Imagem: Divulgação UFSC contra o Future-se
Amanda A. – Redação UàE – 19/08/2019
Após reuniões convocadas pelo Centro Acadêmico Livre de Geografia durante o mês de Julho com vistas a debater o projeto apresentado pelo Ministério da Educação para a destruição das Universidades Públicas, o Future-se, um grupo por onde circularam estudantes de graduação e pós-graduação, técnicos e professores redigiram um Manifesto contra o Future-se. Além disso, elaboraram um calendário para a primeira semana de aulas, compondo a Calourada contra o Future-se, que contou com diversas atividades de mobilização e formação, incluindo um cinedebate, um UFSC na praça de edição interna e uma Aula Magna com a participação de quase 300 pessoas.
Sentindo a necessidade de romper com o engessamento das mobilizações – que tem se apresentado tanto no cenário da Universidade quanto do país – e pautar a urgência das lutas fundamentais do nosso momento, como a reforma da previdência e o contingenciamento de verbas nas Universidades, este mesmo grupo chama a Universidade a construir um movimento, lançado na última semana como “UFSC Contra o Future-se”.
O movimento já promoveu algumas atividades pela Universidade logo após o seu lançamento, como confecção de cartazes e passagens em sala, convocando para atividades de mobilização nos próximos dias. Para hoje – segunda-feira (19/08) – às 17:30, o movimento chama uma reunião aberta a todas as categorias, em frente à antiga lanchonete do CED. A participação de todos e todas é muito importante para a construção das próximas lutas!
Esse movimento prova que há muita disposição do corpo universitário para a edificação da luta combativa, rompendo, se necessário, com as burocracias, em nome de meios e instrumentos de construção coletiva e democrática que deem espaço para uma revolta à altura dos desafios que temos de enfrentar. Não podemos ter dúvidas de que o Future-se não só representa o fim da Universidade Pública mas, e justamente como consequência, reestrutura a relação que a sociedade estabelece com a produção de tecnologia, com o patrimônio científico e arquitetônico e o papel que o Brasil cumpre na divisão internacional do trabalho.
Leia na íntegra o Manifesto elaborado pelo movimento:
“A força da alienação vem dessa fragilidade dos indivíduos, quando apenas conseguem identificar o que os separa e não o que os une.” (Milton Santos)
O momento é grave, e nossa análise de conjuntura não tem enrolação: os sucessivos cortes de orçamento nas universidades públicas do Brasil, que começaram com Dilma e se intensificaram com Temer, vêm afetando o ensino, a pesquisa e a extensão. A EC95, a emenda do teto de gastos aprovada em 2016, também é uma marca da precarização dos serviços públicos e será inimiga da educação pública até que revogada. As principais pessoas afetadas são estudantes de baixa renda, mulheres, negros e negras, indígenas, imigrantes, trabalhadores e trabalhadoras terceirizadas, pois esses cortes retiram dinheiro das principais políticas de assistência estudantil, como as bolsas permanência, a moradia estudantil, o restaurante universitário, a segurança e a limpeza dos campi. Além da assistência estudantil, diversos projetos de pesquisa, extensão e programas de intercâmbio vêm sendo continuamente encerrados ou cortados por falta de verbas.
Na mesma justificativa da falta de verbas, o que se desenha com o “Future-se” é o maior ataque privatista à universidade pública nos últimos 30 anos (pós-constituinte), é uma destruição completa do sistema de ensino superior público.
Para além de abrir margem à cobrança de mensalidades para os estudantes, o “Fatura-se” destrói os direitos garantidos para trabalhadoras e trabalhadores, inclui no projeto uma “conduta” estipulada pelo governo a ser seguida por professores e estudantes, aprofundando projetos como “Escola sem Partido”. O projeto é transformar o caráter público e gratuito da universidade para dar ainda mais lugar à lógica das grandes empresas. E a gente sabe que, quem paga a banda, escolhe a música.
Não podemos ficar dependentes apenas das entidades do movimento estudantil e das centrais sindicais, é preciso coletivizar a política universitária e pressionar as reitorias a se posicionarem contrárias a esse projeto. O “Future-se” não é solução! Já tivemos experiências em todo o Brasil da privatização de parte da universidade, a exemplo da Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (EBSERH), que não melhorou em nada o atendimento e em muitos estados mantém os Hospitais Universitários (HU’s) de portas fechadas. Na UFSC, a EBSERH assumiu a gestão do HU em 2016, diferente do que escolheu a comunidade universitária em consulta pública, e desde então os serviços só ficaram mais precarizados.
Esse chamado surge da organização de dezenas de estudantes da UFSC, pessoas dispostas a se levantar em defesa das universidades públicas e gratuitas. Esse é um manifesto em defesa da autonomia, da auto-organização, da ação direta, da luta e da solidariedade de classe entre estudantes e trabalhadoras Brasil afora.
Tempos difíceis exigem atitudes decisivas. É preciso um levante das universidades, a unidade de todos os setores em defesa daquilo que é nosso direito. Fazemos um chamado a todas as categorias: é hora de sair da estagnação, as coisas não estão normais, nossas salas de aula estão caindo aos pedaços, não temos materiais didáticos, são cada vez maiores os cortes de bolsas, cada vez mais estudantes abandonam a universidade, já ficamos sem RU nas férias e corremos o risco de ficar sem RU para sempre! Bolsonaro já afirmou que a universidade é para a elite. Não vamos pagar por essa conta. Não vamos aceitar esse projeto elitista para a universidade pública. Esse governo terá que aguentar nossa “balbúrdia”.
O trator está passando em um ritmo avassalador e todas as conquistas sociais das últimas décadas estão em xeque. A unidade entre as diferentes categorias deve se materializar cada vez mais na ação direta e na luta desde baixo, para assim defender o que é nosso e está ao nosso alcance imediato. Estudantes, Centros Acadêmicos e demais entidades representativas precisam levar esse debate para seus cursos e começar a construir pontes que nos permitam fazer um enfrentamento expressivo! Nossas ferramentas de luta se pautam na união e na mobilização através de greves, ocupações, atos, paralisações de atividades, piquetes nas universidades, panfletagens e assembleias! Quem não reage rasteja.”