Foto: Reprodução/ Conexão UFRJ
Maria Alice de Carvalho – Redação UàE – 20/09/2018
Na última segunda-feira (17), o jornal O Globo publicou editorial intitulado “Universidades Públicas precisam se reinventar”, no qual questiona a expansão das universidades de ensino superior público, principalmente da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), chamando-as de “instituições falidas”. Utilizando inclusive de dados os quais não possuem fonte e que não correspondem à realidade dessas universidades.
Diante disso, a UFRJ publicou, na mesma segunda-feira (17), uma nota em resposta ao editorial falacioso d´O Globo, jornal que já havia publicado notícias falsas sobre essa mesma universidade após o incêndio do Museu Nacional.
RESPOSTA AO JORNAL O GLOBO
Em editorial publicado nesta segunda-feira (17/9/18), o jornal O Globo ofende a comunidade científica mundial e, em particular, a brasileira, ao chamar a UFRJ e a Uerj de instituições falidas. A vulgaridade e a violência contra as instituições demonstram o tempo de irracionalismo e violência vivido no Brasil de hoje. Desconsiderando a ética e a verdade, O Globo tem contribuído com a propagação de fake news em prol de seus interesses particularistas. São muitos os exemplos de manipulação que poderíamos citar, mas voltemos à edição do dia 6/9. Enquanto afirmava em editorial que a Universidade havia recusado, há trinta anos, uma oferta de US$ 80 milhões do Banco Mundial para supostos projetos no Museu Nacional, o jornal trazia, na página 16, o desmentido oficial do próprio Banco, informando que a proposta não prosperou em virtude de circunstâncias externas à UFRJ. Não existe falência da UFRJ e, seguramente, da Uerj. No mês passado, a Universidade Federal do Rio de Janeiro foi apontada pelo ranking de Xangai como a melhor universidade federal do Brasil. Por dois anos consecutivos, a UFRJ aparece no ranking universitário do jornal Folha de São Paulo como a melhor do país. É responsável por cerca de 10% dos programas de pós-graduação com qualidade internacional, conceitos 6 e 7 da Capes e seus cursos de graduação estão entre os melhores do Brasil, conforme resultados do Enade e do MEC. Estamos falando da instituição que ajudou o país a descobrir o pré-sal, que investigou prontamente a correlação entre zika e microcefalia. A UFRJ equivale a uma cidade. Os seus campi recebem mais de 70 mil pessoas por dia. Possui mais de mil laboratórios e cinco hospitais de ensino. Apenas um deles, o Hospital Universitário Clementino Fraga Filho, realiza cerca de 300 mil atendimentos ambulatoriais e seis mil cirurgias por ano. Seus estudantes da graduação e da pós-graduação estão entre os mais bem formados, com complexas atividades de ensino, pesquisa e extensão. Importante destacar, também, que a expansão universitária veio acompanhada do crescimento da UFRJ, com novos cursos, novas matrículas, novos programas de pós-graduação e a criação de dois novos campi. A UFRJ é uma instituição capaz de assegurar um padrão de qualidade conforme todos os melhores indicadores, além de ser referência no país, mesmo com os brutais cortes orçamentários sofridos nos últimos quatro anos, o que levou a instituição a operar em déficit. Em 2014, o orçamento da UFRJ era de R$ 434 milhões; neste ano, foi de R$ 388 milhões. O editorial desta segunda-feira volta a insinuar que os gastos com pessoal são crescentes, acima da inflação, o que não é verdade. Em 2014, as despesas com pessoal correspondiam a R$ 2,73 bilhões; em 2018, a R$ 2,66 bilhões. O jornal O Globo fala em excesso de servidores, mas inclui no cálculo da folha os aposentados e pensionistas, induzindo o leitor a erro a partir de premissas erradas. Caso observasse a metodologia internacionalmente aceita da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), não utilizaria no custo corrente da instituição as despesas com aposentados e pensionistas (gastos previdenciários). Como a observação metodológica já foi exaustivamente explicada ao jornal, o leitor somente pode concluir que não há compromisso com a verdade. Quase 70% dos estudantes das universidades federais do país possuem renda per capita abaixo de 1,5 salário mínimo, portanto não teriam as mínimas condições de incluírem pagamento de mensalidade em suas contas mensais. A defesa com a gratuidade da educação é um imperativo ético para o futuro do país. Assim, a forma correta de corrigir as injustiças sociais passa por uma reforma tributária progressiva que