Foto: Angélica Gouveia/UFPB
Maria Alice de Carvalho – Redação Universidade à Esquerda – 05/11/2020
Nesta quinta-feira (5) foi publicado no Diário Oficial da União (DOU) a nomeação de Valdiney Veloso, candidato com menos votos na consulta pública à Universidade Federal da Paraíba (UFPB), como reitor da instituição pelo presidente Jair Bolsonaro.
A chapa 3, encabeçada por Valdiney Veloso com Liana Filgueira Albuquerque, ficou em terceiro lugar na lista tríplice, com apenas 5% dos votos na consulta pública. No Conselho Pleno da instituição, a chapa não obteve nenhum voto. De acordo com o texto publicado no DOU, a chapa deve assumir na próxima quarta-feira (11), com mandato até 2024.
Valdiney até então ocupava o cargo de chefe de departamento do curso de psicologia na UFPB, no qual é professor titular. Formado em psicologia pela mesma Universidade e em direito pelo Centro Universitário de João Pessoa (Unipê), instituição privada de ensino superior, é especialista em psicometria, com mestrado e doutorado em psicologia social.
Desde o início de seu mandato, Bolsonaro vem cerceando a autonomia das Universidades Públicas, indicando para reitor aquele não eleito pela comunidade. Como foi, por exemplo, nas Universidades Federais da Fronteira Sul (UFFS), do Vale do Jequitinhonha (UFVJM), do Espírito Santo (UFES), do Ceará (UFC), do Recôncavo Baiano (UFRB) e do Triângulo Mineiro (UFTM). O que se repete agora na UFPB.
Apesar de na Constituição Federal ser previsto que está a cargo do Presidente da República a escolha do nome de quem ocupará o cargo de reitor das universidade federais – o que de início já rompe com a autonomia universitária -, historicamente se respeitava a escolha por aquele mais votado na lista tríplice.
Diante do ocorrido, o reitor nomeado anunciou que “acha normal” a escolha do presidente, mesmo que ele não tenha sido eleito democraticamente:
“Eu acho normal. Visto que é um processo. O processo não se encerra com a consulta, pois não é uma eleição, se encerra com a nomeação do presidente, legalmente constituído. Então, é normal a escolha. Qualquer um dos três teria possibilidade de assumir. Fui apenas uma opção entre às três e o presidente achou que eu seria a melhor opção para esta conjuntura, para este momento”. Disse Valdiney em entrevista à TV Cabo Branco, no dia de hoje (5).
De acordo com Valdiney, um dos objetivos de sua chapa é buscar por parcerias público privadas com empresas que tenham o interesse em investir em pesquisa e extensão, e para realização de obras. Disse que não pode ficar “estirando a mão e pedindo [dinheiro] do governo federal”.
Com relação ao laboratório da UFPB que possui e realiza testagem para a Covid-19, Valdiney disse que pretende começar a testar os servidores, professores e estudantes, em vista do retorno presencial das atividades o mais breve possível.
Com a nomeação de Valdiney, o Comitê de Mobilização pela Autonomia e contra a Intervenção na UFPB, composto por diversas entidades e coletivos da comunidade universitária, publicou uma nota na qual repudia o ato de intervenção do governo e convida toda a comunidade universitária para manifestação:
“Não vamos aceitar esta intervenção, pois não foi esta a nossa escolha. A comunidade acadêmica da UFPB escolheu a Chapa 2 nas eleições, elegendo a Professora Terezinha Martins tanto na consulta eleitoral como nos Conselhos Superiores. O professor Valdiney contou com 5% de votos na consulta e no colégio dos Conselhos Superiores não teve um único voto. A nomeação é flagrantemente ilegítima, desrespeitando a autonomia universitária e faz parte do contínuo projeto de destruição do ensino público”. Trecho da nota.
O Diretório Central dos Estudantes da UFPB também publicou uma nota no dia de hoje, em defesa da autonomia universitária.
Estudantes, técnicos e professores iniciaram um ato em frente à reitoria da (UFPB) às 16h, contra a nomeação do reitor-interventor. O ato ainda não possui previsão de término.
