Foto: Tânia Rêgo/Agência Brasil.
Nina Matos – Redação UàE – 02/06/2021
Na tarde de ontem (1º), a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) assinou o contrato de transferência de tecnologia com a AstraZeneca para a produção do Insumo Farmacêutico Ativo (IFA), possibilitando a produção da primeira vacina totalmente brasileira contra o Covid-19.
O contrato, que já estava previsto desde o início da parceria entre a Fiocruz e a farmacêutica, foi assinado em uma cerimônia que ocorreu no Ministério da Saúde.
O evento contou com a presença da presidente da Fiocruz, Nísia Trindade Lima, o presidente da AstraZeneca, Carlos Sánchez-Luis, o atual ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, e o presidente da República, Jair Bolsonaro (sem partido).
Após a assinatura, apenas Bolsonaro e Queiroga discursaram. Frente ao desgaste causado pela CPI da Covid-19, Bolsonaro pediu aplausos também ao ex-ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, além de mencionar em sua fala o ex-ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo.
Em seu breve discurso, Bolsonaro conteve-se em dizer que a crise pandêmica só poderá ser superada com a imunização de todos ou da maior parte da população.
Durante toda a pandemia, Bolsonaro atuou de maneira a minimizar os impactos do vírus e a boicotar a parceria entre o Instituto Butantan e a farmacêutica chinesa Sinovac. Se o governo federal tivesse fechado os contratos com o Butantan, o Brasil poderia ter sido um dos primeiros países a vacinar a população.
Não apenas nas disputas que Bolsonaro e Dória travaram sobre a CoronaVac especificamente, o presidente, em lives e encontros com apoiadores, discursou contra a prioridade na produção de vacinas, sugerindo o uso e a ampliação do “tratamento precoce” em detrimento das campanhas de vacinação.
Apesar dos entraves produzidos pelo governo federal, com a produção do IFA pela Fiocruz, a tendência é que a vacinação acelere. Isso porque a importação dos insumos, principalmente da China, sofre com atrasos e demais dificuldades que emperram o ritmo da vacinação.
Outro ponto é que a produção do IFA no Brasil dará maior liberdade para a produção de vacinas que atendam mais especificamente às mutações que o vírus sofre no país, podendo, a longo prazo, mapear essas mutações e produzir vacinas mais eficientes para o contexto brasileiro.
A fabricação das vacinas de maneira independente é um passo fundamental para que o Brasil possa superar a crise sanitária. Com este passo, o país não precisará mais passar pelos trâmites de importação dos insumos essenciais para a fabricação das vacinas, o que significa, em suma, maior independência, já que a vacinação não precisará mais ser pautada nos termos das farmacêuticas.
Por si só, a possibilidade de fabricação dos próprios insumos ainda não é suficiente para garantir que o ritmo da vacinação no Brasil possa ser dado apenas pela sua própria indústria, tendo em vista que há, no momento, apenas dois institutos capazes de produzir vacinas para humanos.
Leia também: O gado, a vacina e as “vantagens comparativas”
Os ataques à ciência seguirão atingindo a saúde pública. Além disso, as soluções oferecidas pelo capital para o mal que ele mesmo causa são justamente as parcerias público-privado que, dentre outros fatores, retiram a autonomia para atender às demandas urgentes aos trabalhadores.
Dessa maneira, é fundamental que as lutas sigam exigindo que a vacinação seja tratada como verdadeira prioridade, recebendo todos os recursos públicos que forem necessários para que sua fabricação acelere e possa abranger toda a população o quanto antes.