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Martim Campos – Redação UFSC à Esquerda – 10/12/2021
Nesta quinta-feira (09/12), a Câmara de Pós-graduação (CPG) da UFSC aprovou em reunião o retorno presencial das atividades da modalidade stricto sensu no ano de 2022, mas com ampla abertura para continuidade de atividades remotas no conjunto da pós-graduação.
A proposta aprovada de resolução normativa do cronograma do ano letivo da Pós-Graduação possibilita que todas as disciplinas da pós possam continuar sendo ofertadas com alguma carga de atividades não presenciais durante o semestre de 2022.1. 20% das disciplinas dos PPGs poderão ser ofertadas de forma completamente remota e os 80% restantes poderão ser ofertadas com até 49% de sua carga em atividades remotas.
Tal abertura foi aprovada mediante o entendimento de que se trata de uma resolução transitória, mas com diversas dúvidas e entendimentos diferentes sobre a sua abrangência, mesmo após a aprovação da resolução.
Na proposta original do texto da relatora Rita de Cássia Siqueira, constavam 7 artigos com os prazos de início e término do semestre em 2022; a definição do número de semanas de cada semestre, trimestre e bimestre; a possibilidade de professores externos participarem de sistemas de áudio e vídeo na docência compartilhada de disciplinas presenciais; e a possibilidade dos Programas de Pós-graduação (PPG) ofertarem até 20% das disciplinas por meio de atividades pedagógicas não-presenciais no primeiro semestre letivo de 2022.
Ao apresentar a proposta, a relatora apontou que nesse momento a resolução contempla itens colocados em consonância com as políticas da universidade e com a portaria de 2019 da CAPES.
Na discussão do ponto, conselheiros docentes começaram a defender o aumento da carga de atividades de ensino a serem mantidas remotamente no momento de transição. Foi argumentado que os distintos programas e suas especificidades precisam ser considerados e por isso deveria ser aumentada a flexibilização da carga remota; que as condições dos estudantes de retornar presencialmente à universidade está prejudicada pelos cortes de bolsas; e que mediante a iminência de uma nova variante alarmante de Coronavírus, a Ômicron, ainda é preciso manter-se em alerta quanto aos riscos de um retorno imediato de todos à universidade. Deste modo, uma das conselheiras docentes, a Profa Dra Ana Carolina Fernandes, do PPG em Nutrição, apresentou uma proposta de flexibilização e aumento do percentual: que até 49% das disciplinas pudessem ser realizadas de forma remota, mas que o excedente desses 20%, os quais estavam previstos no parecer inicial da relatora, fosse síncrono.
A aprovação da alteração de aumento da carga de atividades remotas recebeu 17 votos favoráveis (84%) e 4 votos contrários à alteração do parecer (19%).
Ao longo da discussão, a proposta não ficou clara e foi gerando dúvidas sobre se sua abrangência seria em relação a quantidade de disciplinas ofertadas ou sobre a carga de atividades que cada disciplina poderia ofertar remotamente, se a porcentagem de 49% era já considerando os 20% anteriormente proposto, ou se somando às essa quantidade e totalizando 69% de carga de atividade remota, entre outras questões.
Tais dúvidas permaneceram mesmo após a votação e aprovação da proposta, o que levou à uma retomada da discussão ao fim da reunião da Câmara. Mesmo com as dúvidas e diferentes entendimentos, a Pró-Reitora de Pós-Graduação, Profa. Dra. Cristiane Derani, não retomou a aprovação do ponto e defendeu que a questão seria resolvida adequando a redação do artigo que trata da oferta de disciplinas remotas em 2022.1, ao entendimento da professora que propôs a alteração. Ana Carolina apresentou que no seu entendimento, até 20% das disciplinas poderão ser ofertadas de forma completamente remota, em atividades síncronas e assíncronas, e as demais 80% poderão ser ofertadas com até 49% de seu conteúdo de forma remota, em atividades síncronas.
Desse modo, a pró-reitoria deixou claro que não importa que os demais conselheiros não tenham clareza sobre o conteúdo da matéria que estão votando e trata o encaminhamento de uma questão relevante como algo de propriedade apenas dos sujeitos envolvidos em sua proposição. Mesmo que as dúvidas tenham se expressado inclusive pelo superintendente de pós-graduação, Prof. Dr. Juarez Vieira do Nascimento, que perguntou no chat da reunião, logo em seguida à votação:
“Em síntese, 51% das disciplinas ofertadas deverão ser totalmente presencial, até 29% do conteúdo das disciplinas serem ministradas por meio de atividades síncronas e até 20% das disciplinas serem ministradas totalmente por meio remoto (atividades síncronas e assíncronas). É isso?”
Além do pedido de aumento de atividades remotas, a discussão do ensino híbrido e apoio a essa modalidade apareceu na discussão do ponto, apesar de em diversos momentos ser remarcado o fato da Resolução ter o caráter transitório.
Estavam sendo expressas a todo momento a posição de alguns dos conselheiros sobre esta modalidade de ensino: de que seria importante aproveitar as experiências “positivas” do modelo atual, da necessidade de modernização e escutar a nova sociedade digital que surge agora, de que o ensino híbrido já é uma realidade desde a década de 80 e estaríamos atrasados.
A representação estudantil apresentou preocupações quanto às marcas permanentes do ensino remoto e a naturalização da hibridização do ensino como algo que veio para ficar, sem ampla discussão com a comunidade universitária sobre os seus significados para o futuro da universidade pública. Isto porque a reitoria da universidade já vem atuando de forma a proporcionar enormes aberturas nesse sentido, tanto nas recentes reformas que ocorreram na Pós-Graduação, quanto na proposta de minuta que visa regularizar a adoção de até 20% de EAD na carga horária de disciplinas dos cursos de graduação.
A representação discente ainda ressaltou a situação difícil atual do retorno, com questões para considerar neste momento tanto de condições sanitárias, mas também da estrutura da universitária e orçamento e das condições das e dos estudantes de retorno e permanência na instituição. Entretanto, foi lembrado que não se pode deixar de lado o debate sobre a deterioração da universidade de forma mais sólida há anos, por conta muitas vezes das próprias políticas que são aprovadas sem maiores discussões .