Renato Milis – Redação do UàE – 25/04/2022
Os Técnicos Administrativos em Educação da UFSC estão em greve na luta nacional pelo reajuste salarial para conter os efeitos da alta dos preços sobre o poder de compra dos trabalhadores. Mas em nossa universidade lutam também por pautas locais importantes como contra o aumento dos preços do Restaurante Universitário, o direito à alimentação digna dos trabalhadores do Hospital Universitário e às condições de trabalho.
Neste último item, os grevistas vem denunciando como tem sido colocados em situações precárias, em salas com mofo na parede, infiltração, alagamentos, falta de equipamentos e mobiliário, riscos de incêndio em função da falta de manutenção e renovação dos sistemas elétricos, dentre outros. Denunciam também a sobrecarga de trabalho com a falta de trabalhadores, e os efeitos da terceirização sobre a universidade – que a despeito dos esforços dos trabalhadores terceirizados têm causado complicações enormes (inclusive com a diminuição do efetivo das equipes, falta de contratos para manutenção, etc.).
Mas, esta luta não é nova para os trabalhadores. E há ao menos dois setores em que as trabalhadoras estão mobilizadas há muito tempo e em luta e não encontram respostas sérias da administração central. Trata-se das trabalhadoras da Secretaria de Ações Afirmativas e Diversidade (SAAD) e da Pró-Reitoria de Assuntos Estudantis (PRAE).
SAAD
As trabalhadoras da SAAD lutam há anos por condições dignas de trabalho. Hoje é um setor bastante mobilizado na greve dos trabalhadores. O UFSC à Esquerda tem acompanhado a luta das trabalhadoras na greve e conversado há alguns meses com trabalhadoras do setor.
As trabalhadoras têm denunciado as condições precárias do espaço físico onde estão alocadas no térreo do prédio I da Reitoria. Elas contam sobre o mofo, a infiltração, alagamentos e inclusive a infestação de abelhas. Todos os dias pela manhã encontram um conjunto de abelhas mortas nas salas de trabalho.
Falam também sobre as dificuldades para atendimento em função de não terem um espaço com privacidade e isolamento acústico. As trabalhadoras contam que precisam realizar atendimentos aos estudantes em espaço que garantam o sigilo e a segurança para que possam falar sobre situações sensíveis, inclusive aquelas que envolvem violências da própria instituição.
Durante os primeiros dias de greve a reitoria realizou uma reunião com as trabalhadoras, com a presença do Reitor Ubaldo. A reitoria alegou na reunião desconhecer os problemas. As trabalhadoras então levaram Ubaldo e outros membros da reitoria para conhecer o setor. Frente a pressão das trabalhadoras a reitoria disse que iria resolver os problemas, mas até agora não apresentou nada de concreto aos grevistas.
Frente a situação de suas condições de trabalho, bem como o modo como os estudantes são recebidos na universidade, afirmam que as ações afirmativas parecem ser apenas utilizadas pelas gestões como uma ferramenta de marketing. Os estudantes entram pela porta da frente para serem expulsos pela porta dos fundos. Durante a greve, as trabalhadoras e os estudantes indígenas têm denunciado as condições da ocupação pela moradia indígena, a maloca. Infestações de ratos e baratas, problemas com a fiação, infiltração, mofo, alagamentos é o que os estudantes enfrentam para permanecer na UFSC.
Há denúncias também de outros problemas como a sobrecarga de trabalho e as pressões da gestão sobre os trabalhadores. O UFSC à Esquerda ouviu trabalhadoras sobre esta questão. A reitoria tem se beneficiado de uma gestão que funciona criando pressões sobre as trabalhadoras: realizando desqualificações sobre o trabalho realizado (inclusive em debate institucional), solicitando trabalho fora do horário, exigindo que as trabalhadoras resolvam problemas que são de âmbito institucional, etc.
As denúncias sobre essa situação têm sido apresentadas pelos trabalhadores à reitoria desde ao menos 2019, e não foram até hoje solucionadas. Este tipo de funcionamento favorece a reitoria, uma vez que transfere às trabalhadoras do setor a responsabilidade por dar jeito nos sintomas da falta de políticas de permanência (aqui entendida em sentido amplo) dos estudantes na universidade.
Isso se reflete na dificuldade de manter equipes no setor. Há um alto número de pedidos de remoção para outros setores da universidade. As trabalhadoras relatam que há um alto número de adoecimentos que entendem estar relacionados à situação de trabalho.
Em março, o movimento dos trabalhadores criou uma rede de solidariedade às trabalhadoras do setor para apoiar suas reivindicações. Agora na greve a sua luta se soma à luta dos trabalhadores por melhores condições de trabalho.
PRAE
As trabalhadoras da Coordenadoria de Assistência Estudantil da PRAE também estão em luta por melhores condições de trabalho. As trabalhadoras do setor reivindicam um novo espaço de trabalho.
Elas denunciam que o espaço em que estão, no andar térreo da Biblioteca Universitária, é precário para realizar suas atividades em geral, ainda mais agora com os cuidados necessários em função da pandemia de Covid-19. Não há ventilação adequada, há infiltração e o local não comporta a equipe de trabalho.
O espaço deveria ser provisório quando a coordenadoria foi lá alocada há 10 anos, e não há até agora perspectiva para mudança. As diferentes reitorias não se comprometem em dispor um espaço adequado para o setor.
Em fevereiro, as trabalhadoras realizaram um ato para cobrar da reitoria uma solução para o problema. O Pró-Reitor de Assuntos Estudantis, Pedro Manique, esteve presente. Mas, ele e por consequência a reitoria não apresentaram nenhuma resposta concreta. Esta foi a terceira vez que as trabalhadoras apresentaram à reitoria esta demanda, mas não obtiveram nenhum compromisso.
O setor é bastante central no atendimento aos estudantes. É por ele que passa a operacionalização da precária política de permanência da universidade. As trabalhadoras atendem mais de 5.000 estudantes.
A forma como a reitoria de Ubaldo, e as gestões anteriores, lidam com as demandas das trabalhadoras da PRAE e da SAAD demonstram o lugar que dão à permanência estudantil e seu compromisso com a universidade pública.