Brasília/2016 - O deputado Jair Bolsonaro discute com a deputada Maria do Rosário durante comissão geral, no plenário da Câmara dos Deputados, que discute a violência contra mulheres e meninas, a cultura do estupro, o enfrentamento à impunidade e políticas públicas de prevenção, proteção e atendimento às vítimas no Brasil. (Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil)

[Opinião] Bolsonaro tenta enganar população ao mentir sobre taxa de desemprego

Foto: Jair Bolsonaro em sessão da Câmara dos Deputados que discute violência contra mulheres; Brasília/DF, 2016; por Marcelo Camargo/Agência Brasil

Maria Alice de Carvalho * – Redação UàE – 03/04/2019

Na última sexta-feira, 29 de março, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) publicou os dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (Pnad) Contínua Mensal. A pesquisa mostrou que no último trimestre móvel, encerrado em fevereiro, a taxa de desemprego no Brasil aumentou, a 12,4%.

Além disso, os dados da Pnad mostraram que a população subutilizada – desempregados, trabalhadores que cumprem menos de 40 horas semanais e aqueles disponíveis para trabalhar porém que não conseguem procurar emprego -, chegou ao recorde de 27,9 milhões de pessoas. Dentre os que desistiram de procurar emprego, encontra-se 4,9 milhões da população.

Diante da divulgação desses resultados, o presidente Jair Bolsonaro manifestou-se nos últimos dias alegando que o método de pesquisa do IBGE é ineficaz e que não é capaz de abarcar a realidade vivida pela população brasileira, gerando assim dados falsos.

Em sua visita à Israel, Bolsonaro em pronunciamento tentou convencer o país de que o mercado de trabalho brasileiro está a todo vapor. De acordo com o presidente “É uma coisa que não mede a realidade [o método de pesquisa do IBGE]. Parecem índices que são feitos para enganar a população”.

Na última segunda-feira, 01 de abril, o presidente voltou a discursar sobre a taxa de desemprego no Brasil e os dados divulgados pelo IBGE, em entrevista à TV Record. Com total desconhecimento sobre a metodologia do instituto e utilizando de argumentos sem propriedade alguma, o presidente tenta mascarar a realidade enfrentada pela população brasileira em busca de uma renda mínima para sobreviver.

“Como é feita hoje em dia a taxa? Leva-se em conta quem está procurando emprego. Quem não procura emprego, não está desempregado. (…) Então, quando há uma pequena melhora, essas pessoas que não estavam procurando emprego, procuram, e, quando procuram e não acham, aumenta a taxa de desemprego. É uma coisa que não mede a realidade. Parecem índices que são feitos para enganar a população”, afirmou o presidente, ao tentar convencer a população de que o aumento do desemprego no país é, curiosamente, resultado de uma melhora do mercado de trabalho no país.

Porém, a realidade brasileira não resulta dos discursos falaciosos do atual presidente e, inclusive, informa a população cotidianamente da miséria e falta do mínimo para sobreviver que esta enfrenta.

Ao mesmo tempo em que o presidente diz que os índices do IBGE são feitos para enganar a população, 15.000 pessoas enfrentaram horas de fila e dormiram ao relento no Vale do Anhangabaú (SP) para tentar ao menos uma entrevista de emprego em disputa pelas 8.000 vagas oferecidas, com carteira assinada, no Mutirão do Emprego.

Uma multidão que se sacrificou para não ganhar mais que 1.500 reais por mês, dentre os quais estavam pós-graduados e aqueles que sequer conseguiram finalizar o ensino médio, por conta de suas já miseráveis condições de vida.

Em matéria publicada pelo jornal El País, trabalhadores que precisaram se sujeitar a dormir em uma fila, no centro de São Paulo nesses três dias de processo seletivo, relataram:

“As contas e a barriga não podem esperar”, Maria José, 50 anos de idade.

“Passei 14 horas na fila na terça”, Carlos Peinado, 61 anos. A procura de uma vaga de motorista após três meses desempregado.

“Passei quase a semana inteira aqui”, Dayane do Amor Divino, 26 anos de idade. Após esperar oito horas para pegar uma senha, voltar três dias depois para entrevista e ser encaminhada para processo seletivo em uma grande rede de supermercados.

É na luta cotidiana da classe trabalhadora que a realidade é medida. E isso Bolsonaro não pode fraudar ou tentar esconder. É só olhar para a história de nossa classe, para as ruas e para nossas cicatrizes que ficará claro quem está tentando enganar a população e construir uma ficção da realidade.

O presidente se pronunciou na última segunda-feira, alegando que “Fui muito criticado, e volto a repetir: não interessam as críticas. Eu tenho de falar a verdade”.

Pois, diante dessas tentativas de falsificar nossa história, toda crítica ainda é pouca ao presidente Bolsonaro. E diferente de como este alega, elas interessam e muito.

Quanto a falar a verdade, o presidente é convidado então a olhar para a realidade da classe trabalhadora em nosso país e no mundo, pois é ali que a verdade encontra sua mais pura expressão, não em seus discursos estapafúrdios.

*O texto é de inteira responsabilidade da autora e pode não refletir a opinião do Jornal.

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