Imagem: Instagram @marighella.sc
Giulia Molossi e Amanda Alexandroni – Redação UàE – 12/05/2022
No dia 05 de maio, deu-se início a ocupação Carlos Marighella na cidade de Palhoça (SC), onde mais de 100 famílias tomaram quatro prédios inacabados e abandonados por mais de 10 anos. Desde o dia 10/05, os moradores da ocupação estão pedindo apoio pois estão sendo ameaçados por moradores e pela Polícia Militar (PM). A ocupação fica na rua Natalino Campos Schaimann, 1171.
Na quarta-feira (10), a PM entrou na ocupação e assustou as famílias que moram no local. No Instagram @mariguella.sc, denunciam que “a Ocupação Carlos Marighella foi hoje vítima de uma operação da polícia militar, científica, civil, tatico, guarda municipal de Palhoça, CELESC e CASAN para deixar as famílias sem teto da ocupação ainda mais desamparadas, cortando água e luz de homens, mulheres, crianças, pessoas idosas e grávidas que moram e dão função social para este terreno abandonado há 10 ano“. Na publicação, alega-se que o corte de água representa uma forte violação de direitos humanos, uma vez que o acesso à água é um direito básico.
Desde os primeiros ataques, na terça-feira, todos os dias os moradores e apoiadores da ocupação relatam movimentações estranhas, agrupamento de carros e pessoas na rua e rojões que jogam para dentro do terreno. Em razão disso, todo apoio é bem-vindo, a organização da ocupação convoca lutadores sociais, advogados e membros do Ministério Público.
O jornal UFSC à Esquerda entrevistou Filipe Bezerra, participante da Ocupação Carlos Marighella, que respondeu sobre os motivos que levaram à ocupação do prédio abandonado, a forma como a política imobiliária da Grande Florianópolis e a Campanha Nacional pelo Despejo Zero influenciaram na organização do movimento e sobre os conflitos que ocorreram no local durante essa semana.
“A leitura que fizemos para ocupar os prédios foi de que eles não estavam cumprindo uma função social, estavam abandonados e tinham uma boa estrutura. Eram construções destinadas ao programa Minha Casa, Minha Vida, mas estavam com a obra parada há dez anos, pois a empreiteira faliu, então era um espaço ocioso. Como há uma grande demanda dos trabalhadores que estão desempregados, recebendo baixos salários e que têm disposição de se organizar e ocupar os prédios para cumprir uma função social, que é garantir moradia à população, decidimos ocupar.”
Sobre a política imobiliária, Filipe respondeu que “ela influencia muito para poder ocorrer ocupações. Porque tanto na Ilha quanto na Grande Florianópolis, principalmente na Palhoça, onde tem uma massa de trabalhadores imensa, o aluguel está muito caro. Falamos de trabalhadores que ganham em torno de um salário mínimo – ou nem isso – e que tem que pagar 800 ou 900 reais para morar em lugares bem pequenos. O aluguel está jantando junto na mesa do salário mínimo. Famílias com dois ou três filhos não conseguem pagar sua alimentação e nem morar com qualidade. Foi essa a situação que encontramos na Grande Florianópolis. Com o aumento da especulação imobiliária na Grande Florianópolis, onde tudo está muito caro e em péssimas condições, não está sendo possível aos trabalhadores sustentarem suas famílias, decidimos fazer a ocupação junto dos trabalhadores para dar uma função social a esse espaço que está abandonado e que pode servir de moradia para centenas de famílias, para terem um lugar digno para morar sem pagar tão caro”.
Por lei, os moradores da ocupação Carlos Marighella não podem ser expulsos do local. O Projeto de Lei 4253/21 prorroga até 30 de junho de 2022 os efeitos da Lei do Despejo Zero, aprovada em 2021 e que previa, em razão da pandemia, a proibição de despejos e desocupações de imóveis urbanos. Além de estender a data, o projeto também passou a abarcar imóveis rurais.
Filipe disse que com certeza a Lei do Despejo Zero teve impacto na mobilização, “porque se sabe que durante o período da pandemia teve esse decreto para ninguém ser despejado”. Além disso, afirma que os moradores da ocupação irão se mobilizar nacionalmente para lutar para a manutenção deste decreto junto com outras ocupações e movimentos.
Por fim, Filipe falou sobre os ataques que vêm sendo feitos à ocupação. “Na terça-feira (10/05) alguns moradores milicianos junto com policiais que moram na rua do lado tentaram fazer praticamente um massacre dentro da ocupação, que estava com uma média de 150 pessoas, entre elas mulheres grávidas, crianças e idosos. Os policiais e milicianos chegaram invadindo o espaço da ocupação com foguetes, fogos de artifício e armas letal. Há vídeos na página da ocupação dessas pessoas atirando com arma letal contra membros da ocupação. Por pouco não aconteceu um massacre. Na ocupação, os membros estão em alerta total para toda noite fazer vigília. Várias pessoas de outras ocupações e entidades estão vindo para a Ocupação Carlos Marighella para poder apoiar. Os invasores entraram por volta das 20h da noite, destruíram alguns apartamentos jogando bombas em apartamentos, destruíram a entrada da ocupação e pediram para que a gente se retirasse. Porém, a ocupação Carlos Marighella vai seguir firme, transformando um espaço que estava abandonado em um espaço digno de moradia. Seguimos firmes e em estado de alerta para que a gente não sofra mais nenhum tipo de ataque. Ressaltamos a importância das pessoas que têm solidariedade a esse tipo de movimento que possam se somar na luta, com divulgação, doações e apoiando dentro da ocupação, participando das vigílias.”
Essa foi a segunda ocupação urbana que surgiu na região da Grande Florianópolis neste ano. Em março, no centro de Florianópolis, surgiu a ocupação Anita Garibaldi. Os moradores seguem resistindo diariamente a diversas violências sofridas no espaço urbano.
O UàE presta solidariedade aos moradores da ocupação e se dispõe a auxiliar com a circulação de informações e denúncias que contribuam com a manutenção da Ocupação Marighella. Também está circulando um chamado de assinaturas na Carta de Apoio à Ocupação Carlos Mariguella https://docs.google.com/forms/d/e/1FAIpQLSdw8fbik74gp1fpbtRWey59KWzN-E7dpJbIaQlLLO33Jzzrgw/viewform.