Foto: Praça da Dignidade, Santiago, Chile. 27/12/2019 por Universitario Informado/@uinformado
José Braga – Redação UàE – 30/12/2019
A revolta dos trabalhadores chilenos não se encerrou. Mesmo com a dura repressão dos carabineros e do Estado capitalista e às pequenas concessões feitas pelo assassino Piñera e os empresários, os trabalhadores chilenos continuam a tomar às ruas em diversas cidades do país.
Na última sexta-feira, 27 de novembro, milhares de trabalhadores retomaram a Praça da Dignidad (como foi rebatizada a Praça Itália durante as manifestações). A praça havia sido cercada pelos carabineros para impedir os protestos.
Os trabalhadores não aceitam a nova constituinte aprovada no congresso, querem uma assembleia constituinte efetivamente livre e soberana em que possam decidir os rumos do país e assentar as bases de uma sociedade que permita a vida digna a todos. O “processo constituinte” aprovado no congresso terá quórum qualificado para às decisões, todos os artigos terão que ser aprovados com dois terços dos votos e privilegiando o sistema de partidos atual, dando a direita, os empresários e aos políticos neoliberais um grande poder de veto as mudanças desejadas pelos trabalhadores.
Tampouco aceitam a política repressiva do Estado levada a cabo por Piñera e os carabineros. Os protestos miram na dura repressão e reivindicam a liberdade dos trabalhadores para lutar por uma nova sociedade.
O cinismo do Estado é tamanho que nos últimos dias fizeram enorme descaso das manifestações. Um informe produzido pelo ministério do interior atribuiu às manifestações influências estrangeiras acessadas pela juventude pelas redes sociais, como por exemplo, o perigoso (sic) K-Pop (música pop coreana que tem feito sucesso entre os jovens no mundo).
Já às condições de vida e trabalho, degradantes e precárias a que estão submetidos os trabalhadores, não seriam o principal motivador da revolta. Com esta linha o Estado apela para o ultra-conservadorismo dos “valores e modo de vida de nosso país” que estaria sendo enfraquecido pela influência estrangeira.
Não bastasse esse absurdo, em entrevista à rede CNN, Piñera mentiu descaradamente ao afirmar que grande parte dos vídeos, imagens, e informações que circulam no país sobre a violência dos carabineros, da repressão do Estado seriam falsas, produzidas no estrangeiro. E ainda realizou um contrato milionário uma agência de publicidade para promover uma campanha pela paz e consenso social.
Os trabalhadores estão denunciando a grave repressão: 241 olhos perdidos por tiros de perdigões disparados pelos carabineros; 106 casos de abuso sexual realizados pelos carabineros e às forças armadas; 517 casos de tortura; e mais de 20 mortos. Mas, isso para Piñera não significa nada.
27 de dezembro
Milhares de trabalhadores foram às ruas no país indignados com a política repressiva, e às manobras de Piñera. O principal ato aconteceu em na Praça da Dignidad em Santiago. Os carabineros haviam cercado a praça que tem sido o grande ponto de encontro para os protestos. Mas, os trabalhadores a retomaram enfrentando os carabineros.
Os trabalhadores reivindicam também a derrubada de Piñera e do intendente Guevara, de Santiago, que tem dirigido a repressão na cidade. Guevara chegou a declarar que assembleias e protestos não estavam autorizados na cidade.
Durante a manifestação os carabineros atiraram bombas de gás por todas às imediações da praça. Os manifestantes denunciaram que bombas atingiram o telhado do Cine Arte Alameda e que provocaram um incêndio no edifício.
O Cine Arte funcionava como um ponto de apoio e primeiros socorros aos manifestantes, em que eram atendidos pela cruz vermelha e os movimentos de saúde que atendem aos feridos pelos carabineros nas manifestações. Os manifestantes ainda denunciaram que os carabineros atacaram os trabalhadores que tentavam conter o incêndio.
O trabalhador Mauricio Fredes, conhecido com “Lambi”, foi morto ao fugir da repressão dos carabineros ao fim do protesto. Mauricio caiu em poço eletrificado nas imediações da Praça da Dignidade enquanto corria para fugir da repressão. Enquanto realizavam as tentativas de resgate, sem saber se ele ainda estava com vida, as equipes de saúde e os manifestantes que tentavam tirá-lo do poço foram atacadas pelos carabineros.
Mauricio que era trabalhador da construção civil, recebeu homenagens ao longo deste final de semana. Um memorial foi construído no local onde caiu, e um ato foi realizado na praça. Os carabineros reprimiram o ato e destruíram o memorial. Mais tarde um grande número de trabalhadores estiveram no velório em sua casa. Mauricio foi lembrado como um grande lutador que estava na primeira linha das lutas por uma vida digna.
Ano Novo com Dignidade
Os trabalhadores organizam por conta própria um grande encontro na Praça da Dignidade para a virada do ano: #AñoNuevoconDignidad. Trata-se de um momento para dizer que às lutas não irão acabar em 2020, e que às ruas pertencem aos trabalhadores que lutam por uma vida digna.
Estão se organizando doações em vários pontos de Santiago para realizar uma ceia conjunta. Os trabalhadores organizam também um show com artistas que irão homenagear a jornada de lutas. Buscam caminhão, palco, material tudo com a solidariedade uns dos outros. Inclusive os vizinhos que moram nas imediações da praça estão disponibilizando suas janelas e sua eletricidade para colocar material de iluminação para às ruas e assim ajudar a proteger os manifestantes da repressão dos carabineros. Será um grande protesto para entrar 2020 em luta!