Foto: Manifestação na Novembrada. Arquivo Agecom/UFSC

[Notícia] Centros Acadêmicos da UFSC publicam Carta Aberta aos Estudantes

Foto: Manifestação em 30 de novembro de 1979, durante a Ditadura Militar, dia registrado na história como Novembrada. Arquivo Agecom/UFSC

Maria Alice de Carvalho – Redação UàE – 29/10/2018

Na última sexta-feira (26), há dois dias das eleições gerais em nosso país, os Centros Acadêmicos Livres de Arquitetura, Biologia, Economia e Psicologia da UFSC publicaram uma Carta aos Estudantes, na qual analisam brevemente a atual conjuntura política e apontam quais são as perspectivas para o Movimento Estudantil diante deste cenário.

“A conjuntura de crise e a iminência do segundo turno do processo eleitoral, cujas perspectivas são nebulosas e problemáticas, exigem do movimento estudantil uma leitura clara das causas e consequências do nosso atual momento. Somente com a análise criteriosa das especificidades do cenário atual e com a autocrítica necessária, o movimento estudantil poderá remontar o seu passado vitorioso de lutas e conquista.[…]”

Com esse trecho os estudantes iniciam a carta que apesar de publicada antes do resultado das eleições, abordava já quais seriam os desafios do Movimento Estudantil e da classe trabalhadora após o dia 28, independente de qual candidato se elegesse. Realizando, de forma clara, a distinta intensidade que esses desafios poderiam ter caso se elegesse Haddad ou Bolsonaro.

“[…] Qualquer que seja a solução do dilema colocado nesse segundo turno, depois do dia 28 uma questão terá que ser enfrentada por nós, a juventude: é o assalto aos nossos futuros. Não podemos perder de vista que nós estudantes somos também classe trabalhadora; se por algum tempo foi cultivada a ilusão de que o ingresso em uma Universidade Pública nos destacava dos laços sociais do trabalho, da batalha cotidiana pelos meios de vida, ficamos agora desencantados: somos forçados a reconhecer que somos atados ao trabalho, à perspectiva de trabalhar até morrer assim que concluirmos nossos estudos. Estudar para trabalhar. Somos forçados mesmo a enxergar que nossos colegas e nós mesmos nunca deixamos de trabalhar para estudar, para pagar o aluguel, as contas. Somos nós, a juventude trabalhadora, a quem ficou reservado o desafio histórico de enfrentar tudo o que virá por aí. Coube a nós, estudantes e trabalhadores, ajustar as contas com o passado da Ditadura que escancarou a porta do armário e voltou para nos assombrar.[…]”

Na Carta, os estudantes realizam uma retomada de quais lutas a esquerda do Movimento Estudantil já foi capaz de travar e apontam que nos últimos anos essa se fez ausente nas principais lutas do país. E, diante disso, anunciam aos estudantes que daqui pra frente a esquerda do Movimento Estudantil deverá, para enfrentar os desafios, se reorganizar de forma essencialmente distinta da qual vem se organizando.

“[…]Os dias que estão por vir serão de extrema complexidade, uma complexidade bem maior que a atual, e serão duros. Eles nos apresentarão uma realidade com a qual nossa geração não possui familiaridade alguma. Nos perguntamos, inclusive, se estamos de fato preparados para isso. É importante essa colocação, não para que ela cumpra uma função de desânimo e nos leve a aceitar a derrota, mas  sim para apontar que, para enfrentar os dias que estão por vir, precisaremos construir um Movimento Estudantil de Esquerda essencialmente diferente do qual viemos até então construindo.[…]”

Os estudantes finalizam a carta convidando, então, seus pares a construir esse Movimento Estudantil forte que eles apontam ser necessário, retomando a coletividade e aquilo que juntos podem ser e construir.

“[…]O sistema capitalista foi, estrategicamente, nos ensinando a somente ser indivíduos, minando nossa possibilidade de diálogos e articulações e, assim, desaprendemos a ser coletivo. Não temos, porém, mais para onde ir senão para a luta. Juntas. Como disse Vladimir Safatle, “nós somos a última barreira contra essa luta que já era esperada”. O nosso corpo estudantil é potente e a própria denominação já diz, somos “corpo”: O que pode um corpo quando se propõe a ser um corpo em movimento? Ao fortalecer e participar de espaços de vivência coletiva, como são os Centros Acadêmicos e os Grêmios Estudantis, estamos formando, percebendo e organizando de novo o “corpo” estudantil. Só coletivamente que se pode decidir se o corpo vai se responsabilizar de novo pelas lutas que deixou de fazer e pela perda de sensibilidade frente às diversas violências que foi testemunha.[…]”

Leia na íntegra a Carta Aberta aos Estudantes, elaborada pelos quatro Centros Acadêmicos.

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