Daniella Pichetti – Redação UFSC à Esquerda – 30/08/2022
No último dia 20, integrantes do quilombo Vidal Martins foram agredidos pela assessoria do governador de SC, Carlos Moisés (Republicanos), ao se aproximarem do mandatário para entregar um bilhete solicitando uma reunião. A comunidade é a primeira regularizada pelo Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (INCRA) no município, desde o dia 22 de julho, e há quatro anos luta para conseguir uma audiência com o governador. Em vídeo, é possível ver a abordagem truculenta dos agentes ao empurrarem as pessoas que se aproximaram durante o ato de campanha do candidato, na Beira Mar Continental.
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A comunidade realizou, recentemente, um ato em frente ao Centro Administrativo do Estado de Santa Catarina exigindo que Moisés assine a titulação do quilombo e garanta os direitos básicos à população. O governador não estava presente e a assessoria recebeu, após longa espera em frente à sede, os representantes. Foi encaminhado um ofício para tentar uma agenda com Moisés, e integrantes expressaram indignação com o desfecho burocrático.
Helena Jucelia Oliveira de Amaral, em declaração ao jornal durante a manifestação, relatou que a expectativa é de que o governador receba a população e assine urgentemente a titulação das terras, e que o processo não seja adiado mais uma vez.
Diante da omissão do Estado, a comunidade fica exposta aos ataques e intimidações diversos, além de que a demora na regularização implica em maior vulnerabilidade e precariedade no local, que precisa de reformas estruturais. Não bastasse a indisposição em se reunir com a comunidade, dessa vez a equipe do governador se mostrou truculenta e violenta com os moradores e com a questão quilombola na cidade. Em contato com o jornal, a Associação de Moradores do Quilombo Vidal Martins (ARQVIMA) disse
“No vídeo a comunidade tenta um diálogo para tratar das titulações e a comunidade é recebida com um bloqueio, impedida de falar contra um sistema fascista, racista e autoritário. Somos vistos como animais, já falado anteriormente em outros episódios até mesmo pelo presidente do país que deveríamos ser pesados em valor de arrobas”.
Helena, liderança do quilombo, relatou que integrantes da comunidade foram ao encontro do governador e atual candidato à reeleição, após ver que Moisés estaria em atividade de campanha.
“[Dia 20 de agosto] aconteceu um episódio horrível com a comunidade quilombola Vidal Martins. Vimos no instagram que o governador iria estar fazendo panfletagem, abraçando, recebendo as pessoas, compartilhando adesivos, tirando foto. Então a comunidade, de maneira democrática, fomos lá entregar um bilhetinho né, como se entrega pra qualquer candidato, para marcar uma reunião com ele que já estamos há quatro anos esperando”.
Mas os integrantes foram recebidos com truculência descabida.
O que mais nos espantou é que a assessoria do governador junto da segurança nos bloquearam por causa de um papel, gente. Não sei porquê. É inexplicável. A gente não é de um partido, a gente é uma comunidade que foi lá pra entregar um bilhete dizendo que a gente quer uma agenda com ele, entregar um papel e sair. O que cansa a gente não é a luta, é o racismo. O racismo cansa a gente, que é muito forte, agressivo. E a maneira que pegaram nosso amigo, apoiador, puxaram pelo dread como se fosse um marginal, de forma agressiva, violenta. Cadê a nossa democracia nesse país? (…) Essa conjuntura é totalmente agressiva, violenta. Isso é lamentável, eu fiquei traumatizada, triste, não entendemos porque, era um simples papel, não agredia ninguém. Foi uma violência não deixarem a gente chegar até o governador.
A liderança faz um apelo ao governo do Estado.
Governador, faço um apelo ao senhor, a comunidade foi ali para entregar um bilhete ao senhor, e fomos tratados como animais selvagens, como uns bichos, violentamente agredidos. Chega de racismo nesse Estado, chega de racismo nesse país. Somos um país miscigenado, ninguém é branco puro. Não precisa agredir a gente, não precisa bater na gente.”
Manoel Ailton Rodrigues de Carvalho, da comunidade quilombola de São Tomé, no município de Campo Formoso (BA) e integrante da Coordenação Nacional de Articulação dos Quilombos (CONAC), se solidarizou à luta da comunidade Vidal Martins e reforça a exigência de que o governador titule as terras do quilombo:
Titulação já! Assina, Moisés!