Imagem: Hospital Universitário (HU) da UFRJ, com faixa em protesto à EBSERH. Foto: Sintufrj.
Maria Alice de Carvalho – Redação Universidade à Esquerda – 23/11/2021
Ocorreu hoje (23) a sessão do Conselho Universitário (CONSUNI) da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) que discutiu a adesão à Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (EBSERH).
A comunidade da UFRJ barrou, em 2013, a implantação da EBSERH na universidade, em uma luta que envolveu estudantes, docentes e técnico-administrativos. Agora, a Reitoria ameaça colocar todo o complexo hospitalar universitário nas mãos da EBSERH de forma atropelada.
Durante a sessão, alguns conselheiros e outros membros da comunidade universitária estiveram em ato, participando da sessão de forma coletiva a partir da Sala dos Conselhos da UFRJ, onde costumava ocorrer presencialmente as sessões. Essa forma de participação permitiu uma maior politização do espaço, garantindo que parte da comunidade pudesse estar presente e se manifestar.
As falas daqueles que hoje constroem o Movimento Barrar a EBSERH na UFRJ foram no sentido de expressar a incongruência da EBSERH com a função pública da Universidade e a catástrofe que é a adesão a essa empresa nos Hospitais Universitários, o que pode ser visto em locais onde a empresa já foi implantada.
Durante a sessão, a reitoria seguiu emplacando sua política de cerceamento do debate. Um exemplo foi o fato de que, após pedidos, havia sido concedido o direito a fala de dez pessoas da comunidade universitária que não possuem cadeira no Conselho, para que pudessem se manifestar sobre a entrada da EBSERH na UFRJ e, mesmo com as dez falas concedidas, o Conselho presidido pela reitoria rejeitou a fala da maioria dos inscritos, todos estudantes representantes de Centros Acadêmicos.
Dentre as poucas falas permitidas, esteve a estudante do Centro Acadêmico de Enfermagem que se solidarizou aos colegas impedidos de falar e se pronunciou contra a EBSERH, sendo favorável a ampliação do debate. Ela foi a única estudante de fora do Conselho autorizada a falar. Também foi lida a moção escrita pelo Conselho de Extensão da UFRJ, contra a EBSERH.
Após esse período de falas de pessoas da comunidade, que levou tempo devido à decisão da reitoria por votar a autorização de cada pessoa, alguns conselheiros realizaram o pedido de suspensão da sessão do CONSUNI, para seguir com debate na comunidade e realizar qualquer tomada de decisão em uma sessão mais a frente. Esse pedido estava em coerência com o que vinha sendo pedido por aqueles em luta contra a EBSERH, no sentido de ampliar o debate e que este não deveria ser feito de forma remota.
Importante lembrar que a sessão que ocorreu hoje foi chamada às pressas pela reitoria, em caráter extraordinário e deliberativo. Os estudantes, professores e técnico-administrativos apontaram que não houve tempo suficiente desde a convocação da sessão para discutir com suas bases.
Após o pedido de suspensão da sessão, foi realizada votação e foi decidido pela não suspensão da sessão do CONSUNI, por 39 votos contrários à suspensão e 14 votos favoráveis. A proposta era de que a sessão fosse postergada para o dia 2 de dezembro.
Com o início do expediente, os estudantes seguiram se fazendo presentes e denunciando o cerceamento de suas falas. A reitora Denise Pires tentou fechar os microfones daqueles que se manifestavam, mas estes não se calaram e, por diversos microfones daqueles que se faziam presentes na UFRJ, escutava-se o em coro o grito de “Fora EBSERH”.
Após algum tempo, foi passada a palavra para o relator do processo, Walter Issami Suemitsu, que leu seu parecer favorável à adesão da EBSERH na UFRJ. O Conselheiro iniciou sua fala alegando que votou contra as falas estudantis por estar cansado de “escutar as mesmas coisas”, diminuindo a contribuição discente.
Além disso, Walter também tentou deslegitimar a decisão da comunidade da UFRJ em 2013 contra a EBSERH, dizendo que “nem tinha tanta gente assim”. Na época, houve um amplo processo coletivo de discussão e tomada de decisão, e no dia da sessão do CONSUNI se fizeram presentes cerca de mais de 2 mil pessoas. Agora eles tentam mudar essa decisão em uma sessão online e extraordinária.
Deu-se seguimento as falas dos conselheiros, dentre os quais aqueles favoráveis e aqueles contra a EBSERH. Dentre os professores que, dentro da política da reitoria, tinham como objetivo aprovar já nessa sessão a entrada da EBSERH na UFRJ, as falas foram falaciosas, utilizando do argumento de que a EBSERH abriria mais leitos no Hospitais Universitários e que traria um regime de trabalho mais justo para os trabalhadores da saúde. Questões que já foram desmentidas pelas experiências já existentes da gestão da EBSERH em outros Hospitais Universitários.
Durante a sessão, aqueles contra a EBSERH, sobretudo os que compõem a bancada estudantil, buscaram desmentir essas falácias e se colocar ao lado da saúde e educação públicas, prezando por um bom serviço nos Hospitais Universitários, por uma formação íntegra e crítica dos estudantes e por regimes justos de trabalho.
O estudante João Pedro de Paula, representante do DCE, apresentou durante a sessão um vídeo da atual reitora que, durante sua época de campanha, garantiu que a EBSERH não seria pautada durante sua gestão.
Após a fala do estudante e de sua colega também do DCE Julia Vilhena , ecoou em coro o grito “Ô Denise, qual é que é? Mentiu pros estudantes e agora quer a EBSERH”
Já ao fim das falas dos conselheiros, a sessão extraordinária do CONSUNI se encerrou após o pedido de vistas do processo pelos Conselheiros Nelson Braga e Francisco de Paula.
O debate público e a luta devem continuar sendo travados pelo Movimento Barrar a EBSERH na UFRJ nos próximos dias.
Fora EBSERH!