[Opinião] DCE S/A

José Braga* – Redação UàE – 27/09/2017

Um DCE que não passa em salas. Que não vai interromper sua aula. Um DCE que não vai te entregar panfletos. Um DCE que vai defender as parcerias público-privadas. Afinal, nesta crise as empresas podem ajudar. Um DCE que vai estabelecer relação com as empresas.

A eleição para a diretoria do Diretório Central dos Estudantes (DCE 2017-2018) ocorre nos próximos dias. Lendo os programas das chapas e assistindo os debates, algo me chamou a atenção: nesta disputa circulam ideias, como algumas das ilustradas acima, de que o DCE é um mero gestor de demandas dos estudantes.

Estas ideias estão consolidadas principalmente na Chapa 3 – “Z3RO”. E também na chapa 4 – “Pense Diferente”, embora esta chapa por seu vínculo aberto com a reitoria esteja, no momento, enfraquecida. A Z3RO diz sobre si mesma que ela seria a chapa de mudança.

Ironicamente suas propostas são exatamente aquelas que nada mudam na Universidade. Administrar os riscos, aproveitar as oportunidades, realizar processos e produtos que trazem pequenas melhorias, pontuais, laterais, inovar, empreender.

O que está contido na afirmação deste discurso é que o DCE pode ser tratado desta forma exatamente porque ele não tem muito a fazer. A Universidade que vivemos é esta e ela não precisa de mudanças – apenas de melhorias nos pequenos incômodos. Ela precisa ser mais bem gerida, ter uma melhor alocação dos recursos, ter uma ainda maior relação com o empresariado (porque este sim sabe o que é o bom, sic).

Nós precisamos apenas é de mais eficiência. De mais inovação. De mais empreendedorismo. E estas chapas estarão lá, para garantir efetivamente que nada mude e cada estudante possa seguir sua vida. Mas, eles não se preocupam com as “causas sociais”? Claro que sim, e para os “menos favorecidos” a relação com as empresas é a solução. Fundo voluntário para a permanência com o selo de empresa amiga, propõe a Z3RO; Parcerias público-privadas propõem as duas; Gestão inteligente na alocação de recursos, dizem. Isto basta. Isto resolve. E todos poderão viver esta Universidade – a universidade da inovação, do empreendedorismo, da eficiência.

É a Universidade LTDa. E ao DCE caberia azeitar os parafusos para que ela siga assim. Para que todos possam vivê-la assim sem percalços. O DCE S/A. O DCE empreendedor social.

A lógica de seus programas nada mais é do que o fundamento atual da proposição ética dos empresários-empreendedores. Meu ponto aqui não é apenas de realizar esta localização. O que me chama a atenção nestas ideias é que o que elas propõem é muito pouco.

A Universidade pode ser outra coisa. A Universidade pode ser, sim, a instituição que bota milhares de pessoas se debruçando num esforço intelectual para responder aos grandes dilemas do povo deste país. A Universidade pode, sim, pode ter sim uma formação de altíssimo nível voltada para as grandes questões. A Universidade pode sim propor isso a todos os estudantes. A vida na universidade pode ser diferente. E quando aceitamos que ela possa ser apenas o espaço de reafirmação do que está dado, o que estamos dizendo para as milhões de pessoas que vivem nesse país? Isto não é muito pouco para Universidade?

Isto não é muito pouco para nós?

 

*O texto é de inteira responsabilidade do autor e pode não refletir a opinião do Jornal.

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