Imagem: Montagem UàE/Originais: Marcos Santos/USP e Pixabay
Helena Lima – Redação Universidade à Esquerda – 27/10/2021
Na Universidade de São Paulo (USP), Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e Universidade Estadual de São Paulo (Unesp), o retorno das atividades presenciais será gradual e está vinculado ao quadro da pandemia nas cidades.
Os planos de retorno em São Paulo, ainda em 2021, são possibilitados pela liberação, pelo governo do estado, de um bilhão de reais para organização dos campus para retomada e pelo avanço rápido da vacinação no estado.
Para toda comunidade universitária será obrigatório o passaporte do esquema vacinal completo, ou seja, as duas doses da vacina ou dose única há, pelo menos, 14 dias. Além disso, serão realizados testes PCR naqueles que transitarem pelos campus; e o uso de máscaras e distanciamento serão obrigatórios, sendo proibida a aglomeração.
Calendário poderá ser paralisado por recrudescimento da pandemia
Na USP, Unesp e Unicamp, o retorno presencial acontecerá em fases de ocupação gradual das salas de aula. O avanço do calendário de retomada total das atividades dependerá do quadro pandêmico nas cidades do estado. O retorno de 100% do corpo universitário e das atividades está previsto para 2022, caso as condições sanitárias se mantenham abaixo dos patamares estabelecidos.
Na Unesp, que possui 24 campus espalhados por todo o estado, o retorno depende de um sistema de dados da taxa de ocupação dos leitos de UTI (que deve estar abaixo de 60%) e taxa de transmissão dos casos de covid-19 (que deve estar abaixo de 1,0). Assim como na USP e Unicamp, o retorno será gradativo e caso os indicadores se mantenham estáveis, a ocupação da universidade poderá avançar a cada duas semanas em 20%. Por hora, apenas uma das cidades que abriga a Unesp está fora da situação segura estabelecida pela universidade.
Retorno progressivo e ensino híbrido: o que significa?
A escolha das universidades pelo retorno progressivo também significou a determinação destas pelo ensino híbrido. E o que é entendido como “hibridismo” nas universidades estaduais paulistas?
Na maioria das universidades, o retorno está orientado por uma divisão entre aulas práticas, fora das salas de aula, e aulas teóricas. Como muitas atividades da área da saúde e de laboratórios foram represadas durante a pandemia e o ensino remoto, as aulas práticas (laboratoriais, de campo ou de exercícios) estão sendo priorizadas para o retorno presencial.
Na USP, desde o dia quatro de outubro, as aulas teóricas podem continuar acontecendo de forma remota ou de modo misto (parte dos alunos presentes e os demais remotos), o que fica a critério de cada unidade.
O mesmo se dá na Unicamp, onde o reitor Antonio José de Almeida Meirelles afirmou não ser possível manter o distanciamento com a infraestrutura das salas de aula existentes. Desse modo, para realizar as aulas neste “formato híbrido”, a política da Unicamp está sendo ocupar as salas de aula com câmeras e microfones. A mesma instalação para o retorno híbrido acontece na USP.
Apoiado na ainda instável pandemia do coronavírus e nos altos investimentos em uma infraestrutura de tecnologia na universidade, o ensino híbrido não tem uma data de encerramento decisiva.
Ainda em abril de 2021, texto de Flora Gomes para o jornal Universidade à Esquerda afirmava: “na USP e Unicamp, EaD veio para ficar mesmo após fim do isolamento”. Selma Venco, em sua coluna no mesmo jornal, recupera fala de Priscila Cruz, Presidente do Todos Pela Educação, para questionar o ensino remoto emergencial e o ensino híbrido como políticas com tempo determinado:
“primeiro, aderiríamos às atividades remotas, pois estávamos numa emergência; segundo, numa ‘transição’, avaliaríamos o legado do processo emergencial; terceiro, incorporaríamos esse legado, não explicitado, o ensino híbrido” (TPE, 2020).
Organização da universidade e medidas sanitárias dependem de orçamento
Nas universidades estaduais paulistas, apesar da autorização para o retorno presencial, cada unidade possui a autonomia para efetivar a política. Na USP, por exemplo, apesar da bandeira verde da reitoria, a maioria das unidades optou pelo retorno presencial apenas em 2022.
É o que acontece na FFLCH (Faculdades de Direito, Filosofia, Letras e Ciências Humanas), USP Leste, FEA (Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade) e IME (Instituto de Matemática e Estatística). A Poli (Escola Politécnica) tem previsão de voltar em novembro. Esta decisão acontece porque, segundo as unidades, o esquema vacinal dos estudantes mais jovens só estará completo em novembro.
A reativação dos espaços como a moradia estudantil, o restaurante universitário e a biblioteca, além de equipamentos de proteção individual (EPIs) e testes PCR, dependem da liberação de uma verba adicional para as universidades.
Diferente do cenário das universidades federais, as universidades estaduais paulistas receberão, ao todo, um bilhão de reais do governo do estado em outubro de 2021 para melhorias e infraestrutura para receber novamente o corpo universitário. Na Unicamp, só em testes PCR, está previsto um gasto de R$90 milhões.
Universidades federais planejam retorno presencial em 2022
Das 69 universidades federais existentes no Brasil, ao menos 25 não tem previsão de retorno para as aulas presenciais. A maioria das universidades mantém, por hora, apenas atividades práticas, principalmente nos cursos da área da saúde. Em pesquisa do UOL, todas as universidades federais entrevistadas (44) responderam que pretendem voltar integralmente em 2022.
A Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) apresentou um plano de retorno presencial para abril de 2022, mas afirma que será necessário a recomposição do orçamento para o funcionamento total da universidade. O cenário do orçamento de 2021 é crítico para as IFES, onde muitas não conseguem pagar as contas básicas de luz e segurança. O que levou à pergunta no início do ano: funcionaria sem pandemia?