Foto: Reprodução/ Movimento Contra as EJs no CFH
Por Maria Alice de Carvalho da redação do UàE – 23/04/2018
Na última semana, as Empresas Juniores voltaram a ser debatidas pelos estudantes da UFSC. Dessa vez, a discussão surgiu em diferentes espaços e foi tratada de formas totalmente diferentes neles.
Na quinta-feira passada (19/04), o Centro Acadêmico Livre de Psicologia – CALPsi e o Movimento de Criação de Empresa Júnior no Curso de Graduação em Psicologia – Persona, respeitando deliberação da Assembleia Estudantil (28/03), organizaram um debate para trazer aos estudantes do curso elementos que contribuíssem com a reflexão e então construção de um posicionamento com relação às EJs na Universidade Pública.
A demanda da Assembleia Estudantil de se realizar um debate sobre esse assunto, para além de ir ao encontro à necessidade de se compreender melhor os reais significados e consequências da presença de Empresas Juniores na Universidade, surgiu também diante dos últimos acontecimentos envolvendo o processo de criação de uma EJ no Curso de Graduação em Psicologia.
Após ter sofrido interferência do Pró-Reitor de Extensão Rogério Cid Bastos[1] e, finalmente, ter voltado para as mãos da Coordenação do Curso de Psicologia em novembro do ano passado[2], o Processo do Projeto de Criação de Empresa Júnior no Curso de Graduação em Psicologia[3], dessa vez, simplesmente desapareceu da mesa do então Coordenador de Curso, Adriano Beiras.
Na reunião de Colegiado de Curso do dia 19/03, os então coordenadores anunciaram aos membros do colegiado e às outras pessoas ali presentes que o processo referente ao projeto de criação da Persona havia sido roubado da sala da Coordenação de Curso e que, diante disso, os procedimentos tomados seriam o de reconstituir o processo a partir de cópias existentes e criar uma comissão para adequar o projeto de acordo com a Resolução Normativa 90/Cun/2017[4] e avaliar a sua compatibilidade com o Projeto Político Pedagógico do Curso de Psicologia. A partir disso, a Comissão possuía a função de construir um parecer a ser apresentado na próxima reunião de Colegiado de Curso para ser votado em regime de urgência.
A Comissão foi composta pela Coordenação de Extensão, Coordenação de Ensino e um membro do Núcleo Docente Estruturante (NDE). A cadeira de representação discente nesta comissão não foi ocupada pois, após longa discussão em Assembleia Estudantil, os estudantes manifestaram discordância com esse procedimento e, diante dos rumos que o processo pode tomar, deliberaram por não participar da elaboração de tal parecer.
O parecer da Comissão foi apresentado no último Colegiado de Curso (16/04) e indicou que o Projeto de EJ do Curso de Psicologia condiz com o Projeto Político Pedagógico, sugerindo apenas pequenas mudanças no Projeto da Persona para que esse se adeque melhor às leis, sem mudanças fundamentais no conteúdo. O parecer foi aprovado em unanimidade pelos representantes docentes, enquanto os representantes discentes que estavam presentes votaram contrários ao parecer.
Seguindo agora seu trâmite natural, o Processo já viciado e reconstituído através de cópias será rediscutido no Conselho de Unidade do Centro de Filosofia e Ciências Humanas – CFH.
O debate[5] decorrente disso, organizado pelo CALPsi e pela Persona, o qual tinha na mesa os debatedores Allan Kenji Seki e Gustavo Werlang, possibilitou o surgimento de questões extremamente importantes e que devem sempre ser lembradas pelo corpo estudantil dessa Universidade.
O debatedor Allan Kenji Seki, diferente de Gustavo Werlang que permaneceu na simples reprodução de um discurso que pode ser facilmente encontrado na página da Brasil Júnior, trouxe a importância de sempre que formos debater sobre as Empresas Juniores na Universidade, nos atermos aos princípios da Universidade Pública, para assim podermos partir para a análise de qual a relação das EJs com a educação e com a instituição na qual nos encontramos.
A Universidade quando surgiu, surgiu com a função de ser crítica ao que quer que seja e a quem quer que fosse; sua produção de conhecimento científico deve sempre seguir esse princípio. O que as EJs fazem dentro da Universidade vai totalmente ao contrário disso: as EJs coadunam com uma lógica liberal de empresariamento da educação, de uma formação que adequa os sujeitos ao mercado de trabalho e de um ativismo empresarial que tenta redefinir o modelo educacional dentro das instituições. E é para essas questões que devemos nos voltar nesse debate.
As Empresas Juniores podem sim juntar a prática a teoria como seus defensores argumentam, as Empresas Juniores podem sim proporcionar desenvolvimento individual aos estudantes do Movimento Empresa Júnior (MEJ), mas o que está em questão não é isso, o que precisamos realmente nos questionar é se as Empresas Juniores atendem ou não ao que a Universidade Pública de fato se propõe a ser.
Para além do contexto do Curso de Psicologia, as Empresas Juniores apareceram nessa última semana, ainda, em um outro espaço dentro da UFSC; sendo passível de um outro nível de discussão.
O Diretório Central dos Estudantes Luís Travassos, na semana passada, lançou uma nota para se explicar com relação à emissão de carteirinhas estudantis e ao não acesso à conta bancária da entidade. Na nota, o DCE relatou que para resolver essas questões, contatou a Locus Iuris, Empresa Júnior do curso de Direito da UFSC. Logo em seguida ao lançamento da nota, estudantes começaram a questionar o fato de um DCE que supostamente se posiciona contrário à existência das EJs na Universidade Pública recorrer ao serviço de uma Empresa Júnior na necessidade de resolver seus problemas jurídicos.
De fato, cabe a nós realizarmos a crítica à atual gestão do DCE e questioná-la quanto a seus princípios e firmeza de seus posicionamentos. Por que, tendo à disposição o Serviço Modelo de Assistência Jurídica (SAJU) e o Centro Acadêmico XI de Fevereiro (CAXIF) para recorrer, o DCE optou pela Empresa Júnior do Curso de Direito diante dessa necessidade?
Apesar de terem ocorrido isoladamente, o fato envolvendo o DCE e a Locus Iuris apareceu durante o debate do Curso de Psicologia e, diferente de como surgiu no discurso de alguns estudantes, é importante ressaltar que a Gestão Ainda Há Tempo não possui relação alguma com o Movimento Contra as EJs que surgiu lá em 2013 no CFH; um Movimento que realizou debates e materiais informativos e que, a partir disso, conseguiu construir junto de seu Centro de Ensino a consciência de que por não ser condizente com a função da Universidade Pública e com o Projeto Político Pedagógico do CFH, ali as EJs não existirão!
Se um DCE que um dia disse não concordar com a existência das EJs na Universidade Pública cometeu o erro e a hipocrisia de recorrer a elas em um momento de necessidade, o Movimento Contra as EJs no CFH luta e resiste até hoje!
[3]Processo administrativo nº 23080.0115001/2011-72
[4]https://repositorio.ufsc.br/xmlui/handle/123456789/174037
[5]Transmissão do debate realizada pelo UàE: https://www.facebook.com/ufscaesquerda/videos/2064830560395351/
https://www.facebook.com/ufscaesquerda/videos/2064835807061493/