[Notícia]Interventora da Ufersa persegue estudante por posicionamento político

Imagem: Comunidade universitária se manifesta em frente a Ufersa. Reprodução: SINTEST/RN.

Maria Alice de Carvalho – Redação UàE – 02/09/2020

Publicado originalmente em Universidade à Esquerda.

A Universidade Federal Rural do Semi-Árido (Ufersa) está dentro do escopo de universidades que, desde o início do mandato do presidente Jair Bolsonaro, se encontram em intervenção política.

A Ufersa realizou consulta à comunidade universitário para as eleições da reitoria em junho deste ano. Porém, em visita do presidente à Mossoró (RN) no último mês, este nomeou como reitora interventora Ludmilla Carvalho Serafim de Oliveira, que foi a terceira colocada no pleito eleitoral com apenas 18,33% dos votos.

A professora Ludmilla, em live que participou no mês de julho, já havia deixado claro o tom de seu mandato quando afirmou que aceitaria de bom grado a medida do presidente e que os insatisfeitos deveriam se retirar da universidade. Em apenas poucos dias de intervenção, a professora já faz jus às suas palavras.

Diante do desrespeito ao processo democrático de eleição, os estudantes e entidades representativas se manifestaram contrários ao golpe na universidade.

Como forma de perseguição política e censura às opiniões críticas, Ludmilla abriu um inquérito na Polícia Federal, no dia 26 de agosto, contra a atual coordenadora geral do Diretório Central dos Estudantes (DCE) da Ufersa, Ana Flávia Lira.

A interventora acusa a estudante de calúnia e difamação por tê-la chamado de golpista e interventora em áudios que circulam entre a comunidade; sendo que a estudante não a acusou de nada que ela de fato não o seja, tendo em vista que tomou posse sem ser de fato eleita.

Ana Flávia, em diálogo com os estudantes através de áudios, convocou estes a construírem a luta na Ufersa e a não darem “nenhum minuto de sossego para a golpista Ludmilla e toda sua equipe”. Em materiais do DCE, Ana Flávia aparece também se posicionando politicamente contra o processo de intervenção e dizendo que pretende desmoralizar e constranger a interventora e sua equipe de gestão, como uma forma de lutar contra o processo antidemocrático na instituição de ensino.

Diante dos posicionamentos políticos da estudante e de seu convite à comunidade estudantil para a luta, a interventora a acusa de “suposta formação de quadrilha”. Uma forma clara de perseguição aos movimentos políticos e estudantis que se conformam na universidade.

De acordo com a portaria aberta para o inquérito, é colocado que a Polícia Federal estará na Universidade “como medida urgente e cautelar”. Ou seja, de que o aparato policial estará presente na instituição para contribuir com a atuação da interventora.

O DCE Romana Barros, entidade representativa dos estudantes da Ufersa, emitiu uma nota sobre a situação, na qual colocam a ação da interventora como violenta e como um processo de perseguição.

“[…] foi para perseguir e criminalizar a comunidade acadêmica que ela, que perdeu as eleições para a reitoria, está tentando assumir a reitoria à revelia do resultado das urnas […] que tipo de professora chama a polícia para impedir que uma estudante manifeste sua opinião?”

Diversas entidades e movimentos, diante do ocorrido, emitiram uma nota de solidariedade à Ana Flávia e à comunidade acadêmica da Ufersa.

Na última segunda-feira (31), estudantes, professores e técnicos realizaram um ato em frente a Ufersa e, em um certo momento, tomaram parte também de um trecho da BR-110 por alguns minutos. Após, entraram no prédio da Reitoria em manifestação. O ato, que reuniu cerca de 100 pessoas, carregava faixas e palavras de ordem pedindo a saída da interventora.

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