incida sobre renda, patrimônio e capital. Seria muito importante que o editorial explicasse o que quer dizer com aparelhamento partidário. A UFRJ é uma instituição autônoma em relação aos partidos, aos credos religiosos e aos interesses particularistas presentes no Estado e no mercado. Esse é um valor sólido da instituição. Ilações que atribuem a opção partidária constitucionalmente assegurada a todos os cidadãos à manipulação político-partidária da instituição novamente desrespeitam a instituição. A UFRJ é ciosa de sua autonomia e jamais permitiria ser manipulada partidariamente. A UFRJ, como as demais universidades, presta contas à sociedade por diversos meios, como órgãos de controle e, sobretudo, pelo que a instituição assegura à sociedade brasileira. A UFRJ tem orgulho de afirmar que o seu principal indicador de eficiência na aplicação dos gastos são os seus resultados auspiciosos e reafirma que a melhor forma de debater o tema da universidade brasileira é com estudos rigorosos, portanto com o abandono de ideias preconcebidas. Antes de olhar para seus próprios interesses, cada sujeito deve mirar os melhores anseios e possibilidades de futuro. Esse é o debate que a UFRJ anseia e reivindica. Reitoria da UFRJ 17/9/2018 |
A UERJ, na terça-feira (18), publicou também uma nota repudiando totalmente o conteúdo do editorial, na qual questiona ao editorialista do jornal O Globo a quais interesses serve, afinal, o fim das Universidades Públicas brasileiras.
Nota em resposta ao editorial do jornal O Globo (17.09.2018)
O Jornal O Globo, em seu editorial de 17 de setembro de 2018 (“Universidades Públicas precisam se reinventar”), pede a reinvenção urgente das Universidades Públicas, em especial da UFRJ e da UERJ, nele nominalmente citadas. Afirma, sem qualquer comprovação, que essas instituições públicas evidenciam(?) um modelo de política educacional já em exaustão(?). Afirma, ainda, que com a expansão desordenada das universidades de ensino superior público, os problemas estruturais foram agravados, levando ao “colapso”, por exemplo, a maior universidade estadual pública do Estado do Rio de Janeiro – a UERJ. Aqui cabe a primeira de nossas objeções a este editorial: – a partir de quais dados institucionais, coletados ou fornecidos pela UERJ, o editorialista se pautou para chegar a estas “brilhantes” e desonestas conclusões? – como não há qualquer dado fidedigno nem sobre a UERJ e nem sobre a UFRJ, apresentado pelo editorial publicado pelo O Globo, temos todo o direito de inferir que houve, no mínimo, má fé do noticiário, o que nos leva a acreditar que esse tipo de jornalismo é que deve ser “reinventado”, já que deixa de cumprir com o que deveria ser a sua missão: buscar o bem público, checar a verdade dos fatos e manter-se fático e imparcial. Diante dessas constatações, a UERJ repudia a visão totalmente distorcida e parcial a partir da qual foi “analisada” no editorial. Senão, vejamos: Primeiramente, o editorial ignora que a UERJ atende a mais de 40 mil estudantes, em todos os níveis e modalidades de ensino, muitos deles oriundos do sistema de reserva de vagas – os cotistas. Em segundo lugar, ignora que deverão ser atendidos pela UERJ, em 2018, em suas unidades de saúde pública – Hospital Universitário Pedro Ernesto (HUPE), Policlínica Piquet Carneiro (PPC) e Odontologia – mais de 230 mil pacientes, muitas vezes em procedimentos de alta complexidade. Ignora, ainda, a posição ocupada pela UERJ e pela UFRJ, em diferentes rankings nacionais e internacionais, em que elas se posicionam – mesmo diante da grave crise econômica e política que se abateu sobre elas – entre as principais instituições de ensino superior do País. Quanto ao Instituto de Aplicação da UERJ (CAp), este é considerado uma das melhores escolas públicas de ensino fundamental e médio. A UERJ (re) afirma que permanece viva e funcionando ativamente, e nesse momento realizando o Vestibular para o ano de 2019. A UERJ reafirma enfaticamente que não vive “virtual falência”, nem tão pouco está em “colapso”. A UERJ espera que, em novos editoriais em que seja citada pelo jornal O Globo, os dados oficiais disponíveis, na página da instituição, sejam consultados e corretamente utilizados, pois são eles os dados verdadeiros e fidedignos já que produzidos por ela e transparecidos à toda a sociedade. Encerramos com uma pergunta ao editorialista: A quem interessa acabar com as Universidades Públicas brasileiras? Reitoria da UERJ 18/09/2018 |