“Não posso ser professor se não percebo cada vez melhor que, por não poder ser neutra, minha prática exige de mim uma definição. Uma tomada de posição. Decisão. Ruptura. Exige de mim que escolha entre isto e aquilo.” – Paulo Freire
Sinceramente? Cansamos dos “professores legais” da Biologia. Cansamos daqueles que se dizem “críticos”, daqueles que falam sobre “outras cosmovisões”, que falam sobre a realidade de “outros sujeitos”, sobre “comunidades tradicionais e povos originários”, cansamos especialmente daqueles no campo da educação que se dizem “freireanos”. Não é que essas ideias não sejam fundamentais para o curso, pelo contrário, nem que esperamos só desses docentes que tomem ações. O problema é o abismo que vem separando o discurso da prática.
A Universidade Pública Brasileira vive um verdadeiro desmonte. Não se trata apenas de uma crise orçamentária, mas de um projeto deliberado de ataque à educação pública. Senão, como explicar que os R$12 bilhões de reais em verbas cortadas nesse ano coexista com um novo investimento de R$5 bilhões no Fundo de Financiamento Estudantil (FIES), programa que financia indiretamente as Universidades Privadas?
Como explicar a criação da Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (EBSERH), uma empresa pública de direito privado para gerir os Hospitais Universitários na lógica de mercado? Ainda, como explicar a aprovação pelo Supremo Tribunal Federal da contratação através de Organizações Sociais (OSs) em toda a Administração Pública, incluindo Universidades, Hospitais e Institutos? Com isso, não será mais necessário haver concurso público para a contratação de servidores e docentes, uma forma clara de precarização das condições de trabalho. As políticas para a educação no país caminham a passos rápidos para formas privatistas e mercadológicas.
Não se trata apenas da necessária luta em defesa da educação pública, como isso já não fosse o bastante. Os mesmos professores que falam sobre educação popular, sobre outra forma de extensão universitária e sobre valorizar os conhecimentos tradicionais têm se mostrado incapazes de olhar para as condições de acesso e permanência de estudantes.
Existe uma transformação clara no perfil do estudante na UFSC, após quase dez anos de aumento progressivo de vagas e da criação e fortalecimento das políticas de ações afirmativas. Uma enorme leva de estudantes das classes populares agora ingressa na Universidade, mas estão sendo recebidos com total descaso sem Restaurante Universitário, sem novos editais na PRAE, sem vagas na Moradia Estudantil, com corte de bolsas de pesquisa e extensão, com cortes anunciados no auxíliomoradia. Estudantes pobres, negros, estudantes com filhos e estudantes indígenas serão os primeiros a abandonar a Universidade caso a Reitoria e docentes continuem fingindo que há condições para manter esse semestre. Na verdade, isso já está acontecendo.
Em que pese todas as dificuldades de permanência para estudantes, nos mobilizamos para uma Assembleia Estudantil da Biologia nessa quinta (20), parte de um esforço de unidade na luta pela Universidade Pública firmado na Assembleia Comunitária da UFSC na semana passada, onde servidores docentes, servidores técnicos e estudantes dialogaram e tiraram encaminhamentos juntos.
Para nós, é essencial reconhecer a coragem e disposição de vários docentes e TAEs que estão na luta e construíram essa mobilização conosco através do Comando Unificado de Greve, discutindo lado a lado a conjuntura da UFSC, escrevendo panfletos e até preparando os almoços do ato que chamou a Assembleia Comunitária, dando um exemplo real de uma educação crítica, dialógica e transformadora. Será que podemos contar com os docentes do CCB nessa luta?
* Estudantes do Curso de Biologia.