[Notícia] Estagiários do SAPSI escrevem carta em adesão à greve estudantil de Psicologia

Amanda A. – Redação UàE – 06/09/2019 

Após reunião realizada entre os estagiários e extensionistas do Serviço de Atenção Psicológica da UFSC (SAPSI) na última quinta-feira (8), estudantes em apoio e adesão à greve deliberada na última Assembleia Estudantil de Psicologia realizada na segunda-feira (2) decidem por paralisar as atividades no serviço. Os alunos elaboraram uma carta apontando a importância da paralisação das atividades nas modalidades de acolhimento e atendimento, salientando a impossibilidade de seguir respondendo às demandas da comunidade com as precárias condições de permanência e em solidariedade aos terceirizados responsáveis pela limpeza do prédio – os quais estão em cada vez menor número para a realização das atividades, gerando problemas de saúde oriundos da sobrecarga de trabalho. Além disso, a carta aponta para a já existente insuficiência técnica – tanto administrativa quanto psicológica – no campo em relação ao grande número de estagiários, condição que já impacta negativamente as atividades de ensino e extensão atuais, bem como sobrecarrega os técnicos do Serviço.  

A Carta, lida na Assembleia do Curso de Psicologia hoje (6), segue na íntegra:

CARTA À COMUNIDADE DOS ESTAGIÁRIOS E EXTENSIONISTAS DO SAPSI QUE ADERIRAM À GREVE ESTUDANTIL DE PSICOLOGIA

*A carta a seguir não representa a opinião de todos os estagiários e extensionistas do serviço.

Na última quinta-feira, dia 5 de setembro, foi realizada uma reunião no Serviço de Atendimento em Psicologia da UFSC para discutir o que significa para o seu funcionamento, a Greve Estudantil, deliberada no dia 2 desse mesmo mês, pelos estudantes do curso de Psicologia. A partir do debate realizado, os estudantes do SAPSI que aderiram à greve, manifestam através desta carta, seu posicionamento. Essa reunião foi chamada a partir do reconhecimento das especificidades do serviço que presta atendimento psicológico tanto à comunidade dos estudantes desta universidade quanto ao seu entorno, subsidiado pelas discussões amplamente realizadas na última Assembleia Estudantil de Psicologia na qual foi deliberada a greve imediata em todas as atividades do curso, nos exercícios de ensino, pesquisa e extensão, nos quais incluem-se os estágios.

Pensando que os cortes implicam em fatos que incidem para além das próprias determinações pessoais sobre a continuidade ou não do serviço, os estagiários reuniram-se para discutir um posicionamento coletivo acerca da deliberação de greve. Debatemos os limites da continuidade dos atendimentos no SAPSI, uma vez que há uma compreensão – por parte daqueles que assinam essa carta – do sentido coletivo do ato de greve.

O cenário de cortes na receita das IFES, que se apresenta à comunidade universitária, tem consequências nefastas para estas instituições. Eles decorrem de políticas de Estado, que não tiveram seu início no governo atual, mas encontram nele o seu desenlace mais dramático. A alternativa dada pelo programa Future-se também não nos representa. Temos aí apenas uma política que coloca a Universidade em uma ainda maior dependência ao interesse privado, eliminando por completo o mais alto valor de uma instituição como a nossa: a da autonomia e poder crítico para enfrentar, pesquisar e desenvolver conhecimento sobre as complexidades de nossa população.

Tendo em vista a gravidade da conjuntura, cremos estar justificada a importância de pensarmos juntos essas questões e tomar um posicionamento coletivo. É, por acaso, o desejo individual dos estudantes que assinam esta carta interromper os atendimentos que realizam no SAPSI? Absolutamente não. O que se impõe é a real necessidade de construir uma luta coletiva através do instrumento de greve. O momento é extremamente sério e, se nós não o enfrentarmos diretamente, parando a produção de riqueza do nosso país, não haverá um futuro que não seja privatizado nesta universidade.

O que estamos comunicando quando dizemos ser o funcionamento do SAPSI imprescindível à comunidade, senão a própria falência dos modelos de gestão do sofrimento que se tornaram nossas políticas públicas de saúde mental? Afinal de contas, os estagiários, que experimentam na sua prática cotidiana, o que é gerir os efeitos psíquicos do desemprego, da precariedade e da violência a que estão submetidos os trabalhadores, sabem muito bem a limitação da sua clínica e estão cientes de que agir sobre as contingências que produzem esse sofrimento passa pelo enfrentamento às políticas ultraliberais. Tais políticas, evidentemente, não afetam apenas a Universidade Pública, mas sim a classe trabalhadora como um todo, e a Reforma da Previdência é um exemplo disso.

O que estamos comunicando quando aceitamos condições de trabalho em nossos estágios sem restaurante universitário, sem bolsa ou auxílio transporte? Na realidade dos estágios obrigatórios, as únicas condições que temos para manter qualidade em nossas atividades são as próprias condições que a Universidade pode nos oferecer. E o que dizer dos muitos bolsistas de extensão que, sem as bolsas, perdem também as suas condições de permanência?

Como se já não bastasse a condição estudantil, observamos as condições, cada vez mais degradadas, de trabalho, que os técnicos administrativos do serviço encontram para a realização de sua atividade. Isso se expressa, sobretudo, no número reduzido de profissionais responsáveis pela supervisão técnica e pedagógica dos estudantes que atendem no serviço e daqueles que realizam as atividades administrativas do SAPSI. A situação é tão alarmante a ponto de podermos contar, em alguns dias, somente com um técnico administrativo na secretaria e um técnico em psicologia por turno (!), para cerca de 40 estagiários e extensionistas que atuam no serviço.

E, enfim, o que comunicamos quando decidimos manter ativo o serviço, quando mais de 120 terceirizados são demitidos, confluindo com o brutal mar de desempregados e com a intensificação ainda maior dos que ficam na Universidade cobrindo um trabalho 3, 4, 5 vezes maior? Esses mesmos que ainda são destituídos por seus empregadores de qualquer possibilidade de expressão política, sob ameaça de demissão direta. Nesse cenário, já se perguntaram: será que algum deles sequer pôde ser assistido por algum serviço que oferecemos lá?

A sobrecarga decorrente desse quadro e o adoecimento que ele gera, tem determinado a precariedade deste serviço há tempos. Se temos, hoje, uma situação crítica, como estaremos operando futuramente, tendo em vista o aprofundamento dos cortes?

É em virtude da solidariedade com esses trabalhadores que deliberamos greve, exigindo a renegociação do contrato com as empresas prestadores de serviço, de forma que os funcionários demitidos sejam readmitidos. E é para defender o sentido público da universidade e das condições de trabalho existentes nela que exigimos a reversão dos cortes nos gastos de Educação e nos opomos a efetivação do programa Future-se.

Acreditamos, portanto, que a ação é imediata e precisa ser uma resposta à altura dos ataques. É necessário o apoio real e não somente retórico à greve. Os estudantes grevistas, assumem o risco que lhes cabe ao optar pela via da luta. Agora, cabe aos colegas e as categorias restantes a solidariedade à essa luta que beneficia a nós todos.

O Serviço, que presta serviço à comunidade nas modalidades de atendimento e acolhimento (plantão de urgência psicológica), seguirá funcionando com o quadro reduzido e sob execução majoritária do corpo técnico somada a alguns estudantes que optaram por não aderir à greve. 

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