Helena Lima – Redação UàE – 07/05/2020
Na última segunda-feira, dia 4, os moradores do Morro do Mocotó realizaram um ato em homenagem às vítimas da violência policial. Os manifestantes fecharam a Rua Silva Jardim, aos pés do morro, para expor à população sua realidade e reivindicar o fim da opressão policial no Mocotó e a cobrar as políticas públicas prometidas para a comunidade.
Cruzes foram dispostas ao longo do canteiro central, cada uma representando um jovem morto. Nelas, estavam escritas suas idades quando faleceram, todas entre 15 e 25 anos, e a data dos assassinatos, das quais três foram no último mês.
A Polícia Militar (PM) estava presente ato, mais uma vez com um fim coercitivo. “Plantamos flores e colhemos rajadas de tiros. Depois do protesto, no início da madrugada, a polícia deu rajadas de tiros no morro, deixando toda a comunidade apreensiva!”, esse foi o comentário de uma moradora na página do Instagram do Cotidiano UFSC.
Na semana passada, dia 28, outro ato contra a violência policial, pelo assassinato de quatro jovens, tinha sido realizado. Durante o feriado de Páscoa, em dois dias, a comunidade teve quatro vítimas da política genocida da PM no Mocotó.
Em longa reportagem, o projeto Cotidiano UFSC relatou que os velórios dos jovens, principalmente das vítimas da PM, normalmente mobilizam fortemente a comunidade do Mocotó. No entanto, por conta das restrições do coronavírus, só os parentes e amigos mais próximos puderam velar os entes queridos.
Foto: Ato contra a violência policial 28 de abril; JAV
Em agosto de 2018 foi instalada uma base policial permanente no Morro do Mocotó, nomeada Operação Mãos Dadas, com o suposto fim de combater o tráfico de drogas. Desde então, diversos depoimentos apontam para a intensificação da violência da PM na comunidade.
A violência intensificada desde 2018, relatada pelos moradores, envolve: invasões domiciliares arbitrárias, sem nenhum mandato que às respaldassem, agressões, intimidações, e disparos onde alegam “legítima defesa”, sendo que muitos depoimentos apontam para pessoas acertadas pelas costas, caminhando ou encurraladas sem nenhuma arma.
Dia 12 de setembro de 2019, uma ação da PM terminou com cinco moradores do Mocotó baleados. Esse episódio aconteceu numa quinta feira à tarde. Uma das vítimas, Shilaver, correu ao avistar os policiais subindo o morro, ele foi acertado primeiro nas pernas, mas Thaise, sua prima, afirmou que “com o meu primo já rendido no chão, eles [policiais] deram mais outros tiros. Foram cinco tiros que eles deram, tudo por trás”.
As câmeras que os policiais portam em suas vestimentas só foram acionadas depois do ocorrido, demonstrando que não estavam em perigo, mas deliberadamente escondendo seu crime. Foi naquele mês, duas semanas depois, dia 24 de setembro, que um grande ato contra a violência policial se estendeu por horas no Morro do Mocotó e contou com a participação de muitos estudantes da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), que estavam em greve.
Foto: Ato do dia 24 de setembro de 2019 contra a violência policial; Cotidiano UFSC
Em março de 2020 a Operação Mãos Dadas se retirou, do dia para a noite, do Mocotó. Infelizmente, isso não significou justiça e paz para a comunidade. Todo morador, hoje, pode ser agredido pela PM, não importando nem a idade, sendo que uma criança negra de quatro anos foi enquadrada e fotografada no início do ano, como relataram ao Cotidiano UFSC.