projeção, somada a uma taxa aproximada de mortalidade de 0,7% dos casos (número de mortes dividido pelo número de casos), projeta para o país um cenário como o que já estamos vendo em cidades como Manaus.
Buscando exemplo para os dados apresentados, podemos pegar o caso de Santa Catarina, estado que flexibilizou o isolamento desde o dia 22 de abril: o número de casos duplicou em uma semana. Até o dia 24 de abril, o estado somava 1.200 casos oficiais, e os dados de ontem, dia 3 de maio, informados pelo Ministério da Saúde indicam que já são 2.519 casos, sendo apontado como o local, depois de Manaus, mais afetado pelos casos de COVID-19. E, além disso, os casos tem se espalhado para os interiores, como mostra o mapa a seguir, trazendo centenas de focos de disseminação.
Portanto, o problema que viemos enfrentando com o COVID-19 não é um problema secundário, como apresentado diversas vezes pelo governo de Bolsonaro e, apesar da situação estar fora de controle, ainda há tempo de pensar estratégias para diminuir o número de disseminação de casos, como o Lockdown, apresentado por Átila Iamarino.
[1] https://www.youtube.com/watch?v=gs-HlvC5iJc
[2] https://mrc-ide.github.io/covid19-short-term-forecasts/index.html
[3] https://bigdata-covid19.icict.fiocruz.br