Foto: SindiPetro-RJ
Renato Milis – Redação do UàE – 10/03/2021 – Publicado originalmente em Universidade à Esquerda
Petroleiros da Petrobras estão em greve em três estados. Na Bahia, no Amazonas e no Espírito Santo os trabalhadores entraram em greve no dia 05/03. Em Minas Gerais, São Paulo, Pernambuco, Paraíba, Paraná e Santa Catarina os trabalhadores aprovaram a greve, mas não tem data para iniciar.
As pautas são em geral difusas e negociadas regionalmente com a empresa. Há desde ações de prevenção ao contágio de COVID-19 nas operações da companhia, relacionadas a sobrecarga de trabalho, segurança, e pleitos de caráter local, bem como sobre a transferência dos trabalhadores da Petrobrás para as empresas que compram os ativos na privatização da estatal.
Uma greve nacional dos petroleiros com uma direção firme poderia incentivar outros setores dos trabalhadores a paralisarem, e enfrentar as privatizações e a política de preços da companhia. A alta dos preços dos combustíveis está intimamente conectada com as privatizações, a necessidade de derrotar os capitais e governo nesses dois eixos é essencial e urgente para o conjunto dos trabalhadores.
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Os sindicatos nos quais os trabalhadores destes 7 estados estão organizados estão vinculados à Federação Única dos Petroleiros (FUP). A FUP organiza, hoje, 13 sindicatos, e é por sua vez dirigida pela Central Única dos Trabalhadores (CUT), central sindical dirigida pelo Partido dos Trabalhadores (PT).
Outros 5 sindicatos estão vinculados à Federação Nacional dos Petroleiros (FNP), uma dissidência da FUP em divergência a seu “rabo preso” com a direção petista. A FNP anunciou que tem buscado negociar com a FUP para construção da greve nacional, propondo um comando nacional comum e comando unitários locais pela base, e que decisões sobre avanços e recuos no movimento sejam tomadas conjuntamente e decididas pela base.
Embora o número de sindicatos dirigidos pela federação seja desigual, é preciso levar em conta o peso das unidades da Petrobras organizadas por cada sindicato. A entrada da FNP na cena da greve pode pressionar pela construção da greve nacional.
A necessidade de construção de uma grande greve contra as privatizações é cada dia mais evidente. Enfrentar esta política de entrega das riquezas nacionais e destruição do patrimônio dos trabalhadores é a única alternativa frente aos sérios efeitos que elas já têm tido nas condições de vida dos trabalhadores e ao que significa a perda do controle sobre setores estratégicos da economia.
Mas, isso significa também não dar trégua na pressão às direções petistas cuja vacilação nesta luta é fruto da linha de seu partido, passiva e ativa na liberalização do mercado de combustíveis no país. Os trabalhadores podem construir essa luta se não se deixarem enganar, e se forem capazes de dar corpo à greve nacional podem convocar a luta outros setores como caminhoneiros, motoristas e entregadores de aplicativos.
Confira mais informações sobre a greve em cada estado:
Bahia: A greve teve início dia 05/03. Estão mobilizados principalmente os trabalhadores da Refinaria Landulpho Alves (RLAM), que será vendida ao grupo Mubadala Capital. São cerca 2.300 trabalhadores, entre concursados e terceirizados, participando do movimento. As principais reivindicações dos trabalhadores organizados no Sindipetro-BA são: 1 – Garantia da permanência dos postos de trabalho para todos (concursados e terceirizados), sem cortes de salários, direitos, benefícios e vantagens durante a venda da Refinaria e o conjunto de ativos conexos; 2 – Acesso a cópia do contrato de venda da RLAM para o Mubadala; 3 – Implementação de política efetiva de combate ao assédio moral nas unidades da Petrobrás; 4 – Incorporação dos trabalhadores concursados da PBIO à Petrobrás, caso a Usina de Biocombustíveis de Candeias seja realmente vendida; 5 – Fim das dobras de turno e das prorrogações de jornada; 6 – Rever a política do efetivo mínimo do O&M (Organização e Método) nos diversos setores da estatal, em especial da RLAM; 7 – Dentre outros pontos como o Acordo Coletivo de Trabalho sobre a jornada de 12 horas, discutir contratos de trabalho e direitos dos terceirizados, apresentação dos passivos ambientais e de acidentes de trabalho, além de uma reivindicação que tem se repetido nos diferentes estados sobre a segurança dos trabalhadores em relação ao contágio de COVID-19.
Espírito Santo: Greve iniciada dia 05. Atos têm sido realizados pelos petroleiros em frente às unidades da empresa no estado. De acordo com o Sindipetro-ES, as principais reivindicações são: 1 – Que a empresa siga protocolos de segurança contra o contágio de COVID-19 para os trabalhadores; 2 – Contra o acúmulo de funções e dobras rotineiras, impostas pela gestão com a redução dos efetivos; 3 – Contra ataques aos benefícios (AMS e Petros).
Amazonas: A greve teve início dia 05/03. Os trabalhadores organizados no Sindipetro-AM lutam contra a venda da refinaria Isaac Sabbá (Reman) e os reajustes nos preços dos combustíveis, além de uma pauta local: 1 – Protocolos de prevenção contra o Covid-19; 2 – Melhorias na alimentação; 3 – Substituições por cadeiras ergonômicas; 4 – Cumprimento de cláusula do Acordo Coletivo sobre a movimentação dos trabalhadores nas refinarias.
Minas Gerais: A greve foi aprovada pelos trabalhadores. No dia 05, a empresa abriu a mesa de negociação com o Sindipetro-MG. Na pauta estão entre outros pontos: 1 – Medidas de prevenção para evitar a contaminação dos trabalhadores pelo COVID-19; 2 – Tabela de turnos; 3 – Fim da terceirização das atribuições dos trabalhadores concursados; 4 – Anulação de punições de trabalhadores que participaram da greve em fevereiro de 2020.
Pernambuco/Paraíba: Segundo o Sindipetro-PE/PB os trabalhadores aprovaram a instauração da greve em rodada de assembleias nas unidades da companhia nos dois estados. A data de deflagração será definida em um seminário de “qualificação da greve”. No dia 05, os trabalhadores realizaram um ato em frente a Refinaria Abreu e Lima (Rnest), e atrasaram as operações do turno em 1 hora.
São Paulo: A greve foi aprovada no fim de fevereiro. Mas, ainda não foi definida data de deflagração. Na pauta de reivindicações dos trabalhadores organizados no Sindipetro-SP estão o aumento da produção nas refinarias, a operação com número seguro de trabalhadores e diminuição dos preços dos derivados, e pautas locais das refinarias, usinas termelétricas e terminais – nas quais estão colocadas questões como melhorias nos transportes, fim de descontos em benefícios, sobrecarga de trabalho, dentre outras.
Paraná e Santa Catarina: Os trabalhadores da Usina do Xisto (SIX) em São Mateus, no Paraná, aprovaram a greve por tempo indeterminado. Ainda não há data para deflagração. As reivindicações, de acordo com o Sindipetro-SC/PR, estão relacionadas à insegurança sobre transferências dos trabalhadores na privatização da Usina. Além disso, somam-se reivindicações de segurança no trabalho (redução nos efetivos dos Técnicos de Segurança e das Brigadas de Emergência) e manutenção de equipamentos de segurança, meio ambiente e saúde. Trabalhadores da Refinaria Presidente Getúlio Vargas (Repar) e da Transpetro entraram em estado de greve, reivindicando melhores condições de trabalho e melhorias na segurança nas unidades da companhia.