Beatriz Costa – Redação/UàE – 16/05/2018
Nesta segunda-feira (14), foi apresentado à comunidade o relatório final da Comissão Memória e Verdade da Universidade Federal de Santa Catarina (CVM-UFSC), no Auditório da Reitoria. A CMV-UFSC foi criada em dezembro de 2014 pelo CUn, dada a necessidade de apurar e identificar os atos arbitrários, violentos e de cerceamento das liberdades individuais e dos direitos humanos que atingiram a comunidade da UFSC entre 1964 e 1988. Outro fator importante para sua criação é o dever da instituição de revisitar estes fatos para estabelecer marcos de memória que evidenciem para sua comunidade e a sociedade em geral, a apuração de abusos contra as liberdades e a dignidade humana, além de atos de violação da autonomia universitária, para que fiquem registradas estas experiências para as futuras gerações.
Entre os anos de 2015 e 2017, a CMV-UFSC fez pesquisas em fontes primárias nos acervos de Santa Catarina, Paraná, São Paulo e Brasília. Colheu 21 depoimentos individuais de protagonistas que viveram o período da ditadura civil-militar na instituição e realizou três audiências públicas, que contou com 13 depoentes.
Jean-Marie Farines, coordenador da Comissão, iniciou a apresentação do relatório afirmando que há uma ideia equivocada de que os efeitos da ditadura militar não foram tão significativos no âmbito da universidade: “A história que permanece na UFSC é a de que aqui não houve fatos marcantes de repressão, que reinava a paz e a cordialidade entre administração, professores e estudantes. E que graças a esse quase consenso, e pelo protagonismo de seu reitor e de sua administração, a UFSC foi pioneira da Reforma Universitária. Um dos objetivos principais da Comissão foi buscar nas fontes primárias e nos depoimentos fatos que validassem ou não a narrativa construída até o momento na UFSC. Esses documentos forneceram subsídios para reescrever a história e para trazer a verdade para a memória da comunidade universitária. Não podemos nos restringir unicamente pela visão oferecida por um mito que foi construído.”
O relatório revela uma participação ativa da UFSC na repressão da ditadura e uma relação estreita entre a administração da Universidade na época, na figura do reitor João David Ferreira Lima, e os militares. Ficou comprovado que o papel de espionagem, denúncia, censura, repressão e controle ideológico foi assumido em determinados períodos pela administração da instituição, através de seus membros, ou do próprio reitor. Vale lembrar que João David Ferreira Lima, primeiro reitor da UFSC, empresta seu nome ao principal campus da UFSC.
Além de trazer à tona diversas informações, o relatório também faz recomendações à universidade, sendo um documento muito importante para resgate de nossa história. Este e outros materiais produzidos pela Comissão estão disponíveis para acesso público no site Memória e Direitos Humanos.