[Opinião] Auxílio emergencial e o descaso com a vida

Imagem reprodução: Beneficiários enfrentam chuva e filas para sacarem auxílio emergencial em Recife

Leila Regina –  Redação Universidade à Esquerda – 29/04/2020

Depois da aprovação da liberação dos 600 reais correspondentes ao auxílio emergencial para trabalhadores informais, microempreendedores individuais (MEI), autônomos e desempregados pelo período de três meses durante a pandemia do Coronavírus – COVID-19, ao que Bolsonaro demorou a sancionar, o que temos acompanhado é um descaso com as pessoas que tem essa necessidade.

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Além da demora inicial na sanção presidência, as pessoas tem que lidar com desinformação e falta de clareza sobre os procedimentos a serem adotados para receber o beneficio. Após a demora de sanção, houve problemas no cadastramento digital, há relatos de que muitas vezes o sistema da caixa mandava às pessoas até a agência, o que a caixa desrecomendava em todas as declarações. Isso considerando as pessoas que conseguem ter acesso ao sistema online (com celular e internet) o que para os desempregados não é nada fácil.

Depois muitas pessoas não conseguiam fazer o cadastro por conta de irregularidades nos CPFs, filas se formaram para regularização da situação do documento para só depois surgir a sugestão de liberar o documento para o recebimento do auxílio. Quem conseguiu se cadastrar ainda relata permanecer com o cadastro “em análise” sem previsão de uma resposta ou um retorno sobre problemas no cadastro.

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A situação ficou ainda mais evidente a partir da abertura para saques nas agências da caixa que iniciou na segunda-feira (27/04). O saque deveria ser feito conforme calendário que considera a data de nascimento do beneficiário. Nesses dias o que temos isto por todo o Brasil são filas enormes, com as pessoas aglomeradas, em frente às agências da caixa e sem perspectiva atendimento.

Hoje (29/04) foi o terceiro dia de fias para o saque em todo o Brasil. Alguns esperaram na chuva, no sol e até mesmo dentro de um alagamento. Aglomerados e sem máscara, muitos dentro do grupo de risco nas filas colocando suas vidas em risco. As dificuldades persistem quando as pessoas tentam atendimento nos canais virtuais fornecidos pela caixa econômica como no aplicativo, telefone 111 e site: https://caixanoticias.caixa.gov.br/.

Segunda a caixa só os que teriam o direito ao saque deveriam se dirigir a agência, mas a realidade é que muitos têm pendências que não conseguem resolver de forma virtual e assim muito mais gente se dirige até às agências. Sem ter sua dúvida atendida e muito menos ver o dinheiro para poder comprar o mínimo para a sobrevivência, as pessoas têm optado por passar a noite em filas na esperança de resolver sua situação. A caixa apenas declara que a maioria não deveria estar nas filas, pois procura outros serviços que não o de saque no dia correspondente ao seu. . Diante da impossibilidade de receber informações o que a instituição espera que a população que precisa comer faça. Culpabilizar as pessoas individualmente por um problema de organização e estrutura não parece uma medida compatível com o tamanho do problema.

Segundo dados do Dataprev, já foram analisados 92,8 milhões de CPFs, destes só 50,3 milhões (cerca de 54%) foram considerados aptos para receber o auxílio. Ainda faltariam analisar 5,2 milhões de pessoas que se inscreveram pelo site ou aplicativo. Os que tiveram o auxílio negado ainda tentam recorrer. Clientes que procuram resolver outras questões com a caixa como pausa nos financiamentos em atraso e carência para financiamentos de imóveis também tem encontrado dificuldade em acessar os benefícios.

As dificuldades de operacionalizar uma medida, que sequer dá conta das necessidades básicas de alimentação, estão demonstrando a situação de miserabilidade que milhares de trabalhadores brasileiros se encontram, e que está sendo muito agravada pela pandemia. Sem perspectiva, pois sem medidas sérias para combater essa situação sendo adotas pelo governo, os trabalhadores colocam suas vidas em risco para receber o mínimo. Para além de problemas técnicos e falta de estrutura, há um descaso e ausência de projeto para garantir a sobrevivência de grande parte da população brasileira e uma retoma menos lento da economia pós pandemia. Faz-se urgente discutir um projeto que de fato garanta uma renda mínima para todos, e se o presidente afirma que ele não tem como fazer nada1, é preciso mostrar que muita coisa pode ser feita.

1 Em afirmação, no dia de ontem (28/04) em relação às mortes por Covid no Brasil que ultrapassaram os 5 mil, Bolsonaro afirmou: “E daí? Lamento. Quer que eu faça o quê? Eu sou Messias, mas não faço milagre​”.

 

 

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