Foto: UFSC à Esquerda
Marcelo Ferro – Redação do UàE – 26/09/2017
No primeiro dia de setembro, a Reitoria fabricou uma notícia justificando as filas quilométricas do RU:
“Na opinião do responsável pela PRAE, o fato de se atrair mais quatro mil pessoas (já que são oito almoços diários) e gerar as quilométricas filas, está relacionado à qualidade da comida e os investimentos feitos no setor.” [1]
O texto ressalta a dedicação da administração central para melhorar a qualidade e produtividade do restaurante. Três novos fornos, uma fritadeira, três servidores. Hoje tem filé mignon suíno, molho mostarda.
“A universidade tem feito um esforço para obtenção de recursos. Há um trabalho da gestão junto à bancada catarinense no congresso nacional e aqui junto à Fapesc nesse sentido.”
Contudo, o pró-reitor reconhece:
“A equipe é suficiente e é claro que não gostaríamos que o estudante ficasse esperando 40 ou 50 minutos na fila em dias de chuva para se alimentar.”
Para o pró-reitor, uma opção seria reformar a ala velha do RU para abrigar 500 pessoas. Contudo, qualquer ampliação “está limitada pela escassez de recursos”. Sabemos, o orçamento pra permanência na UFSC sempre foi limitado, nunca foi prioridade da reitoria a refeição dos estudantes, a moradia, a vida no campus, pelo contrário. O que o responsável da Pró-Reitoria de Assuntos Estudantis nos deixa de dizer é que a cabeça da administração central, o reitor agora investigado por um esquema criminoso de desvio de recursos junto às Fundações, avançava um projeto de Universidade para pôr fim a tudo isso, escancarando as portas para as Parcerias Público-Privadas e para a privatização; cercando o campus, facilitando a entrada da Polícia Militar; aconselhando a cobrança nos cursos de pós-graduação nas Universidades Públicas [2] etc. etc.
Voltemos um pouco. Recordemos a história desse RU, da nova ala, que já não é tão nova. No texto publicado no UàE, Zé Braga nos reaviva a memória:
“Entre março e abril de 2009, a diretoria do Diretório Central dos Estudantes convocou os centros acadêmicos e organizou uma série de mobilizações que ficaram conhecidas como a ‘Semana do RU’. As filas eram enormes e batiam os recordes para época; as duas alas do restaurante já não comportavam os estudantes; (…) Naquele momento o DCE teve um papel decisivo na conquista do Restaurante Universitário. Foi uma semana intensa de mobilizações: passagens em sala; panfletagens, com uma cartilha que debatia os diversos problemas do restaurante; intervenções; que culminaram num grande ato e em diversas vitórias: desde a ampliação do horário para compra de passes, a mudança do RU noturno, as canequinha azuis (sim, antes eram copos de plástico) e o compromisso da reitoria com a construção de uma nova ala para o restaurante.” [3]
Quando da inauguração, em 2011, após seguidos atrasos, a nova ala tentou ser transformada em atividade de campanha do então candidato a reitor, o Paraná. O DCE, na ocasião, teve de deixar claro o sentido daquela vitória: “O NOVO RU É OBRA DA LUTA DOS ESTUDANTES!”
O tempo passou. Se, por um lado, nossas forças enquanto movimento dos estudantes diminuiu, se o DCE há tantos anos foi jogado às traças pelas mãos dos liberais e oportunistas, se as chapas de hoje bradam: “promessas irrealizáveis!”, por outro a fila pro almoço só aumenta. Nos convém recordar como fazemos conquistas.
Não está na hora de ampliar o RU?
[1] http://noticias.ufsc.br/2017/09/hora-do-almoco-filas-para-o-restaurante-universitario-triplicam/ [2] https://www.youtube.com/watch?v=OCMJtOfVOxg [3] https://www.facebook.com/ufscaesquerda/photos/a.1479294555615624.1073741829.1410527489158998/1967000676845007/