O difícil contexto da greve docente em nossa universidade

Imagem: movimento docente UFSC 2015

 

Os professores da UFSC encontram-se, desde o dia 22 de junho, em greve. Resultado da adesão da categoria à greve nacional dos professores que teve início no dia 28 de maio, tendo como pauta: defesa da carreira, condições de trabalho, defesa do caráter público da educação nacional e garantia da autonomia plena das universidades. O Comando Local de Greve Docente desde então buscou corajosamente organizar as atividades de mobilização docente em âmbito local. No entanto, sem poder contar com o apoio de nenhum sindicato da categoria, o balanço dessa mobilização é complexo. O agravante nesse contexto certamente é a atuação da APUFSC-Sindical, que traiu sua categoria ao trabalhar para desmobilizar os professores, e tendo, inclusive, seu presidente constantemente ameaçado os professores grevistas de processos administrativos e trabalhistas – o que evidencia o caráter que assumiu essa entidade desde sua ruptura com o ANDES-SN.

Além disso, a APUFSC-Sindical utiliza todo o aparato comunicativo do sindicato para construir um discurso de que o ANDES-UFSC não pode representar, no âmbito da UFSC, a categoria dos professores (sendo que, na verdade, trata-se de uma liminar que ainda não foi julgada), e ao mesmo tempo, esconde de sua própria base de filiados que, ao fazê-lo, está impedindo que os professores dessa universidade sejam representados junto ao Governo Federal – uma vez que o Supremo Tribunal Federal possui decisão, essa sim transitada em julgado, em favor da ANDES-SN, que o estabeleceu como o único sindicato que pode fazer representar os docentes federais em mesas de negociações com o Governo Federal. Ao longo dessas últimas semanas acompanhamos o Comando Local de Greve em atividades de mobilizações como: debates públicos sobre a autonomia universitária, os cortes de verbas na educação pública, a desestruturação da carreira docente, terceirizações nas federais, entre outros. Houve também um enorme número de passagens em salas de aulas e nas salas dos professores e seus núcleos de pesquisas. Desse modo, as atividades de mobilização e informação sobre a greve ocorreram como há muito tempo não se via. Os boletins informativos também favoreceram significativamente o acesso às informações e são publicados semanalmente pelo Comando.

Nessa última quarta-feira, dia 8, um novo passo decisivo foi dado, pois a proposta apresentada pelos professores de Comando Unificado de Greve com os Técnicos-administrativos em Assuntos Educacionais (TAEs) foi aprovado pela assembleia dessa categoria. Os estudantes que estão em greve, como atualmente no curso de Serviço Social e os estagiários do Núcleo de Desenvolvimento Infantil (NDI), também poderão compor esse Comando em paridade com as categorias dos servidores. Consideramos que esse passo é muito significativo para dar apoio aos setores que desejam entrar em greve e sofrem pressões estranhas às suas mobilizações. Além disso, também poderá favorecer a organização de atos e ações conjuntas das categorias em lutas pela universidade. A despeito de tudo isso, a mobilização docente parece caminhar vagarosamente, uma vez que muitos professores – inclusive muitos historicamente vinculados às greves anteriores – estão furando greve. Esse comportamento da base deve ser visto com cautela, pois há muitos elementos importantes que precisam ser considerados sobre a greve docente.

O primeiro aspecto a considerar é que a maioria absoluta dos professores, como apuramos ao acompanhar as passagens em salas e nos relatos do CLG, concorda com as pautas e com a necessidade do instrumento de greve para pressionar o Governo Federal a negociar com a categoria. Porém, além da confusão sobre a divisão sindical, os professores parecem se encontrar profundamente amarrados aos cursos de especialização, programas de pós-graduação e uma série de cargos administrativos que os impedem de paralisar total ou parcialmente suas atividades. Além disso, atualmente há uma construção moral na docência que exorta os professores a dignificarem a sobrecarga de trabalho – igualando uns aos outros pela estafa, o adoecimento e o estresse constante. Esses sujeitos orgulham-se de suas sobrecargas de trabalhos e há um profundo senso se zelo na manutenção dessas imagens diante dos demais.

Essa face perversa da meritocracia docente vem contribuindo para que os professores assumam muitas atividades estranhas à sala de aula e à formação dos estudantes para o fim de legitimar suas trajetórias acadêmicas. O efeito colateral é o adoecimento físico e psicológico, que passaram a ser encarados como condição normal, além de propiciar graves obstáculos à consciência de coletividade. Isso porque esse éthos contribui para um processo de significação que eleva o individualismo às últimas consequências e, o professor, de modo geral, não consegue mais cogitar à coletividade como condição da ação política. Os elementos que apontamos fazem com que o tipo de atividade sindical da categoria tenha hoje outra forma de efetivação, formas que terão que encontrar modos de mobilização flexíveis até que se reverta o éthos da meritocracia neoliberal que tomou as consciências da docência e até que a crise de direção do movimento dos professores esteja solucionada. Apelos histéricos por enormes movimentações de massas por parte dessa categoria não contribuem nem para uma, nem para outra coisa.

Portanto, consideramos que a deflagração da greve e o modo como ela vem sendo conduzida pelo Comando Local de Greve Docente está plenamente condizente com os desafios conjunturais. Seja como for, a greve docente na UFSC contribui para que, sobre os ombros desse movimento paredista sejam edificadas condições futuras melhores para a mobilização docente. É um esforço generoso para honrar as gerações passadas de docentes que fizeram greves em condições até mesmo mais difíceis que essas em seus tempos, mas também uma contribuição às novas gerações docentes que podem conhecer agora uma face do professorado que não está em consonância com o imobilismo reinante nos últimos anos.

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