Foto: manifestação na escola onde Marcos estudava; reprodução: página Maré Vive/Facebook
Jussara Freire – Redação UàE – 02/07/18
O adolescente Marcos Vinícius da Silva, 14 anos, foi baleado e morto no dia 20 de junho, em uma operação da polícia militar no conjunto de favelas do complexo da Maré, no Rio de Janeiro, capital. Marcos foi uma das sete vítimas fatais da operação e seu caso ganhou repercussão nacional pois o mesmo estava uniformizado a caminho da escola quando foi atingido; relatos da comunidade e testemunhas indicam que os tiros que o acertaram partiram do blindado da corporação policial.
Segundo as testemunhas e a mãe do jovem, Bruna da Silva, a polícia impediu que a ambulância chegasse até o local do ocorrido. Antes de falecer o jovem havia dito que o tiro saiu do carro blindado. Suas últimas palavras foram: ‘ô mãe, eu nunca mais quero sentir essa dor na minha vida’; ‘mãe eu tô com sede’ e ‘Mãe, eu sei quem atirou em mim, eu vi quem atirou em mim. Foi o blindado, mãe. Ele não me viu com a roupa de escola?’ Bruna levou a camiseta manchada de sangue de seu filho ao velório, assim como a diversos outros espaços onde têm expressado sua revolta e indignação.
As informações da polícia são de que a operação visava encontrar os suspeitos do assassinato do chefe de operações da Delegacia de combate às drogas (Dcod), Ellery de Ramos Lemos. Segundo o setor de investigações, os suspeitos estariam escondidos na Maré. Contudo, é possível ver registros de imagens onde o helicóptero blindado da polícia, apelidado de “caveirão aéreo”, dava rasantes e uma sequência de tiros por diversos locais da comunidade. Os moradores afirmam que os tiros eram aleatórios e não necessariamente voltados para o suposto local onde estariam os suspeitos buscados pela operação. A ONG ‘Redes da Maré’ afirma ter verificado mais de cem marcas de disparos no chão do conjunto das favelas. Os locais mais atingidos pela operação foram a Vila do Pinheiro, Vila do João e o Conjunto esperança.
Moradores revoltados com o episódio realizaram uma manifestação na linha amarela no mesmo dia e foram reprimidos pela polícia. Na última semana algumas manifestações ocorreram na escola em que o jovem estudava, a CIEP Operário Vicente Mariano, junto a outras escolas da Maré. No dia 21 de junho, amigos, professores e alunos do colégio saíram da escola e caminharam com faixas e cartazes até a linha amarela, onde foram recebidos com agressividade pelos policiais que chegaram a ameaçá-los com cassetetes.
No dia 27 de Junho houve um ato/abraço à escola onde Marcos estudava, com a presença de sua mãe e de outras escolas da comunidade da Maré. Confira as fotos do ato/abraço:
No dia 28 de Junho foi chamado o ato “As vidas nas favelas importam” na praça da Cinelândia, no Rio de Janeiro. Além da morte de Marcos Vinícius, o ato lembrou de Guilherme Henrique Pereira, também morto aos 14 anos e uniformizado, durante suposta troca de tiros entre facções rivais na Vila Vintém; e de Maria Eduarda Alves, morta com 13 anos por policiais do 41º BPM, enquanto fazia educação física na Escola Municipal Daniel Piza, em Acari. Segundo a organização do evento, somente este ano já foram oito crianças e adolescentes vítimas de projéteis de armas de fogo e em 2017, a violência afetou o funcionamento de 467 escolas, onde 165.804 alunos ficaram, pelo menos um dia, sem condições de irem à escola.
No último domingo, dia 01 de julho, um protesto contra o racismo e a violência policial contra jovens da periferia foi chamado em São Paulo, com concentração em frente ao MASP. Quando a manifestação estava descendo a rua da consolação a polícia levou presa uma das mães presentes, Stella Avallone. Apesar de a polícia afirmar que a prisão se deu em função de não liberarem a avenida para a passagem de um carro com uma mulher em trabalho de parto, as manifestantes afirmam que liberaram a passagem e que quando foram retornar a polícia tentou lhes impedir. Além disso, Stella afirma ter passado por revista vexatória sem justificativa aparente.