Foto: Dani Lottermann/Agecom
Maria Alice de Carvalho – Redação UàE – 05/09/2018
Pesquisadoras da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) desenvolvem um sorvete que ajuda a minimizar os efeitos colaterais da quimioterapia em pacientes com câncer. O sorvete atua como um complemento alimentar e vem sendo testado em pacientes do Hospital Universitário (HU) há um ano.
De acordo com o Instituto Nacional do Câncer (INCA), o Brasil deve registrar cerca de 600 mil novos casos de câncer apenas em 2018. Entre os tratamentos da doença, o mais frequente é a quimioterapia, a qual, apesar de necessária e eficaz, acarreta em inúmeros efeitos colaterais, como queda de cabelo, perda de apetite, alterações do paladar, enjoos, vômitos, aftas, feridas na boca, entre outros.
Diante disso, pesquisadoras da área de nutrição da UFSC viram a necessidade de produzir um novo conhecimento científico que contribuísse com a recuperação de pacientes em processo de tratamento quimioterápico.
A pesquisa foi coordenada pela professora Francilene Kunradi Vieira, do Departamento de Nutrição da UFSC. E esteve à frente do projeto a nutricionista Paloma Mannes, residente em Alta Complexidade do Programa de Residência Integrada Multiprofissional em Saúde do HU, e a nutricionista da unidade de oncohematologia Akemi Arenas Kami, contando ainda com o apoio da equipe de nutricionistas do hospital e da equipe de oncohematologia.
O complemento alimentar foi desenvolvido no ano passado e avaliado entre o período de setembro e dezembro de 2017, sendo experimentado por provadores sem câncer e por pacientes em tratamento quimioterápico.
Como há estudos que mostram que pacientes em quimioterapia possuem preferência por frutas, suco de frutas e gelados, o sorvete foi desenvolvido nos sabores morango, limão e chocolate. A alternativa alimentar através do consumo de gelo ou alimentos gelados é chamada crioterapia e tem sido buscada por profissionais da saúde para o tratamento de pacientes em quimioterapia.
De acordo com a pesquisadora Paloma, o percentual de aceitação do suplemento foi de 75% e todos os sabores foram bem aceitos pelos grupos.
Os pacientes em quimioterapia, por possuírem consequentemente mucosite (uma ferida na garganta) e outras feridas bucais, acabam por ter dificuldade em ingerir alimentos quentes e em pedaços maiores, além de sentirem bastante náusea com facilidade. O sorvete, neste sentido, contribui anestesiando a cavidade bucal por conta de sua temperatura e cumpre a função de nutrir o paciente que não consegue se alimentar; os sabores de sorvete foram testados para serem as melhores opções e não gerarem náusea nos pacientes.
O sorvete é composto por fruta, azeite de oliva desodorizado, whey protein isolado (uma proteína de alto valor biológico) e fibra, além de não conter lactose e glúten. Por conta da especificidade nutricional do produto, foi preciso seis meses para chegar à fórmula desejada pelas pesquisadoras, tendo sido a principal dificuldade a introdução de gordura de maior valor nutricional, o azeite de oliva desodorizado, e uma quantidade grande de proteína, o que é muito difícil de se combinar em um sorvete.
Os pacientes do HU da UFSC que participaram do processo experimental da pesquisa aprovaram o uso do sorvete em sua recuperação e disseram que o processo quimioterápico se tornou mais fácil e menos desagradável.
Agora, o projeto é levar o complemento alimentar a todos os pacientes internados ou em tratamento domiciliar com necessidades nutricionais que requeiram o aumento do valor calórico e proteico. De acordo com as pesquisadoras, o alimento que faz parte de um repertório alimentar de pessoas em todas as faixas etárias e que respeita os hábitos alimentare de sujeitos já tão fragilizados, poderá ser utilizado também por pacientes com diferentes tipos de câncer, com distúrbios neurológicos, pacientes pós-trauma bucomaxilo, entre outras situações como idosos que não possuem vontade de se alimentar.