[Notícia] O agronegócio e as eleições 2018: racha favoreceu Bolsonaro

José Braga – Redação UàE – 17/10/2018

O agronegócio tem atuado para influenciar as eleições 2018. Em agosto, associações desse setor da burguesia interna entregaram aos presidenciáveis um documento com propostas para o país. O documento tem o título “O Futuro é Agro”.

Este documento foi elaborado pela Confederação Nacional da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) e pelo Conselho do Agro, que reúne além da própria CNA outros 14 aparelhos: Associação Brasileira de Agribusiness (ABAG) Associação Brasileira de Criadores (ABC) Associação Brasileira dos Criadores de Suínos (ABCS) Associação Brasileira dos Criadores de Zebu (ABCZ) Associação Brasileira dos Produtores e Exportadores de Frutas (ABRAFRUTAS) Associação Brasileira dos Produtores de Milho (ABRAMILHO) Associação Brasileira dos Produtores de Algodão (ABRAPA) Associação Brasileira dos Produtores de Soja do Brasil (APROSOJA BRASIL) Conselho Nacional do Café (CNC) Federação dos Plantadores de Cana do Brasil (FEPLANA) Instituto Brasileiro de Horticultura (IBRAHORT) Organização das Cooperativas Brasileiras (OCB) Sociedade Nacional da Agricultura (SNA) Sociedade Rural Brasileira (SRB). Estas por sua vez reúnem outras associações e empresários do setor.

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O documento expressa a percepção soberba que têm de si mesmos. De início, dizem falar em nome do interesse da economia e da sociedade brasileira como um todo, e traçam propostas não para os próximos 4 anos, mas para os 12 vindouros. Como se os processos eleitorais, as posições da classe trabalhadora, nada mais interferisse na sua agenda.

“Em todas as últimas eleições presidenciais, as diversas entidades do Agro manifestaram-se separadamente, de forma construtiva e sem partidarismo, oferecendo aos candidatos um retrato de nossas realidades, um inventário cuidadoso dos fatores que limitam nosso desenvolvimento e um roteiro para construirmos as soluções necessárias. Desta vez, as entidades resolveram juntar-se numa mesma manifestação, unindo sua voz em torno de uma agenda que expressa não o interesse próprio do setor, mas o interesse geral da economia e da sociedade brasileira. Estamos conscientes de que muitas das questões aqui levantadas demandam um tempo para sua solução, que ultrapassa os limites dos mandatos presidenciais. Precisamos, mais do que nunca, nos libertar da tentação do curto prazo e alçar o nosso pensamento para os horizontes do longo prazo. Por isso não formulamos uma agenda para os próximos quatro anos e, sim, para os próximos doze anos, mirando o ano de 2030. O Agro estrutura-se em longas cadeias produtivas, cujos elos vão da agricultura à indústria e aos serviços. Todos esses elos compartilham problemas e destinos comuns. Por isso nossa abordagem neste documento procura tratar o setor em seu conjunto, cientes de que fatores que limitam qualquer etapa da produção contaminam toda a cadeia. Aqui agricultura, indústria e comércio não se distinguem. Nem se distinguem campo e cidade.”

Em síntese, do alto de suas posições enunciam o que querem para o Brasil: manter e avançar mais a política dependente da exportação de commodities. Não tem pudor em dizer a que vieram:

“O Brasil detém a maior reserva de terras apropriadas para o cultivo em todo o planeta. Por mais que avancem as práticas protecionistas, está próximo o momento em que a realidade dos fatos falará mais alto e o mundo demandará de nós um aumento substancial da nossa oferta de produtos. Se os roteiros aqui enunciados, em termos de investimentos, de políticas públicas e do melhor ordenamento do ambiente institucional para os negócios forem adotados pelo governo, viveremos não apenas a continuidade do nosso crescimento, mas uma verdadeira explosão produtiva.”

