Morgana Martins – Redação UàE – 22/10/2018
Depois de receber denúncias de diversos jornalistas da Rede Record – responsável por canais na televisão, no rádio e pelo portal de notícias R7 – de que estão sofrendo permanentes pressões para que as notícias beneficiem o candidato à presidência Jair Bolsonaro e prejudique Fernando Haddad, o Sindicato dos Jornalistas Profissionais no Estado de São Paulo (SJSP) veio a público demonstrar seu repúdio a essas pressões inaceitáveis e descabidas em uma empresa de comunicação.
O Sindicato informa que essas repressões começaram a ocorrer depois que, no dia 29 de setembro, o bispo e proprietário da emissora em questão, Edir Macedo, anunciou que passava a apoiar a candidatura de Bolsonaro. Lembrem que foi a Rede Record que colocou no ar a entrevista com Jair Bolsonaro, logo após receber alta do hospital, na mesma hora em que ocorria o debate entre os presidenciáveis na TV Globo, em que o candidato do PSL não fez questão de estar.
Em uma busca rápida no Portal R7, é possível destacar diversas manchetes tratando positivamente da figura do candidato do PSL e seus parceiros: realiaram uma grande cobertura dos atos pró-bolsonaro que ocorreram no domingo (21/10), desmentiram a defesa de Eduardo Bolsonaro em fechar o TSE (mesmo quando isso fica explícito em sua fala) e divulgaram a investigação das Fake News como se envolvessem os dois candidatos (“PF começa a investigar fake news contra presidenciáveis no WhatsApp”). Enquanto são realizadas somente notícias pejorativas sobre Haddad, como sua ida para o Nordeste para reconquistar votos e denuncia que ele possui acordo com uma gráfica envolvida em esquemas da Lava Jato. Essa imparcialidade é também denunciada pelo sindicato, informando que, por vários dias seguidos, os destaques das notícias sobre as Eleições 2018 se dividiram entre reportagens favoráveis a Bolsonaro e reportagens negativas sobre Haddad.
A denúncia realizada configura-se como um assédio, visto que o jornalismo é uma das profissões que possui relativa autonomia por sua própria natureza, sendo o acesso à informação uma cláusula pétrea da Constituição. Além disso, o Código de Ética dos Jornalistas Brasileiros trata e que o jornalista é orientado a “divulgar os fatos e informações de interesse público” e a não se “submeter a diretrizes contrárias à precisa apuração dos acontecimentos e à correta divulgação da informação”.
Confira, na íntegra, o repúdio realizado pelo SJSP:
Em defesa do direito à informação correta e equilibrada na cobertura das eleições, o Sindicato dos Jornalistas Profissionais no Estado de São Paulo repudia as pressões feitas pela direção da Record e exige o respeito à autonomia de apuração e edição dos jornalistas da empresa. Em função da situação, adota ainda as seguintes providências:
a) respeitando a autonomia da Comissão de Ética do SJSP, reforça o pedido para que a direção da Record endosse o “Protocolo Ético para o Segundo Turno das Eleições 2018”, enviado pela Comissão de Ética para a chefia do jornalismo de todas as empresas de comunicação do Estado;
b) solicita uma reunião imediata com a empresa para expressar diretamente sua posição e reivindicar garantias de que as pressões sobre os jornalistas serão interrompidas o quanto antes; c) insiste desde já com as empresas de rádio e televisão do Estado para que, nas negociações da campanha salarial deste ano (data-base em 1º de dezembro), seja incluída a cláusula de consciência, integrante da pauta de reivindicações; d) decide inserir as denúncias relativas à Rede Record no dossiê que prepara para entregar ao Ministério Público dos Direitos Humanos sobre a violação de garantias profissionais dos jornalistas no atual período eleitoral; e e) coloca-se à disposição de todos os jornalistas da emissora para fazer debates, reuniões e adotar todas as medidas necessárias para garantir o respeito à autonomia profissional a que todos os jornalistas, e cada um, têm direito.
São Paulo, 19 de outubro de 2018
Direção – Sindicato dos Jornalistas Profissionais no Estado de São Paulo