Helena Lima – Redação Universidade à Esquerda – 07/05/2021
Na manhã desta quinta-feira, dia seis de maio, os moradores da favela Jacarezinho, na Zona Norte do Rio de Janeiro, sofreram a maior chacina da história do estado, comandada pela Operação Exceptis, ordenada de forma oficial pela Polícia Civil e autorizada pelo Supremo Tribunal Federal (STF).
Apesar dos 25 mortos em um período de três horas e meia e duas pessoas atingidas dentro do metrô que passava próximo à comunidade, representantes da Polícia Civil negam que tenham ocorrido execuções ou irregularidades na operação em Jacarezinho.
O delegado Fabrício Oliveira, coordenador da Core (Coordenadoria de Recursos Especiais da Polícia Civil), afirmou que a letalidade da operação é fruto da decisão do STF de suspender as operações nas favelas do Rio durante a pandemia do coronavírus. Entende-se que as mortes estariam mais dispersas no tempo, e “o fato de não estarmos fazendo essas incursões, no momento em que se faz, a tendência é que isso [a letalidade] aumente”, declarou Oliveira.
Os relatos e imagens já no meio-dia da quinta-feira apresentam um quadro diferente. Segundo os moradores e jornalistas presentes no local, muitas das pessoas foram executadas sem troca de tiros. Um jovem foi morto sentado em uma cadeira de plástico e outro no quarto de uma menina de oito anos, muitos dentro de casa.
A polícia, no entanto, removeu os corpos de onde foram executados (e as manchas de sangue arrastadas nas casas comprovam isso), alterando a cena do crime para que parecessem frutos de um embate armado.
A Operação Exceptis tinha a justificativa de ser um mandado de prisão de 21 jovens traficantes ligados ao aliciamento de crianças e adolescentes para integrar o Comando Vermelho. Para tal, segundo nota da Polícia Civil,
“Foi montada uma estrutura típica de guerra provida de centenas de ‘soldados’ munidos com fuzis, pistolas, granadas, coletes balísticos, roupas camufladas e todo tipo de acessórios militares”.
Às 7h30 da manhã, no entanto, com a morte de um dos policiais, a operação se tornou ainda mais violenta, segundo o advogado Joel Luiz Costa, morador do Jacarezinho. A partir daí a invasão teria se tornado uma operação de vingança.
Segundo Joel Luiz da Costa, “estudos comprovam que quando há uma operação policial num território, e há vitimização de um agente, a operação posterior logo depois naquele mesmo território tem de três a quatro vezes mais letalidade policial que o padrão”.
A comunidade de Jacarezinho mobilizou um ato hoje, às 17 horas, para manifestar a revolta contra a violência policial no Rio de Janeiro.
Na história do Rio de Janeiro duas outras operações policiais foram tão letais como a Chacina do Jacarezinho, no Vigário Geral (1993) e na Baixada Fluminense (2005).
Em 1993, uma operação paramilitar invadiu a comunidade do Vigário Geral e executou 21 moradores, que não tinham nenhuma vinculação com o tráfico. O crime foi motivado por vingança por conta da morte de quatro policiais atribuídos ao Comando Vermelho. Somente um dos 50 policiais envolvidos continuava preso em 2013.
Em 2005, na Baixada Fluminense, quatro policiais militares insatisfeitos com a troca de comandos em uma série de batalhões resolveram se vingar do comando da corporação realizando um assasinato em massa na favela. Dentro de um carro, passaram por Nova Iguaçu e Queimados atirando, matando 29 pessoas.
Wilson Witzel (PSC) foi eleito governador do Rio de Janeiro quebrando a placa de Marielle Franco e fazendo apologias à violência policial. Após seu impeachment, o vice Cláudio Castro (PSC), assumiu o cargo na semana passada, onde declarou na cerimônia de posse:
“Vou continuar enfraquecendo as milícias, reduzindo as taxas de crime, buscando cada vez mais uma polícia que preserve vidas, sobretudo as dos nossos bravos e guerreiros policiais. Uma polícia que atue com inteligência, que seja próxima do cidadão”.
O governador do estado afirma não saber da operação até ela começar, se retirando da responsabilidade do crime.