Caroline Custódio – UFSC à Esquerda – 24/05/2022.
As aulas presenciais na Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) retornaram em 18 de abril. Desde estão, aqueles que estudam e trabalham no Centro de Filosofia e Ciências Humanas (CFH) têm sentido os efeitos do corte orçamentário nas universidades e consequente descaso com a infraestrutura da instituição.
No dia 28 de abril, um dos banheiros do Bloco A do prédio do CFH pegou fogo. O incêndio teve início em um depósito de produtos de higiene, causado por problemas elétricos. De acordo com publicação do Centro Acadêmico Livre de Ciências Sociais (CALCS), estudantes seguem relatando estouros e clarões, que seriam possíveis novos curtos-circuitos no mesmo prédio.
Após cerca de dois anos com sua estrutura física fechada, o CFH não passou sequer por uma vistoria para se garantir um retorno seguro; realidade enfrentada também por outros Centros de Ensino.
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Felizmente o incêndio foi controlado e não se alastrou, e o CFH possui uma estrutura que permite a evacuação do prédio por diferentes saídas; o que não é a realidade de outros Centros de Ensino onde, a partir de um possível incêndio em andares mais baixos, aqueles que estiverem acima dificilmente conseguiriam sair.
Desde esse ocorrido, os blocos de aula do CFH encontram-se sem banheiros para uso. Todos os banheiros foram afetados e interditados após o incêndio, com exceção dos localizados no térreo do Bloco A que encontra-se em reforma. As redes elétrica e hidráulica do Bloco A encontram-se inativas e a reforma do hall está com atraso devido ao incêndio.
De acordo com uma de nossas leitoras, há professores que estão dando intervalos de 40 minutos para que os estudantes consigam encontrar banheiros para usar, em detrimento do tempo de suas aulas.
O CFH encontra-se também sem bebedouros, realidade que já se enfrentava antes da pandemia mas que agora está pior. Antes, com sorte, era ainda possível encontrar um ou outro bebedouro funcionando por aí, mas agora é preciso ir até outro Centro para beber água. Além disso, não há também lanchonetes para tomar café e lanchar; hoje à tarde a direção do CFH comunicou que a licitação para instalação da lanchonete foi concluída, mas será preciso aguardar a reforma do Bloco A ser concluída.
O CFH encontra-se quase que inabitável. Não há como beber água, comer ou fazer necessidades fisiológicas. Se vai apenas para assistir às aulas, e olhe lá.
Essa falta de estrutura, além de colocar em risco as vidas de estudantes e trabalhadores que a qualquer momento podem ser surpreendidos por um incêndio, também expele as pessoas de um vida universitária, umas vez que não é possível ficar por muito tempo nesse espaço sem precisar buscar recursos em outro lugar.
Desde 2019 as salas de aula também ficam todas trancadas com chave para que os estudantes não possam usá-las para reuniões, grupos de estudos, realização de trabalhos em grupo, entre outras possibilidades. E o prédio onde ficam as salas dos Centros Acadêmicos (CAs) fecha às 19h pois não há trabalhadores contratados para ficar na portaria do prédio; quando chega esse horário os estudantes têm sido expulsos do espaço.
Para piorar ainda mais a situação, a Biblioteca Setorial e Sala de Leitura José Saramago, que fica no CFH, também está fechada. Dessa forma não há disponibilidade de espaço e computadores para aqueles que não possuem recurso próprio para fazer seus trabalhos e estudos. Alguns de nossos leitores relatam que o sinal de internet também não tem pego direito no Centro de Ensino.
O retorno presencial para aqueles que estudam no CFH tem sido, dessa forma, regado a insegurança e falta de condições para efetivação de ensino, pesquisa e extensão. Parece até mesmo que não se gostaria que essas pessoas retornassem a habitar a universidade tal como se deve.
O CALCS realizou uma intervenção denunciando a situação e apresentando suas reivindicações para construção de uma universidade pública, além de pedir por uma reunião com a Direção do CFH. É de fundamental importância que mais Centros Acadêmicos debatam esse tema e acordem a comunidade universitária para a realidade que se enfrenta não apenas no CFH, nem apenas na UFSC, mas em todas as Universidades Brasileiras.