[Notícia] Sem eficácia comprovada, prefeituras de SC apostam em ivermectina

Nina Matos – Redação UàE – 16/07/2020

Publicado originalmente em Universidade à Esquerda.

Na última terça-feira (14), Santa Catarina alcançou seu recorde de casos confirmados em um mesmo boletim. Foram 2.235 novos casos registrados, o que acumula 46.050 casos no estado e 534 mortes em decorrência do Covid-19.

Dentre as cidades mais afetadas está Itajaí, com quase 220 mil habitantes, conta com 2.422 casos e 58 mortes — quinta cidade do estado em número de casos e segunda em número de mortes — agora, protagonista na distribuição do ivermectina para a população.

Ivermectina é um antiparasitário conhecido no tratamento de piolhos e sarnas. Após testes in vitro (feito em uma placa celular no laboratório) que mostraram a possibilidade do fármaco ser efetivo e poder avançar para testes mais elaborados, Bolsonaro e sua base abraçaram o medicamento tal qual fizeram com a cloroquina.

Com a propaganda pró-ivermectina realizada pela base bolsonarista — incluindo profissionais da saúde — entidades como a Sociedade Brasileira de Infectologia e a Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia se posicionaram contrárias ao uso do medicamento, afirmando que “redes sociais não são textos médicos e, com frequência, transmitem informações infundadas, impulsionadas por interesses obscuros”.

Em Itajaí a distribuição do remédio iniciou-se na terça-feira passada (7), alcançando mais de 4 mil pessoas logo no primeiro dia. Neste último final já totalizaram mais de 47 mil — o objetivo da prefeitura é chegar em 100 mil habitantes.

O prefeito de Itajaí, Volnei Morastoni, médico pediatra, no início da pandemia havia lançado uma campanha para a distribuição de um remédio homeopático à base de cânfora para “fortalecer a imunidade das pessoas”.

Em Balneário Camboriú, um novo protocolo de atendimento passou a incluir a prescrição da ivermectina e motivou a saída de três médicos do Comitê de Enfrentamento à Covid-19 da cidade. Dentre eles, a presidente do Comitê.

Assim como Bolsonaro, o prefeito de Balneário Camboriú, Fabrício Oliveira, após testar positivo para o Covid-19 passou a defender a ivermectina, inclusive divulgando que se curou devido ao seu uso em conjunto com a azitromicina e o paracetamol.

A mudança de protocolo motivou o Ministério Público de Santa Catarina (MPSC) a questionar inclusive se há “influência religiosa e política” na ação da prefeitura, visto a defesa de Michael Aboud, pastor da igreja Embaixada do Reino de Deus, frequentada pelo prefeito.

No dia 5 deste mês, Fabrício chegou a promover uma live com a médica Nise Yamaguchi e o médico Paulo Olzon para falarem sobre o Covid-19. Nise já foi cotada para o Ministério da Saúde após a saída de Teich. Defensora da cloroquina e da ivermectina, ela também já foi citada pelo pastor Aboud, que incentivou o compartilhamento de conteúdos produzidos pela médica favoráveis ao uso dos medicamentos.

Assim como Itajaí, Balneário Camboriú está entre as cidades mais afetadas pela pandemia: são 2.931 casos confirmados e 27 mortes, ocupando a terceira e quarta posição entre as cidades catarinenses.

Apesar de as demais cidades do estado não terem adotado o uso de tais medicamentos nos protocolos oficiais, as farmácias por todo o estado já apresentam falta dos remédios nos estoques.

Santa Catarina foi um dos estados que mais votou em Jair Bolsonaro nas eleições de 2018 e a população ainda é fonte de muito apoio. Os efeitos da disseminação de informações falsas e dados imprecisos está se apresentando na população catarinense de forma contundente. Com a intensa divulgação de propaganda da ivermectina e da cloroquina a tendência é que a população acredite estar protegida da contaminação e apoie medidas de finalização completa do isolamento social.

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