Foto: Felipe Barros/Prefeitura de Itapevi.
Foto: Felipe Barros/Prefeitura de Itapevi.

[Notícia] Mil cidades brasileiras poderão enfrentar desabastecimento de oxigênio

Foto: Felipe Barros/Prefeitura de Itapevi.

Nina MatosRedação UàE – 09/04/2021

Desde janeiro, quando o sistema de saúde no norte do país enfrentou um completo colapso devido a falta de cilindros de oxigênio — de modo que, mesmo nos leitos de UTI, pessoas faleceram por não receberem oxigenação suficiente —, a crise sanitária no país intensificou-se e a falta de oxigênio e insumos tornou-se generalizada.

Em um levantamento realizado pelo Conselho Nacional de Secretarias Municipais de Saúde (Conasems), dentre as 2.114 cidades que participaram da pesquisa, 1.068 relataram dificuldades no abastecimento de oxigênio.

As dificuldades relatadas concentram-se principalmente no uso de cilindros de oxigênio e em problemas com fornecedores e distribuidores.

O modelo de cilindros de oxigênio é adotado por 87% das cidades que responderam ao levantamento. Neste modelo, os cilindros precisam ser abastecidos pelos fornecedores de oxigênio quando esvaziam. A alta demanda nas intubações provocaram aumento no consumo, tendo relatos de aumento de 300% no estado do Mato Grosso do Sul.

Em cidades muito afastadas dos fornecedores, a distância implica em problemas de logística em relação ao abastecimento. Há registros de municípios que localizam-se a 800km de distância dos fornecedores.

Devido à alta demanda, o fornecimento é descrito pelos gestores de saúde dos municípios como sendo incerto, de maneira que em alguns momentos o estoque se esgota.

As trocas constantes dos cilindros também aceleram o processo de desgaste, aumentando também a necessidade de novos recipientes. Nestes casos, muitas vezes a aquisição de novos cilindros é dificultada, e mesmo que haja oxigênio não há cilindros para a reposição.

No levantamento, ainda, os gestores relataram baixos estoques de equipamentos de proteção individual (EPI), como luvas, aventais e máscaras, o que coloca em risco os trabalhadores da saúde.

Em meio à tragédia, outro dilema tem sido os medicamentos do chamado “kit intubação”, que incluem sedativos, anestésicos e bloqueadores neuromusculares. Diversos trabalhadores denunciaram que tem faltado tais medicamentos nos hospitais, de modo que o processo de intubação torna-se difícil e doloroso.

No estado de São Paulo, o Conasems-SP identificou que 59% dos serviços de saúde possuem estoque de bloqueadores neuromusculares para apenas 7 dias e destes, 39% já não possui mais nenhum estoque. Em relação aos sedativos, 61% possui estoque para os próximos 7 dias, sendo que destes, 36,7% já não possui mais estoque.

Nas cidades da região do Vale do Itajaí, em Santa Catarina, a impossibilidade da abertura de novos leitos de UTI tem sido atribuída à falta dos medicamentos para intubação. O estoque em alguns hospitais não ultrapassam três dias de consumo há pelo menos um mês.

Já em Belo Horizonte, devido à falta dos medicamentos, 10 leitos de UTI foram fechados, de acordo com o Secretário Municipal de Saúde. Com a escassez, o Secretário afirmou que os preços dos medicamentos chegaram a aumentar 500%.

Em Goiânia, os preços de sedativos chegaram a um aumento de 2.900%. Segundo o relato de uma farmacêutica, um sedativo que antes custava 17 reais agora é encontrado por 470 reais a ampola — sendo que um paciente consome de 10 a 60 ampolas por dia.

Como o aumento da demanda não é acompanhado de um aumento da produção dos medicamentos, os laboratórios tendem a elevar o preço e lucrar em cima da tragédia que tem sido o aumento das intubações. Mesmo com a abertura de novos leitos de UTI, o sistema de saúde não tem sido desafogado, com estados chegando ao ápice de escolher quais pacientes que serão internados e quais morrerão à espera de um leito.

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