Foto: Ato dos docentes em Londres; 13/03/2018; por Josh Hollands da UCU
José Braga – 30.03.2018 – Redação UàE
Professores de cerca de 62 universidades do Reino Unido (Inglaterra, Escócia, Irlanda do Norte e País de Gales), incluindo das tradicionais universidades de Cambridge e Oxford, estão em greve. A greve iniciada em 22 de fevereiro deste ano luta contra ataques na aposentadoria dos docentes. Esta tem sido a maior greve na história recente do ensino superior britânico.
A greve foi organizada em paralisações semanais crescentes: 1 dia na primeira semana, três na seguinte, depois 4 e em seguida paralisando 5 dias. Foram ao todo 14 dias de trabalho paralisados até agora. Os docentes resistem a alteração no USS (University Superannuation Scheme), plano de pensão e aposentadoria docente.
Entenda: a UUK (Universities United Kingdom), entidade que reúne os gerentes superiores das universidades querem alterar a pensão de aposentadoria dos docentes, que hoje funciona em um esquema de benefícios definidos – na qual é garantido um certo valor de benefício/aposentadoria para os trabalhadores – para um esquema de contribuições definidas, ou seja em que as contribuições para o fundo são definidas, mas os benefícios uma vez aposentados podem ser alterados de acordo com o mercado financeiro. Ou seja, transformar a aposentadoria em um fundo de investimentos em que os riscos são apenas dos trabalhadores.
Por conta disso, a UCU (University and College Union), sindicato dos trabalhadores das universidades convocou a categoria para greve. O movimento tem tido ampla adesão dos docentes, e apoio dos estudantes. A UKU propôs um acordo de transição de um esquema a outro, nos próximos dias os trabalhadores devem decidir se aceitam ou não o acordo. Ainda assim, há preparativos para continuidade da greve – interrompendo o período de exames na segunda quinzena de abril.
Professores universitários têm lido a força da greve e sua importância para o futuro da Universidade britânica como um desdobramento das mudanças ocorridas nesta instituição desde os anos 1990. Embora as matrículas entre 1990 e 2016 tenham praticamente dobrado de cerca de 900.000 estudantes para 1,8 milhão – alterações na gratuidade e na contratação de professores foi concomitante.
Foi a partir de 1998, sob o governo de Tony Blair (Labour Party), que as universidades foram autorizadas a cobrar anuidades dos estudantes (chamadas de tuition fees), de até £1000. Em 2004 esse valor passou para £3000, e em 2010 triplicou para £9000. Ao mesmo tempo, a deterioração das condições de trabalho que atingem o conjunto da sociedade, chegaram também as universidades: em 1999 15% dos docentes tinham contratos chamados “atípicos”, de tempo parcial. Hoje cerca de um quarto dos docentes têm contratos de tempo parcial, e mais de uma quarto contratos casuais (temporários), cerca de 75000 docentes.
Estas condições tem feito o movimento fervilhar: já são cerca de 5000 novos filiados a UCU. E os laços de solidariedade e com o conjunto da classe trabalhadora tem crescido. Na avaliação esta greve pode ditar os caminhos do ensino superior britânico nos próximos anos – e também abrir a possibilidade de ataques as aposentadorias em outras categorias de trabalhadores.
De acordo com as informações que obtivemos, a liderança do sindicato tem tendido a aceitar o acordo proposto pela UUK. No entanto, na base, os trabalhadores têm discutido nos piquetes a necessidade de rejeitá-lo. Mais de 10.000 docentes assinam uma carta pressionando a direção sindical a não aceitar o acordo. Com isso é provável que a greve continue em abril.