O presidente Jair Bolsonaro dá posse ao novo ministro da Educação, Abraham Weintraub, em cerimônia no Palácio do Planalto; 09/04/2019, Brasília-DF; Antônio Cruz/Agência Brasil

[Notícia] Repercussão das declarações do Presidente e do Ministro da Educação

Maria Fernandez – Redação UàE – 29/04/2019

Diante das falas da última semana do presidente Bolsonaro e de seu Ministro da Educação, Abraham Weintraub, em relação ao ensino superior em filosofia, sociologia e ciências humanas em geral, várias entidades tem se manifestado na defesa do pensamento crítico.

Para saber mais sobre as declarações leia também: [Notícia] “Pode estudar filosofia? Pode, [mas] com dinheiro próprio”, afirma Ministro da Educação

A ANFOPE (Associação Nacional pela Formação dos Profissionais Da Educação) e o Instituto de Filosofia e Ciências Humanas da Unicamp divulgaram notas sobre as declarações que reproduzimos abaixo:

NOTA DE REPÚDIO A DECLARAÇÕES DO MINISTRO DA EDUCAÇÃO E DO PRESIDENTE DA REPÚBLICA SOBRE AS FACULDADES DE HUMANIDADES, NOMEADAMENTE FILOSOFIA E SOCIOLOGIA

Associação Nacional de Pós-graduação em Filosofia (ANPOF) e associações abaixo mencionadas repudiam veementemente as falas recentes do atual presidente da república e de seu ministro da educação sobre o ensino e a pesquisa na área de humanidades, especificamente em filosofia e sociologia.

As declarações do ministro e do presidente revelam ignorância sobre os estudos na área, sobre sua relevância, seus custos, seu público e ainda sobre a natureza da universidade. Esta ignorância, relevável no público em geral, é inadmissível em pessoas que ocupam por um tempo determinado funções públicas tão importantes para a formação escolar e universitária, para a pesquisa acadêmica em geral e para o futuro de nosso país.

O ministro Abraham Weintraub afirmou que retirará recursos das faculdades de Filosofia e de Sociologia, que seriam cursos “para pessoas já muito ricas, de elite”, para investir “em faculdades que geram retorno de fato: enfermagem, veterinária, engenharia e medicina”. O ministro apoia sua declaração na informação de que o Japão estaria fazendo um movimento desta natureza.

De fato, em junho de 2015 o Ministério da Educação, Cultura, Esportes, Ciência e Tecnologia do Japão enviou carta às universidades japonesas recomendando que fossem priorizadas áreas estratégicas e que fossem cortados investimentos nas áreas de humanidades e ciências sociais.

Após forte reação das principais universidades do país, incluindo as de Tóquio e de Kyoto (as únicas do país entre as cem melhores do mundo), e também da Keidanren (a Federação das Indústrias do Japão) – que defendeu que “estudantes universitários devem adquirir um entendimento especializado no seu campo de conhecimento e, de forma igualmente importante, cultivar um entendimento da diversidade social e cultural através de aprendizados e experiências de diferentes tipos” – o governo recuou e afirmou que foi mal interpretado.

A proposta foi inteiramente abandonada quando o ministro da educação teve de renunciar ao cargo, ainda em 2015, por suspeita de corrupção. Da forma como o ministro Abraham Weintraub apresenta o caso trata-se, portanto, de uma notícia falsa.

O ministro foi seguido pelo presidente, que mencionou que o governo “descentralizará investimentos em faculdades de filosofia”, sem especificar o que isto significaria, mas deixando claro que se trata de abandonar o suporte público a cursos da área de humanidades, nomeadamente os de Filosofia e de Sociologia. O presidente indica que investimentos nestes cursos são um desrespeito ao dinheiro do contribuinte e, ao contrário do que pensa a Federação das Indústrias do Japão, afirma que a função da formação é ensinar a ler, escrever, fazer conta e aprender um ofício que gere renda.

O ministro e o presidente ignoram a natureza dos conhecimentos da área de humanidades e exibem uma visão tacanha de formação ao supor que enfermeiros, médicos veterinários, engenheiros e médicos não tenham de aprender sobre seu próprio contexto social nem sobre ética, por exemplo, para tomar decisões adequadas e moralmente justificadas em seu campo de atuação. Ignoram que os estudantes das universidades públicas, e principalmente na área de humanidades, são predominantemente provenientes das camadas de mais baixa renda da população. Ignoram, por fim, a autonomia universitária, garantida constitucionalmente, quando sugerem o fechamento arbitrário de cursos de graduação.

Uma das maiores contribuições dos cursos de humanidades é justamente o combate sistemático a visões tacanhas da realidade, provocando para a reflexão e para a pluralidade de perspectivas, indispensáveis ao desenvolvimento cultural e social e à construção de sociedades mais justas e criativas.

Seguiremos combatendo diuturnamente os ataques à universidade pública e aos cursos de humanidades movidos pelo ressentimento, pela ignorância e pelo obscurantismo, também porque julgamos que esta é uma contribuição maiúscula da área de humanidades para o melhoramento da sociedade à nossa volta.

