Montagem: UàE.
Nina Matos – Redação UàE – 09/06/2021
A Polícia Civil do Rio de Janeiro (RJ) abriu um inquérito contra o editor-executivo do jornal The Intercept Brasil, Leandro Demori. A investigação dá-se por denúncias que Demori publicou contra a corporação.
No dia 8 de maio, através da newsletter do The Intercept Brasil, o jornalista publicou uma denúncia contra os policiais envolvidos na Chacina de Jacarezinho, na qual 28 pessoas foram assassinadas.
De acordo com Demori, os policiais da Coordenadoria de Recursos Especiais (Core) envolvidos no massacre são conhecidos “à boca pequena” como “facção da Core”.
Outros assassinatos também cometidos pela corporação são citados pelo jornalista para embasar a denúncia: o assassinato de João Pedro, a Chacina do Salgueiro e o caso do helicóptero da Maré. Considerando somente os crimes citados por Demori, somam-se 41 homicídios relacionados à Core.
Apenas quatro dias depois da publicação, em 12 de maio, Demori foi intimado a comparecer à Delegacia de Repressão aos Crimes de Informática (DRCI), pela acusação de calúnia feita por alguns policiais que se sentiram ofendidos com o artigo. A acusação tem como testemunha o delegado Pablo Dacosta Sartori — o mesmo delegado que instaurou outros inquéritos contra jornalistas, como no caso da investigação contra apresentadores do Jornal Nacional.
Em resposta, o The Intercept Brasil publicou um editorial expondo a inversão de valores da Polícia Civil ao decidir investigar o jornalista ao invés dos crimes denunciados.
“Em democracias saudáveis, a polícia estaria preocupada com a pilha de mortos que a Core vem deixando em suas operações. No Brasil dos nossos tempos, a polícia quer intimidar e pressionar o mensageiro” — escreveu o jornal.
A Associação Brasileira de Imprensa (ABI) também veio à público em defesa do jornalista.
“A reincidência na perseguição a jornalistas comprova que a DRCI está atuando como uma delegacia de repressão política, nos moldes do famigerado DOPS da ditadura militar”, pontuou, em nota, a Associação.
Diversos instrumentos legais têm sido movidos para blindar a Polícia Civil da chacina cometida contra a comunidade do Jacarezinho. Um desses instrumentos é o sigilo dos documentos de todas as operações policiais ocorridas desde 5 de junho de 2020 — dia que o STF passou a restringir as operações no RJ.
Leia também: Chacina de Jacarezinho começa a ser revelada em audiências de custódia
A reincidência da perseguição contra jornalistas e demais pessoas que busquem trazer à público os crimes cometidos pela Polícia Civil é parte da tentativa de encobrir a corporação.
Desde o primeiro pronunciamento da Polícia acerca da Chacina, seus argumentos baseavam-se em justificar e minimizar os assassinatos cometidos nas operações. Mas esse argumento só pode ser sustentado se os fatos deixam de ser públicos — portanto, se o trabalho jornalístico for obstaculizado, seja pelo impedimento direto de acesso à informação, seja pela intimidação dos processos judiciais.