Entre suas prioridades estão a Reforma da Previdência, e a Reforma Tributária (na qual defendem literalmente eliminar todos os tributos incidentes sobre a exportação; Ampliação do Seguro Rural para diminuir riscos; Acordos comerciais com Coréia, México, UE, Japão, China, EUA, Aliança do Pacífico para tentar dirimir os efeitos da guerra comercial entre as potências sobre seus negócios; Investimentos em tecnologia aplicada para a produção agrícola; Contra o tabelamento do frete (conquista da greve dos caminhoneiros deste ano);  “Segurança jurídica” em questões trabalhistas e fundiárias, dentre outros.

Defendem ainda a manutenção do “Teto de Gastos”, a emenda constitucional 95. Demandam: apropriação do fundo público para facilitar seus investimentos, diminuir seus riscos e coerção contra os trabalhadores do campo, lutadores pela reforma agrária, povos indígenas, quilombolas e populações tradicionais.

As associações do agro fizeram um esforço de apresentar seu programa e unir o empresariado em torno dele: um programa para lucrar com a miséria dos trabalhadores brasileiros.

No dia 29 de agosto, realizaram uma sabatina com os candidatos a partir deste documento. No entanto, estiveram presentes apenas 4: Geraldo Alckmin (PSDB), Henrique Meirelles (MDB), Álvaro Dias (Podemos) e Marina Silva (Rede). A ausência dos principais candidatos foi criticada pelo presidente da CNA, João Martins da Silva Junior:

“Aqui é a casa do produtor rural brasileiro. É aqui que temos que dialogar com os candidatos. Todos os candidatos foram convidados. Os que não vieram é porque não quiseram dialogar com o setor agropecuário brasileiro”

Alckmin foi único aplaudido na sabatina. E parecia ser a preferência das associações, por exemplo da Sociedade Rural Brasileira (SRB) que recebeu sua vice Ana Amélia (PP-RS) para debater o futuro do agronegócio.

No entanto, na própria SRB os empresários não entraram em acordo. Um dos diretores da entidade Frederico D’Avila entrou na campanha de Jair Bolsonaro (PSL) e foi inclusive eleito pelo partido do candidato para deputado estadual de São Paulo.

Além disto, ainda no primeiro turno a Frente Parlamentar Agropecuária, declarou apoio a Bolsonaro. De acordo, com a presidente da Frente, Teresa Cristina o ato atendeu “ao clamor do setor produtivo nacional, de empreendedores individuais aos pequenos agricultores e representantes dos grandes negócios.” O apoio da frente foi reiterado no segundo turno.

Ainda em setembro, a ABAG que representa grandes empresas e investidores financeiros do agronegócio, publicou matéria em que reconhece que Bolsonaro iria abocanhar votos do campo.

De acordo com a matéria Teresa Cristina, que teria sido cotada para ser vice de Alckmin, declarou embora outras candidaturas fossem interessantes para o setor, Bolsonaro conquistou apoio pelas propostas conservadoras:

“A principal delas, aliás, diz respeito à flexibilização das regras para o porte de armas, algo que colou entre produtores –pequenos, médios, ou grandes–, que temem a migração da violência da cidade para o campo. O setor se movimenta muito pelo Bolsonaro, é o que a gente tem visto, pelas propostas mais conservadoras, o setor é conservador”, avaliou a coordenadora da frente.”

A matéria ainda deu voz a Ávila:

Segundo ele, a identificação de agricultores com Bolsonaro deve-se, em boa medida, à sua promessa de segurança jurídica, a “tranquilidade de saber que amanhã não vão invadir a sua propriedade”; à posição contrária aos entraves burocráticos, principalmente relacionados à questão ambiental, e a propostas de investimento em logística. “O agronegócio brasileiro é um ‘case’ de sucesso… Então um setor que era até marginalizado, que era como o patinho feio da economia –os agricultores, no passado, tinham frustração de safra, o governo não dava o devido apoio financeiro de custeio para o produtor–, agora virou o cisne da lagoa”.

Legislativas:

A Sociedade Rural Brasileira lançou avaliação o resultado das eleições para o Congresso. De acordo com seu levantamento apenas 38% dos deputados que compunham a Frente Parlamentar do Agro se reelegeram. No entanto, avaliam que cresceram os partidos de direita e centro direita com uma visão pró-mercado, o que pode favorecer o setor.

Os interesses do Agro mostraram sua cara – e escolheram um Futuro de violência escancarada.

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