 

Associação Brasileira de Ensino de Ciências Sociais (ABECS)

Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Geografia (ANPEGE)

Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Planejamento Urbano e Regional (ANPUR)

Sociedade Brasileira de Estudos de Cinema e Audiovisual (SOCINE)

Sociedade Brasileira de História da Educação (SBHE)

Sociedade Brasileira de História da Ciência (SBHC)

Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Educação (ANPEd)

Associação Brasileira de Estudos Sociais das Ciências e das Tecnologias (ESOCITE)

União Latina de Economia Política da Informação, da Comunicação e da Cultura (Ulepicc-Brasil)

Associação Nacional de História  (ANPUH)

Centro de Investigaciones Filosóficas (CIF/Argentina)

Sociedade Brasileira de Psicologia (SBP)

Fórum Nacional de Diretores de Faculdades, Centros de Educação ou Equivalentes das Universidades Públicas Brasileiras (FORUMDIR)

ODARA – Grupo Interdisciplinar de Pesquisa em Cultura, Identidade e Diversidade

Associação Brasileira de Antropologia (ABA) 

Centro Brasileiro de Estudos de Saúde (Cebes)

Associação Brasileira de Pesquisa em Educação em Ciências (ABRAPEC)

Associação Brasileira de Pesquisadores em Jornalismo (SBPJOR)

Associação Brasileira de História das Religiões (ABHR)

Asociación Costarricense de Filosofía (Acofi)

Associação Brasileira de Psicologia Política (ABPP)

Sociedade Brasileira de Ensino de Química (SBEnQ)

Associação Nacional pela Formação dos Profissionais da Educação (Anfope)

Associação dos Professores da UDESC (Aprudesc – ANDES-SN)

Fórum Nacional dos Coordenadores Institucionais do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação à Docência (FORPIBID)

Associação Nacional de Pesquisa e Pós-Graduação em Música (ANPPOM)

Associação Brasileira de Estudos Populacionais (ABEP)

Asociación Filosófica Argentina (AFRA)

Associação Brasileira de Ensino de Biologia (SBEnBio)

Fórum de Ciências Humanas, Sociais, Sociais Aplicadas, Letras e Artes (FCHSSALA)

Associação Brasileira de Economistas pela Democracia (ABED)

Associação Brasileira de Educação Musical (ABEM)

Associação Nacional de Pós graduação e Pesquisa em Letras e Linguística (ANPOLL)

Fórum em Defesa do Ensino e dos Professores de História do Ceará

Associação Brasileira de Estudos do Século XVIII (ABES XVIII)

Associação Nacional de Pós-graduação e Pesquisa em Teologia e Ciências da Religião (ANPTECRE)

Associação dos Licenciados em Filosofia (A.L.F.)

Associação Nacional dos Programas de Pós-Graduação em Comunicação (Compós)

Associação Brasileira de Linguística (ABRALIN)

Associação Brasileira de Estudos do Trabalho (ABET)

Sociedade Brasileira de Estudos Organizacionais (SBEO)

Associação Brasileira de Hispanistas (ABH)

Sociedad Argentina de Análisis Filosófico (SADAF)

Sindicato dos Trabalhadores do Serviço Público Federal no Estado da Bahia (SINTSEF/ BA)

Associação Brasileira de Ciência Política (ABCP)

Associação Nacional de Ensino e Pesquisa do Campo de Públicas (Anepcp)

Associação Brasileira de Relações Internacionais (ABRI)

Sociedade Brasileira de Filosofia Analítica (SBFA)

Associação de Pós-Graduandos da UFSC (APG-UFSC)

Sociedade Brasileira de Estudos Clássicos (SBEC)

Associação Nacional de Política e Administração da Educação (ANPAE)

Observatorio Filosófico de México (OFM)

Centro de Estudos Educação e Sociedade (CEDES)

 

——

Nota da direção do IFCH sobre declarações do Ministro da Educação e do Presidente da República

 

 O Instituto de Filosofia e Ciências Humanas da Unicamp manifesta a sua preocupação com as recentes declarações do presidente da república Jair Bolsonaro, e do ministro da educação Abraham Weintraub, sobre a possibilidade de corte de verbas dos cursos de sociologia e filosofia.

A concretização desses cortes afetará não apenas as ciências humanas e a filosofia. Os impactos serão sentidos em todas as áreas do conhecimento e afetarão a produção científica brasileira, acarretando graves consequências para o conjunto da sociedade.

A reflexão sobre as formas de estruturação da sociedade, capacidade de análise e crítica são componentes da formação dos estudantes das ciências humanas e da filosofia, colaborando para o desenvolvimento de profissionais que atuarão como professores da educação básica, cientistas, na administração pública e iniciativa privada.

Causa preocupação o modo como essas informações surgem, sem debate com o conjunto da sociedade e comunidade acadêmica. A liberdade de cátedra garantida pelo artigo 206 e a autonomia universitária garantida pelo artigo 207 da Constituição Federal, encontram-se sob ameaça.

A comunidade do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas da Unicamp reafirma seu compromisso com a educação pública, gratuita e de qualidade, bem como na defesa dos princípios democráticos em nossa sociedade.

Direção do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas da Unicamp

Campinas, 26 de abril de 2019

___

 

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *