Montagem: UàE.
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[Opinião] 32,4 milhões de brasileiros utilizam aplicativos como fonte de renda

Imagem: Montagem UàE.

Maria Alice de Carvalho *- Redação Universidade à Esquerda – 13/04/2021

A elevação da taxa de desemprego e o encarecimento do custo de vida no país têm obrigado milhares de brasileiros a entrar na fila da informalidade e a recorrer aos aplicativos como única forma de sobrevivência.

De acordo com uma pesquisa realizada pelo Instituto Locomotiva, e divulgada pelo Jornal Estadão, o Brasil possui hoje 32,4 milhões de pessoas (cerca de 20% da população adulta) que buscam nos aplicativos uma forma de garantir parcela ou totalidade de sua renda. 

O aumento no último ano foi de 11,4 milhões de pessoas que buscaram por esse meio de trabalho. Em fevereiro de 2020 o contingente de pessoas que trabalhavam por aplicativo era de 13% da população adulta.

A pesquisa mostra que a realidade brasileira, em meio à crise econômica e sanitária, é de que os aplicativos se tornaram um dos maiores empregadores do país. Dos 32,4 milhões de trabalhadores identificados pela pesquisa, 16% possui nos aplicativos sua única fonte de renda, 15% possui como fonte de renda parcial e 24% utiliza como trabalho eventual — o famoso “bico”.

Dentre as plataformas utilizadas para obtenção de renda informal estão desde as redes sociais e os aplicativos de mensagem (como Facebook e WhatsApp), até as plataformas de transporte (Uber e 99 etc.), de entrega (Rappi, iFood, Uber Eats, Loggi etc.) e tecnologias de vendas online (Mercado Livre, Magazine Luiza etc.).

De acordo com informações cedidas pelo vice-presidente financeiro e de estratégia da IFood, Diogo Barreto, o número de pedidos de trabalhadores para se cadastrar na plataforma aumentou de 30 milhões para 48 milhões no último ano. Somente a IFood possui, hoje, 160 mil entregadores ativos na plataforma — tendo em vista que nem todos são aceitos para cadastro.

Esses dados expressam como, frente à crise econômica e, em decorrência dela, ao aumento do desemprego e da degradação das condições de vida, o trabalho se reestrutura no país e toma novas formas de exercer a exploração.

Os aplicativos hoje são vendidos como uma ótima oportunidade aos que são largados ao desemprego, para que empreendam e façam seu próprio dinheiro. Na realidade, diante da miséria do desemprego, essa saída aparece muitas vezes como a única alternativa para colocar comida na mesa. 

A informalidade do trabalho não nos é, portanto, uma escolha, mas sim uma realidade que nos é enfiada goela abaixo. Afinal, a massa de desemprego e subemprego empurra os trabalhadores a plena liberdade de escolher entre morrer de fome ou se submeter às mais precárias condições de trabalho.

Esses trabalhadores que hoje trabalham através de um vínculo com os aplicativos são colocados em um lugar de falsa autonomia sobre suas atividades para fins de renda. O aplicativo aparece como mero instrumento e, na superfície, perde-se de vista que eles permanecem em uma relação extremamente exploratória de sua força de trabalho e de sua produção de vida.

Ou seja, a precarização é vendida como “liberdade de trabalho”. Uma grande farsa que para ficar escancarada não precisa ir muito longe, basta olhar para o conjunto de trabalhadores por aplicativo que possuem uma jornada de  10h a 18h — muitas vezes até mais — para ganhar uma merreca que sequer é suficiente para bancar sua sobrevivência e de suas famílias. E sob condições extremamente inseguras de trabalho.

O crescimento do número de brasileiros que recorre aos aplicativos como forma de garantir renda no último ano não é apenas um dado sobre como as tecnologias e o isolamento social mudaram o mundo do trabalho e as relações, é um dado que deixa claro que mesmo nos momentos mais drásticos de crise — e principalmente nestes momentos -=— o capital é capaz de se reestruturar e aprofundar o nível de exploração da força dos trabalhadores. 

Fica claro também como somos colocados a suportar formas de trabalho cada vez mais mais degradantes para garantir o mínimo de sobrevivência, quando a garante.

O desemprego massivo, os trabalhos informais e a ascensão dos aplicativos sem garantias e renda digna, somado ao aumento inflacionário da cesta básica, apenas reforça algo que se sente na pele: a crise está sendo paga pelos trabalhadores.

*Os textos de opinião são de responsabilidade dos autores e não representam, necessariamente, as posições do Jornal.

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