Maria Alice de Carvalho – Redação UàE – 22/06/2018
No ano de 2005, George Bush, então presidente dos Estados Unidos da América, instaurou uma política de controle de migração, chamada “tolerância zero”, através da qual se abria processo criminal contra os imigrantes indocumentados. Nessa época, os imigrantes que chegavam ao país acompanhados de seus filhos eram tratados como “exceções” e não passavam pelo mesmo processo. Durante o mandato de Obama, essa política também foi utilizada, com as diferenças de que era incomum imigrantes serem processados em sua primeira vez no país e a união das famílias não era impedida, com exceção de casos de tráfico de drogas ou graves antecedentes penais.
Em abril desse ano, então, o atual presidente dos EUA, Donald Trump, retomou a política de “tolerância zero”, conseguindo torná-la ainda mais brutal: a ordem é de que se separe filhos e pais imigrantes assim que esses pisem ilegalmente em solo estadunidense e que o Ministério Público apresente acusações criminais contra qualquer desses imigrantes adultos.
A criança, após ser separada de seus pais, pode passar até 72h em algum centro policial. Ultrapassado esse prazo, o menor de idade é encaminhado ao Departamento de Saúde e Serviços Sociais, o qual será responsável por uma família que adote a criança. Até que não se encontre uma família para a criança, ela passa a vida em albergues, onde podem permanecer por em média 56 dias. De acordo com os últimos dados, há atualmente sob custódia do governo 11.351 crianças imigrantes em aproximadamente cem albergues.
Um exemplo desses albergues que são subcontratados pelo Serviço Social é a Casa Padre: um antigo hipermercado Walmart convertido em um grande centro de acolhida, na cidade de Brownsville (Texas).
Na Casa Padre, a qual está muito próxima de atingir a sua capacidade máxima, além de alimento e roupa limpa, as crianças têm “a seu dispor” sala de videogames e um auditório para assistir filmes: um claro exemplo de como se tenta mascarar a realidade traumática e angustiante que essas crianças sofrem, através de supostos benefícios.
Nesses albergues, a realidade é a de que as crianças possuem pulseiras de identificação e os funcionários que lá trabalham utilizam fones de ouvido e monitoram todos os movimentos. Nas paredes do edifício ficam escritas as regras de conduta e as crianças só podem sair para o pátio durante duas horas por dia. Os menores possuem direito a duas chamadas telefônicas por semana. O lugar é envolto por cercas e seguranças.
Quando a justiça consegue encontrar uma família para ficar com a criança, o que em algumas vezes acaba sendo algum membro familiar que se encontra no país, esta fica com o menor até que um juiz tome a decisão de se a criança poderá permanecer nos EUA ou se será deportada. Entre maio e abril, o número de crianças sob custódia do governo estadunidense cresceu em 20%. Não é incomum que pais sejam deportados enquanto seu filho é mantido nos EUA sob custódia.
O presidente estadunidense, o qual já chegou a declarar publicamente a jornalistas que “o dilema é que se você for fraco seu país ficará sobrecarregado de tanta gente, e se for duro não tem coração. Talvez eu prefira ser duro”, vem utilizando do drama das crianças que são cruelmente separadas de seus pais como moeda de troca para pressionar os legisladores a implantarem uma legislação migratória mais rígida no país.
O que o presidente almeja, é que os legisladores implantem medidas através das quais não apenas se impeça a imigração irregular, mas também a imigração legal. Além disso, solicita que o Congresso libere 25 bilhões de dólares para construção do tão citado muro na fronteira do México, prometido por ele em sua campanha.
A demonização que Trump faz à imigração impulsionou, assustadoramente, sua candidatura em 2016; e durante o início de seu mandato, de fato, o número de imigrantes detidos nas fronteiras diminuiu consideravelmente. Porém, maio de 2018 foi registrado como o mês com mais prisões de imigrantes ilegais nos EUA: foram detidas 51.912 pessoas vindas do México.
Ao se tornar mundialmente público o fato de que em apenas seis semanas o governo dos EUA separou 2.000 crianças, incluindo bebês, de seus pais e outros familiares, iniciou-se uma onda de protestos dentro e fora do país, o que levou o presidente a se pronunciar nesta quarta-feira (20), dizendo que recuará e que está preparando uma ordem executiva que ponha fim a essa situação, ou seja, que está elaborando uma medida provisória com relação a situação dos imigrantes em território estadunidense para que depois se torne uma lei vigente.
Na quinta-feira (21), Trump ordenou que as mais de 2.000 famílias de imigrantes separadas no mês de abril fossem colocadas juntas novamente, porém, autoridades declararam que não se sabe ainda como será feita essa tarefa, tendo em vista que em muitos casos não se sabe com certeza onde se encontram cada um dos membros da família; o Serviço Social aguarda por diretrizes de implementação dessa ordem do governo.
Trump, o qual trata dos imigrantes como sujeitos que “infestam” o seu país e que tentou utilizar da brutalidade com crianças para atingir seus interesses políticos, permanece com a decisão de que se faz necessário erguer um muro fronteiriço entre EUA e México e uma política extremamente rígida com relação à imigração.