Luiz Costa – Redação UàE – 27/05/2020
A Universidade do Estado de Santa Catarina (Udesc) pode retomar as aulas em mais de 60 cursos presenciais de graduação de forma não presencial. A retomada das atividades devem acontecer em junho.
A data precisa do retorno não foi informada pois a resolução que trata da retomada ainda não foi publicada. A minuta da resolução está sendo apreciada pela “Proen e os diretores de Ensino de Graduação, diretores-gerais, departamentos e líderes estudantis”, segundo divulgado pelo site da Udesc.
A decisão foi tomada unilateralmente pelo reitor Dilmar Barretta, após uma reunião com o pró-reitor de Ensino (Proen), Nério Amboni e com diretores-gerais e de Ensino de Graduação de todos os centros. Na reunião, a maioria dos gestores das unidades foi favorável à medida. Contudo, a reunião não constitui qualquer órgão institucional de deliberação.
O reitor tem a prerrogativa de deliberar monocraticamente e resolver medidas em caráter “ad referendum”. Tal tipo de ação implica validade imediata, em caráter excepcional e temporário, mas com trâmite posterior no Conselho Universitário (Consuni), órgão máximo de deliberação da instituição.
Há duas semanas, o reitor realizou um ato similar ao determinar o retorno das aulas da pós-graduação de modo remoto. A medida foi debatida dias depois no Consuni e aprovada.
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As aulas presenciais estão suspensas desde 17 de março em virtude da pandemia do novo coronavírus, seguindo decretos do Governo de Santa Catarina.
A Udesc e a UFSC têm sofrido ataques da mídia tradicional local e de empresários. Na semana passada, o ND Mais vinculou um texto calunioso em que afirmava que as instituições não têm feito nada para o retorno das aulas ao passo que escolas privadas, por exemplo, parecem estar muito mais preocupadas com o retorno no prazo mais curto possível.
O grupo empresarial Floripa Sustentável também tem pressionada as universidades públicas do estado a voltarem às atividades o mais rápido possível.
Tanto para os empresários quanto para as mídias que os representam, o não retorno das aulas nas universidades mais qualificadas do estado representa um impedimento para o retorno nos setores privados de educação (seja na educação básica ou superior).
Horas depois da matéria difamatória do ND Mais, a reitoria da Udesc publicou e divulgou a resolução que resolvia o retorno das aulas de pós-graduação de modo não presencial.
Resposta da comunidade universitária
A Associação de Professores da Udesc (Aprudesc) informou que “apresentará uma proposta de resolução diferente, para retomada das atividades não-presenciais no segundo semestre de 2020, que será debatida na Assembleia Geral”. A assembleia dos docentes acontece nesta quarta-feira (27).
“Não estamos de acordo e não aceitaremos passivamente as ordens dos que desejam a destruição da qualidade de ensino da UDESC e a adoção de medidas socialmente excludentes, improvisadas do ponto de vista técnico, irresponsáveis diante da pandemia e anti-pedagógicas em relação aos planos de curso como estas que a atual reitoria está tentando nos impor”, informou a associação.
“Só acataremos a decisão que for tomada de forma autônoma, democrática e soberana pelo Conselho Universitário”, completou.
Centros Acadêmicos da Udesc criaram uma petição contrária ao ensino remoto em toda a universidade durante a pandemia do novo coronavírus. A proposta havia sido feita pela reitoria ao Conselho Universitário na segunda-feira da semana passada (4).
Para os estudantes que promovem o abaixo-assinado, a reitoria quer a “adoção do ensino remoto na Udesc sem considerar alguns dos principais pilares de uma universidade pública: a universalidade, a igualdade e a qualidade do ensino”. Os estudantes alegam que a medida exclui estudantes e precariza o trabalho dos professores.
Inclusão digital
Para o retorno das aulas de modo remoto na pós-graduação, a instituição disponibilizou um edital que previa amparo aos estudantes sem internet no valor de R$ 80,00. Mas alguns alunos questionam que o auxílio não cobre quem não tem acesso, por exemplo, a computador.
Uma estudante respondeu que devido a insuficiência do auxílio da reitoria, “o número de matrículas trancadas será enorme. O sonho de estar em uma universidade pública, gratuita e de qualidade se desmoronando”.
Outro estudante questionou a qualidade das aulas práticas, necessárias em muitos cursos.
“Pública, gratuita e excludente!”, respondeu outra estudante.
A resolução de retomada das atividades na graduação e a minuta referente ao auxílio digital não foram divulgadas até o término dessa notícia.