Imagem: Montagem UàE sobre imagem de Sérgio Vale/Amazônia Real; à direita Bolsonaro em visita a Chapecó, foto de Alan Santos/PR; à esquerda, posse de Biden, imagem retirada do Twitter.
Bela Mielczarski – 20/04/2021 – publicado originalmente em Universidade à Esquerda
Aproximam-se as eleições de 2022, e o Governo Bolsonaro busca o apoio do presidente estadunidense Joe Biden; a estratégia nessa semana é a de convencer os líderes mundiais do compromisso do governo com a questão ambiental. O governo estadunidense convocou a Cúpula do Clima, um encontro que acontecerá virtualmente, nos dias 22 e 23 de abril, e objetiva o delineamento, pelos 40 líderes mundiais convidados, de planos para uma maior ambição climática. O convite a Bolsonaro foi formalizado em março, a ordem da Casa Branca, no momento, é tratar sobre a preservação da Amazônia a partir de diálogo com o governo brasileiro, ainda sem o envolvimento de sanções. O encontro chega como uma chance ao governo Bolsonaro de revisar suas políticas ambientais, que desde o início tem sido negligentes e desastrosas. Nesse movimento que sinaliza a supremacia norte-americana, Biden direciona o governo para uma demonstração de política eco-amigável, e abre o espaço para que o Brasil prove sua subordinação e, se aprovados, tenham lugar no império americano.
Em uma carta de sete páginas enviada ao presidente Biden, com a orientação do ministro do meio ambiente Ricardo Salles, Bolsonaro relata seu compromisso com a preservação da floresta e seus planos, que incluem regularização fundiária e venda de crédito de carbono. Além disso, o ministro Salles pediu ao governo americano 1 bilhão de dólares para ajudar a reduzir o desmatamento da Amazônia, o plano é a redução de 40% do desmatamento em 12 meses.
A nova posição de Bolsonaro é recebida com suspeita por parte dos estadunidenses. Um grupo de 15 senadores do país assinou uma carta a Biden, no dia 16 de abril, que declarava que o atual governo brasileiro havia desdenhado as questões ambientais, e até agora não havia demonstrado interesse sério em trabalhar com os atores de ações ambientais essenciais no Brasil. De fato, desde o começo do Governo Bolsonaro, as polêmicas ambientais tem sido intermináveis, desde a promessa feita por Ricardo Salles de acabar com a “indústria das multas ambientais”, passando pelo crescimento dos incêndios na Amazônia, chegando a declarações que ridicularizavam a preocupação ambiental, em que Bolsonaro diz que apenas “veganos, que comem só vegetais” se importariam com a questão ambiental.
Na segunda metade de 2020, Bolsonaro já negava a seriedade dos incêndios na Amazônia, dizendo que “essa história de que a Amazônia arde em fogo é uma mentira”; incêndios estes, é importante apontar, foram julgados por pesquisadores como uma tentativa de “limpeza de áreas recém desmatadas”. Bolsonaro considera os ambientalistas como obstáculos para o avanço econômico, desde sua posse as ações de prevenção ambiental tem perdido orçamento, ações estas como de Prevenção e Controle de Incêndios Florestais nas Áreas Federais Prioritárias, e um levantamento do Inesc também constatou um queda brusca de valores pagos para monitoramento de queimadas, de 2018 para 2019 (queda de aproximadamente 67%).
Porém, Bolsonaro está se preparando para o encontro desta semana, e as conversas promovidas por Biden com o presidente brasileiro preocupam ambientalistas brasileiros, que percebem a falta de uma pressão crítica vinda do estadunidense, e temem a existência de um “acordo secreto” entre os dois países. Somado a isso em iniciativa, não aliada a Bolsonaro, mas com motivações similares de buscar a aprovação do imperialismo estadunidense, governadores nordestinos entregarão, nesta quinta-feira (22) uma carta ao embaixador estadunidense, Todd Chapman, que formaliza compromissos de preservação ambiental.