Foto: SindimetroMG
Flora Gomes – Redação UàE – 01/09/2022
Trabalhadores resistem contra a privatização que foi sancionada há dez meses
Trabalhadores da Companhia Brasileira de Trens Urbanos (CBTU) de Minas Gerais entraram em greve após o Tribunal de Contas da União (TCU) autorizar o modelo de privatização proposto pelo Governo Bolsonaro. A greve está ocorrendo desde a última quinta-feira (25/08). Os trabalhadores têm paralisado esse setor do transporte urbano e o Sindicato dos Metroviários de Minas Gerais (SindimetroMG) tem sofrido ameaças de sanções oriundas da Justiça do Trabalho.
A CBTU MG é uma empresa nacional com superintendência nos estados. A privatização deveria ser aprovada com aval do Congresso Nacional. Contudo, para aprová-la com rapidez, o governo e o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico (BNDES) transformaram as superintendências em subsidiárias, facilitando o processo privatista.
Entre março e maio, cerca de 1600 trabalhadores da categoria paralisaram durante 41 dias. Segundo o SindimetroMG, a política de privatizações afeta diretamente os usuários. Em estados em que a administradora de trens é privada, os preços das passagens são muito mais altos. Além disso, essa política também afeta diretamente os trabalhadores, pois, segundo a proposta, eles devem perder a estabilidade no trabalho após 12 meses da conclusão da venda.
O SindimetroMG publicou um texto com as razões pelas quais o governo quer privatizar o metrô, confira:
“Nem todos sabem, mas o metrô não foi feito para dar lucros, ele foi construído para fazer-se cumprir a Constituição Federal que garante a mobilidade urbana, ou seja, o direito das pessoas irem e virem, por isso o preço da tarifa era relativamente baixo se comparado com a passagem de ônibus cujas empresas são todas privadas.
Há anos espera-se a expansão do metrô e ele não acontece sob direção do governo federal, mas todos sabem que existe um grupo de pressão imenso das empresas de ônibus para que o metrô não chegue à Betim e ao Barreiro, quanto mais demanda mais eles podem impor preços e qualidade ruim nos seus serviços.
Qualquer investimento em linhas metroferroviários são altíssimos, na ordem de bilhões, e para ter retorno lucrativo leva-se mais de 30 anos, portanto, é muito difícil de saber se qualquer empresário faria investimentos desta magnitude para um prazo tão longo de retorno. Onde o metrô passou a ser gerido pela iniciativa privada como algumas linhas em São Paulo, Rio de Janeiro e Bahia, os empresários não investiram um centavo em melhorias, apenas fazem porcamente a manutenção, basta ver os acidentes que acontecem, e recebem o lucro com a cobrança de passagens em um preço tão alto que o número de passageiros reduziu tanto que a saldo financeiro caiu.
Para privatizar a lógica é a mesma para todas as estatais brasileiras, com o metrô não é diferente. Deixam de fazer investimentos e depreciam o patrimônio como boa fórmula para convencer a população de que a empresa deve ser privatizada. Foi isso que começou a acontecer no metrô de Belo Horizonte a partir de 2016. O governo barrou os investimentos e graças ao trabalho dedicado dos metroviários e metroviárias o trem está rodando.
Não é por acaso que a privatização já foi adiada algumas vezes, inclusive agora o governo está sem data para lançar o edital do leilão para doar a empresa porque o Tribunal de Contas da União (TCU) está analisando as evidentes irregularidades no processo.
Querem privatizar o metrô para atender a sanha de lucros dos empresários, que receberão uma espécie de incentivo do governo para manter o metrô funcionando. O primeiro aporte será de R$2,8 bilhões e na sequência serão injetados mais grana dos cofres públicos. Tal como aconteceu no último acordo feito entre a prefeitura de Belo Horizonte e as empresas privadas de ônibus que vão receber R$237 milhões dos cofres públicos para manter os altos lucros destes empresários.”