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Nina Matos – Redação UàE – 29/07/2020
Publicado originalmente em Universidade à Esquerda.
Já em fases avançadas de testes, diversas vacinas contra o Covid-19 do mundo todo estão se apresentando como grandes candidatas para combater a pandemia do Covid-19.
A maioria delas são frutos de parcerias entre empresas privadas e universidades ou instituições governamentais, que financiam todo, ou boa parte, do processo de desenvolvimento das vacinas.
A princípio soa como alívio que logo o mundo estará imunizado e a pandemia finalmente será controlada. Contudo, algumas empresas anunciaram que não venderão suas vacinas a preço de custo.
Na semana passada, em audiência no Congresso dos Estados Unidos, os laboratórios Pfizer, MSD (Merck Sharp & Dohme) e Moderna afirmaram que não será possível vender as vacinas sem uma margem de lucro e que o preço será avaliado levando em consideração a emergência global de saúde. Para ilustrar o peso destas afirmações, o financiamento dado à Moderna pelo governo dos Estados Unidos foi de US$ 483 milhões.
Outras empresas, como a AstraZeneca e a Johnson & Johnson afirmaram que ofertarão, respectivamente, 300 milhões e 1 bilhão de doses a preço de custo. Sendo que a primeira, desenvolvendo em parceria com a Universidade de Oxford, já possui um contrato com uma agência estadunidense de US$ 1,2 bilhão. A segunda, por sua vez, recebeu financiamento da Casa Branca de US$ 456 milhões.
De acordo com analistas do banco de investimentos SVB Leerink, as vacinas da Pfizer e da BioNTech — outra empresa que está com sua vacina em testes avançados — podem custar aos cofres estadunidenses em torno de US$ 19,50 por dose, ou US$ 39 por pessoa.
No Brasil, as negociações de vacinas estão sendo realizadas com a Moderna, a AstraZeneca e a empresa chinesa SinoVac, sendo que esta última conta com a participação do Instituto Butantan. Há também testes na fase 3, última fase de testes, sendo realizados pela SinoVac em voluntários brasileiros e, caso seja comprovada sua efetividade, as vacinas serão distribuídas pelo SUS.
De acordo com a Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior (Andifes), 46 universidades federais estão envolvidas em mapear o vírus e encontrar uma vacina sendo, ao todo, 823 pesquisas sobre o assunto.
Em crises, como esta que vivemos, as universidades públicas podem expor seu valor na produção de conhecimento autônomo de interesse público. Maiores investimentos nas instituições públicas poderiam garantir que um grupo não se beneficiasse do lucro com a desgraça e a pandemia. Podendo fazer a vacina alcançar mais pessoas por meio do SUS, garantindo um controle da pandemia com mais rapidez.
Ao atribuírem lucro nas vendas das vacinas essas empresas lucram duas vezes, visto o alto financiamento que receberam dos governos. Num momento de pandemia, onde a urgência de garantir a vida impõe diversos desafios, ficamos reféns do lucro de empresários e seus acionistas, isso quando não somos segregados pela impossibilidade de arcar com os custos.
Por isso, a defesa pela universidade pública é fundamental e não pode deixar de ser erguida. Uma Universidade que seja comprometida verdadeiramente com a classe trabalhadora é uma Universidade crítica, com capacidade de questionar aquilo que a burguesia determina como política para a sociedade e de propor novas saídas para as crises que nos assolam. Nossas vidas estão acima de qualquer lucro.