Clara Fernandez – Redação UàE – 12/08/2020 – Publicado originalmente em Universidade à Esquerda
A explosão no porto de Beirute devastou a cidade libanesa se expandindo em uma imensa nuvem de destruição no dia 04/08. Ainda não se sabe ao certo o número de mortos, pois segundo o governo libanês seriam 171, mas a agência da ONU para refugiados e a BBC possuem uma estimativa de 220 vítimas fatais. O incidente também deixou cerca de 6000 feridos, 300 mil desabrigados e abriu uma cratera de 43 metros de profundidade no local da explosão.
A provável causa da tragédia foi uma carga de 2750 toneladas de nitrato de amônio armazenadas no porto de Beirute por seis anos, sem medidas de proteção. Ainda não se sabe o que pode ter disparado a explosão. Foi noticiado que o Presidente Michael Aoun e o primeiro-ministro Hassan Diab tinham conhecimento do risco que havia no armazenamento de amônio no porto.
Após quatro dias da explosão a cidade foi tomada por revoltas populares chamadas de “dias de fúria”, pedindo por justiça às vítimas da explosão e responsabilizando todos os políticos do país pela negligência que levou a tragédia. Já ocorreram quatro dias de grandes protestos, de sábado a terça (11).
No sábado (08), houve concentração na praça dos mártires, com manifestantes carregando pás e vassouras. Pois a própria população estava assumindo as operações de limpeza, sem que o governo tomasse medidas para recuperação da cidade. Nesse mesmo dia ocupações tomaram os prédios dos ministérios das relações exteriores, economia e energia, e da associação libanesa de bancos. Houve uma tentativa de entrar no parlamento que foi reprimida pela polícia com gás lacrimogêneo. Os manifestantes também montaram forcas improvisadas pedindo que os governantes do país fossem enforcados e entoaram cantos utilizados na Primavera Árabe, em 2011.
Ocupação da associação de bancos:
No Domingo (09) houve concentrações na praça do parlamento e dos mártires e a Ministra da Informação, Manal Abdel Samad, foi a primeira a renunciar de seu cargo. Sua reunúncia foi seguida pelos Ministros do Meio Ambiente, Damianos Kattar; da defesa, Zeina Adra, do Interior; Mohammed Fahmi e das Finanças, Ghazi Wazni. Também houve a renúncia de 9 deputados do parlamento. Na segunda (10), em meio aos protestos, o primeiro-ministro libanês anunciou sua renúncia e a dissolução de seu gabinete.
Na terça (11), uma homenagem às vítimas foi realizada no local da explosão, com fotos destas e projeções da explosão ocorrida na cidade. O dia marcava uma semana desde o incidente e foi realizado um minuto de silêncio. Posteriormente as manifestações e revoltas continuaram ocorrendo na cidade.
Protestos já tomavam o país em 2019
O país já havia passado por uma onda de protestos em Outubro do ano passado, pedindo a saída de toda a classe política. O estopim havia sido um imposto sobre o uso de aplicativos gratuitos, chamado de imposto do whatsapp. Entretanto, a revolta já se dirigia também a medidas de austeridade que vinham sendo tomadas há meses e que expressavam a crise econômica e a degradação das condições de vida da população libanesa.
Manifestações em frente aos escritórios de bancos
Chama a atenção a revolta também contra os bancos. Circulam por parte dos protestantes slogans como “lutar contra o poder dos bancos”. Segundo o site mídia 1508, houveram manifestações de Beirute a Nabatieh, no sul do Líbano, diante dos escritórios do banco do Líbano e das principais instituições bancárias que possuem as dívidas do estado. Em Junho deste ano revoltas já haviam incendiado agências bancárias pelo país, inclusive o Banco Central, em função de dívidas que chegam a 150% do PIB do país, esquemas fraudulentos e uma série de problemas que envolvem a delicada economia do país.
Apesar de não ser um consenso dentro do movimento de revolta, há demandas nas ruas pela: renegociação da dívida libanesa junto aos bancos, redução de juros, e de aumento do orçamento nacional destinado aos mais pobres.